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                        GABRIELA

Eu me chamo Guilherme – Meu irmão responde – E essa é minha irmã, Gabriela.

Sorrio de lado e imediatamente abaixo a cabeça.
O que estou fazendo aqui, nessa casa com esses estranhos.

— Eu sou Rodrigo – O homem alto de cabelos preto, responde – E essa mulher magnífica é a Helena.

A mulher de cabelos loiros curto, sorri e beija o rosto de seu marido.
Lembranças de quando minha mãe me amava passou pela minha cabeça. De quando meu pai estava vivo, tudo era perfeito....
Helena vai até o fogão e coloca um canecão para esquentar.

— Sentem. O chocolate quente está esquentando – Ela diz sorrindo amigável.

Guilherme foi o primeiro a se sentar. Ele parece tão confortável com os dois. Me sinto mais relaxada de saber que ele está bem, que não está com medo.
Me sento ao seu lado e o abraço para esquentar, enquanto o chocolate não sai.

— Então, aonde vocês moram? – Rodrigo pergunta se sentando de frente para nós – Podemos leva-los de volta para sua casa.

— Ah, moramos longe. Não precisa nos levar – Respondo nervosa.

— Vocês não podem andar por ai sozinhos, nessa chuva e escuridão – Helena diz, pegando o canecão e despejando o chocolate em duas canecas – Passem o número de seus pais, ligaremos para eles.

— Nãoo!!!

Não senti quanto elevei um pouco a voz.
Estava nervosa e apreensiva com tudo isso.
Não voltaremos para aquele lugar, prefiro morrer.

— Me desculpem – Peço de coração – Nós conseguimos nos virar. Fiquem tranquilos.

Helena me olha fundo. Tentando ler a minha mente de alguma forma.

— Querido, você pode levar Guilherme para ver seu video-game? – Ela pergunta para o marido. Que a olha estranho, mas sabendo o que a mulher deseja. Ficar sozinha comigo.

— Tenho uma coleção de jogos demais , vamos? – Ele pergunta para Gui. Que abre um sorriso enorme.

— É claro – Ele pula da cadeira. Helena entrega uma caneca para ele. E os dois saiem da cozinha, nos deixando sozinhas.
Ela se senta em minha frente e entrega a outra caneca.

Pego a caneca e assobro um pouco. Sentindo o cheiro de canela delicioso.

— Então, de quem você está fugindo? – Ela pergunta e eu perco a fala. O ar e a noção.

— Como? – Pergunto tentando disfarçar.

— Olha, eu já tentei fugir diversas vezes quando era mais nova e conheço alguém que quer o mesmo – Ela sorri e continua – Então. De algum namorado?

— Mãe e padrasto – Respondo sabendo ali, que só tenho ela a quem confiar.

— Oh – Ela responde apenas isso. Sem ter o que dizer ou pensar – Pretende voltar?

— Não. Nunca – Digo tomando enfim, um gole do chocolate.

— Porquê?

— Porquê se eu e Gui voltarmos. Eles nos mata de tanto bater – Respondo ríspida e rápida.
Meus olhos começam a encherem de lagrimas, mas contenho e fico firme.

— Eles são muitos agressivos? – Ela pergunta nervosa.

— Você não faz ideia – Respondo abaixando a cabeça – Quando fugimos, eles estavam brigando de se machurem mesmo. E Bob gritou dizendo que éramos os próximos. Não pude ficar ali, não podia deixar nada acontecer com Gui, ele é o único que me faz enxergar sentido na vida.

Ela não fala mais nada por um bom tempo. Parece perdida em seus próprios pensamentos.
Seus olhos azuis demonstram sofrimento com alguma lembrança horrível.
Sempre tive esse "Dom" de ler as pessoas e saber o que sentem apenas pelos olhos, eles dizem muito sobre a ela.

— Rodrigo, querido – Ela grita seu marido e se levanta imediatamente. Me deixando sozinha na cozinha.
Vejo os dois pela janela, na varanda. Conversando sério.
Consigo ouvir algo do tipo: 

Isso é Deus, ele colocando essas crianças em nossas vidas. Para podermos ser felizes de novo ”

O restante não consegui decifrar.
Fiquei apenas terminando meu chocolate quente, que por sinal, está muito bom.
Gui veio correndo da sala, trazendo com ele a caneca vazia e um bigode de chocolate em cima boca.

— O que será que eles estão falando? – Ele pergunta se sentando ao meu lado e me abraçando forte – Estou com medo deles nos levar para aquele lugar novamente. Não quero isso, Gabi.
Sinto meu coração apertar de tristeza.

— Não importa o que eles estiverem falando. Nunca mais voltaremos para aquele lugar, ouviu bem? – Digo beijando seu cabelo castanho – Não vou deixar que nada aconteça com você.

— E nem eu com você – Ele respondo meu abraçando ainda mais forte.

Os dois voltaram para a cozinha.
Meio inquietos.
Fico nervosa com a expressão de ambos.

— Então, eu e Rodrigo... Bem... Decidimos que vocês podem ficar aqui hoje – Helena sorri – Está chovendo muito forte lá fora, não recomendo saírem agora.

— Não precisa, ficaremos bem – Respondo me levantando rapidamente.

— Eu insisto, por favor – Ela suplica. Com os olhos marejados. A mesma pega na mão de seu marido e sorri de lado – Nós insistimos.

— Então ficaremos – Gui se pronuncia.

— Guilherme – Repreendo-o.

— Você quer cuidar de mim e eu de você. E nós dois sabemos que não podemos sair nessa chuva forte – Ele responde. Ele está certo. Apesar de ter treze anos, parece ser mais velho e mais responsável que eu. 

— Ok, ficaremos hoje.

— Ótimo, vamos procurar algumas roupas para vocês se acomodarem – Helena sorri alegremente e vá em direção a sala.

— Ela nunca esteve tão feliz assim – Rodrigo sorri abaixando a cabeça.
Parecia pensativo e com uma enorme tristeza.

                              (.........)
 
                       GUILHERME

Depois que tomei banho, Helena me esperava na porta.
Ela me levou a um quarto estranho.
Um quarto de menino, estranho mas bem bonito.
Cheio de poster de carros na parede.
Alguns eram da  fórmula 1.
Ela procurava algo para eu vestir e enquanto isso, eu olhava o quarto.
Na cabeceira da cama havia um porta-retrato.
Era Helena, Rodrigo e um garoto que tinha mais ou menos meu tamanho.
Ele tinha cabelos loiros e cumpridos.
Parecia muito com Helena.

— Quem é esse? – Pergunto curioso.

— Ah – Ela diz nervosa. Veio em minha direção e pegou o quadro na mão – Esse é Simon, meu filho.

— E aonde ele está agora?

— Não está mais entre nós – Ela responde parecendo estar longe.

— Eu sinto muito mesmo – Digo abaixando a cabeça.

— Está tudo bem, querido – Ela sorri de lado. Seus olhos se encheram de lágrimas. Mas ainda sim ela sorria  – Ele está em minha memória e coração. Agora venha, consegui achar algo para você vestir.

Até Você AparecerOnde histórias criam vida. Descubra agora