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                          HELENA

{ Um ano atrás }

Não, isso não pode ter acontecido. Houve um engano, não é o meu filho. Não é meu Simon – Grito nos rostos dos médicos.
Dos médicos que disseram que meu Simon foi atropelado por uma moto e não resistiu.
Eles estavam falando merda.
Isso não aconteceu, meu Simon, meu filho está na escola.
Meu marido pode comprovar.
Ele foi ver o corpo da criança e a qualquer hora ele vai aparecer aqui e dizer que não é o Simon naquela mesa de necrotério. Que foi um horrível engano.
Mas quando Rodrigo apareceu, seu olhar entregou.
Meus olhos com lágrimas entregou.
Não podia ser meu filho, mas era ele.
Era meu pequeno Simon.

— Me diga que não é ele por favor – Digo aos prantos e Rodrigo me abraça com força – Não, não pode ser ele. Rodrigo por favor.

E todo dia foi assim, uma dor horrível dentro do meu coração.
No velório, vendo meu filho naquele caixão.... Eu não sabia o que fazer.
De quando entrava em seu quarto e sentia ele gelado, sem vida. Eu fui morrendo aos poucos.
Rodrigo não sabe o que fazer desde então. Ele me ajuda ao máximo, e está tão mal quanto eu.
Perdemos nosso único filho, e estou morrendo de medo de nos perdemos também.

                            (...........)

       { Tempos atuais }

Respiro fundo. Olhando para o teto do quarto. Não dormi a noite inteira pensando nesses meninos em casa.
Rodrigo sabe exatamente o que quero. Ele está com medo tanto quanto eu.
É o certo a fazer, eu sinto.
Foi Deus que colocou esses dois em nossas vidas. Para dar sentido e nos fazer seguinte em frente.
Mesmo passando um ano, não conseguimos superar a morte de Simon, e acho que nunca vamos.
Mas esses dois, eles vieram nos salvar.

— No que está pensando? – Rodrigo pergunta acordando aos poucos.

— Nesses dois. Eles não podem de forma alguma voltar para a casa deles – Respondo ainda olhando para o teto – Não podemos permitir isso, Rodrigo.

— Mas o que você pensa em fazer? E se a mãe procurar por eles?

— Nós não deixaremos ela leva-los – Digo me levantando – Eu não sei explicar. Mas sinto que els foram feitos para ficarem aqui, conosco.

— Como uma família?

— Exatamente como uma família – Respiro fundo – Eles já sofreram demais.

— Isso é impossível, Helena – Rodrigo se levanta rapidamente – Não se pode adotar dois jovens assim do nada.

— Ninguém vai saber que eles foram adotados do nada. Tenho amigos na cidade. Alguns conseguem identidade nova para os dois – Digo seguindo Rodrigo até o banheiro – Você sabe que podemos mudar a vida desses dois. Só por favor, me apoie.

— Isso é loucura, Helena!!!

— Loucura é deixar que dois adolescentes voltam para um lar aonde são machucados brutalmente – Digo ríspida – Você como sabe o quanto isso dói.

Eu sei que peguei pesado com Rodrigo. Falar sobre Simon nesse momento não era a melhor das intenções.

— Tenha mente aberta, Rodrigo – Digo me virando – Simon não iria querer isso.

                           ( .........)

Termino de fazer os ovos e bacon. Quando Gabriela e Guilherme acordaram. Já com suas roupas no corpo.

— Bom dia – Digo colocando os pratos na mesa.

— Bom dia, senhorita Helena – Guilherme responde sorrindo.

Gabriela não abre um sorriso e pela olheiras, deve ter dormido mal essa noite.
Meu coração se afunda só de saber o que essa pobre menina passou nas mãos daquelas pessoas. 
Ela não merece isso.

— Sentem-se. Precisam comer alguma coisa – Digo me sentando e eles me acompanham.

— Esse é o melhor bacon de todos – Guilherme diz depois de dar uma mordida.

— Muito obrigada, querido – Sorrio e do uma piscadinha para ele – Está gostoso, Gabriela?

— Sim, está tudo perfeito – Ela reponde sorrindo torto – Obrigada. Não precisava.

Rodrigo aparece na cozinha com uma cara melhor.
Espero que ele não tenha ficado bravo comigo, eu não queria fazê-lo sofrer. Só queria que ele entendesse que o futuro deles depende de nós e o nosso depende deles.

— Falei com Walter – Diz Rodrigo pegando um bacon e comendo.

— O que?

— O assunto que você me abordou – Ele responde tomando um gole de café – Ele disse que pode ajudar. Eu disse as condições e ele concordou, já que devia um favor a nós.

Meus olhos encheram de lágrimas.
Eu sempre soube que tinha o melhor marido de todo o mundo, não é atoa que me casei com ele no mesmo instante.

— Crianças, queremos falar algo sério com vocês – Digo respirando fundo.

                              (.......)

                        GABRIELA

Não sei como aconteceu, como concordou com isso, mas eu apenas fiz o que achei que seria certo.
Começar uma vida nova com pessoas boas que só querem meu bem e do Guilherme.
Eles fizeram coisas incríveis em um dia do que minha mãe a vida toda.
A verdade é que preciso deles.
Tenho 17 anos e ainda não tenho nada para oferecer á Gui. E eles tem... Amor , carinho e uma adolescência boa.

— Você está pronta para tirar o castanho e se transformar em outra pessoa? – Helena perguntou preocupada.

— Minha vida sendo Gabriela monteiro acabou, preciso virar outra pessoa agora – Respondo sorrindo amigável.

— Tudo bem, querida – Ela diz separando meu cabelo – Você ficará linda.

                             (.........)

Eu me olhava no espelho e via outra pessoa, realmente. Estava loira e muito bonita. Com o cabelo repicado e bem hidratado.

Combinamos de não pintar o cabelo de Gui e que ele deixaria crescer.
Quando ele me viu, seus olhos se arregalaram e ele sorrio bobo.

— Você está linda, Gabi – Ele disse me abraçando.

— Obrigada, Gui – Digo beijando o topo de sua cabeça.

— Está pronta? – Um homem que estava na sala pergunta. Não tinha reparado nele. O mesmo segurava uma câmera na mão.
Olho para Helena que sorri e diz:

— Você precisa de uma identidade nova. Com nome novo e foto nova.

Concordo e vou para o painel que ele fizeram no meio da sala e paro, olhando para a câmera esperando o clique. E quando ele veio, eu sabia que não era mais Gabriela.

— Um nome específico que você acha bonito, Gabi? – Rodrigo pergunta olhando a foto na câmera.

— Ah, eu não sei bem....

— Um que você se sinta bem, será seu nome a partir de agora – Helena abraçou Gui e me observava.

— Eu acho que... Melanie.. Mel – Respondo sorrindo meio cabisbaixa.

— Mel combina perfeitamente com você – Rodrigo elogia. E eu sorrio.
Me sinto tão a vontade com eles que consigo ver uma família feliz e sem problemas.
Essa era a minha família agora. Minha vida nova.
Eu mereço um recomeço.
Não existe mais aquela Gabriela Monteiro que vivia apanhando e apanhando todos os dias.
Agora eu sou Melanie Hastings.

Até Você AparecerOnde histórias criam vida. Descubra agora