Até Você Aparecer

01

“ Eu espero que algum dia consiga sair daqui
Mesmo se demorar a noite toda  ou cem anos.

       — Billie Eilish - Lovely Feat Khalid”

                       GABRIELA

Estava tendo uma boa noite de sono.
Fazia tempo que não me sentia relaxada desse jeito.
Mas meus olhos se abriram no mesmo instante que gritos ecoaram em meus ouvidos.
Era minha mãe, gritando novamente.
Todas as noites eram assim.
Ela discutia com Bob e acordava a casa toda.
Mas essa noite era diferente.
Havia barulhos de pratos quebrando, armários caindo e costelas quebrando.

— Os Próximos serão seus filhos, sua vagabunda – Berrou Bob.

Nervosa e com medo, me levantei rapidamente e fui a procura de luz.
Guilherme estava sentado puxando os joelhos para si, com medo.

— Hey, Gui – Digo me sentado em sua frente fazendo-o olhar para mim.
Suas mãos estavam tremendo e ele respirava fundo.

— Estou com medo, Gabi. Ele subirá e sobrará para nós – Ele gaguejou.

— Não vai acontecer nada, vamos sair daqui agora!!!

Me levanto e pego duas bolsas que estavam em cima do guarda roupa.
Abro todas as portas e todas as gavetas.

— Venha, se troque. Coloque roupas de frio – Ordeno e o mesmo faz.
Coloco algumas roupas minhas e deixo uma troca para vestir.
Gui faz o mesmo. Se trocou e arrumou suas roupas na bolsa.
Coloco minha roupa rapidamente e os barulhos lá embaixo ainda continuam.
Respiro fundo e vou até minha escrivaninha e pego nossos documentos, meu celular e um dinheiro que estava juntando do trabalho da lanchonete.

Assim que estavamos prontos.
Saímos pela janela devagar.
Jogo as duas bolsas no chão de grama e pulo rapidamente.
Me recompondo e espero Gui pular.
Não era tão alto, e Gui é uma atleta e tanto para uma criança.

Pegamos nossas coisas e saímos correndo o mais rápido possível.
Passando por todo aquele mato.
Morar em cidade pequeno é isso. Tudo pequeno e nada ao redor.

— Não podemos fugir assim – Diz Guilherme – O que a mamãe vai achar?

— Gui!! Ela te bate na maioria do tempo. E Bob, ele pode até nos matar, você sabe disso – Digo parando e olhando para seu rosto – Meu dever é proteger você.

— Você também deveria se proteger. Ele já fez muito mal á você – Ele abaixa a cabeça por um momento.

— Mas eu sou crescida, sei lidar com isso – Minto.
Na verdade não sei lidar com isso a um bom tempo.
O que Bob fez comigo é nojento e repugnante.
Não sou a mesma pessoa depois do que ele me faz passar. Da humilhação e da dor.
Ainda sinto sua voz em meu ouvido dizendo “ Você merece isso, por me desrespeitar. Você gosta da punição. Gosta da dor e gosta de ser minha putinha ”

A verdade é que não, Bob, eu não gostava. Eu odiava o tempo todo. E me sinto nojenta o tempo todo.

— Agora temos que ir rápido, temos que chegar na rodoviária o quanto antes – Digo puxando sua mão e corremos pela escuridão.
Fugindo daquela que era nossa mãe.

                             ( .........)

Depois de comprarmos nossas passagens para With City.
Entramos no ônibus e nos acomodamos.
Gui conseguiu dormir e descansar.
Eu não conseguia naquele momento.
Pensamentos de minha vida naquela casa passaram pela minha cabeça.
De quando minha mãe me deu dois tapas na cara dizendo que estava olhando estranho para Bob.
Ou de quando ela me jogou para cima de seus amigos nojentos.
Dizendo “ Você precisa dele, Gabi. Aquele Trevor nunca te fará mulher”