• Capítulo 06 •

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• Major •

Bolado: Como foi lá, parceiro? - Se senta na cadeira da minha frente e eu olho pra cara dele. Ele tira um cigarro do bolso e pega o meu isqueiro, que está sem cima da mesa pra acender a parada dele.

Estamos no pátio tomando o banho de sol, que acaba em 10 minutos e eu estou sentado no canto em uma mesa sozinho. Pelo menos até ele chegar. Nada contra o Bolado não, tá ligado. Ele foi o que mais me fortaleceu aqui dentro, mas não gosto de pagar muita intimidade com ninguém não. Ele lá e eu aqui.

Major: Normal. - Dou de ombros e levo a mão na boca quando tusso um pouco.

Minha voz está rouca demais, isso que da fumar 3 maços de cigarro por dia. Sinceramente nem sei como eu tô vivo ainda, porque o meu pulmão deve estar todo fudido já. Perdi uns vinte anos de vida de uns cinco anos pra cá.

Bolado: Ela vai te tirar daqui? - Não respondo ele, continuando a tragar o meu cigarro.

Penso no que aconteceu há algumas horas, lembrando daquela porra de mulher querendo se crescer pra cima de mim. Quando fui puxar a ficha da Brenda, não achei quase nada sobre o seu passado, é como se ela só tivesse no mapa de uns anos pra cá e vou negar não, isso me interessou pra caraí.

Não é da minha conta, mas sei que aquela mina tá escondendo alguma parada, disso eu tenho certeza. Sou curioso e teimoso, características que se dão muito bem juntas. Se eu não fosse bandido poderia me alistar fácil no FBI, porque o que eu quero eu descubro, fácil fácil.

Fazer ela se assustar e desistir era o meu primeiro plano, mas agora? Pô, agora eu quero ir atrás do que eu quero saber, mesmo não sendo da minha conta as paradas dela.

Porque essa obsessão? Não sei, talvez tédio.

As coisas andam muito calmas nessa merda de zoológico, então eu quero algum passatempo. Me meter e cavucar o passado de alguém parece interessante.

Agora que eu não posso matar o x9 e esses animais não tão mais brigando por tudo, to num tédio fudido aqui. E na moral, eu posso reclamar, reclamar, reclamar, mas não largo de mão. Eu preciso estar todo o momento fazendo alguma coisa se não parece que eu vou surtar.

: Ei... - Bate de leve no meu ombro e eu levanto a cabeça.

Vejo um dos cana olhando pra frente com as mãos na frente do corpo, parado do meu lado. Ele está tentando disfarçar, mas de longe eu já vejo curioso olhando pra gente. Nisso de curioso o Bolado entra junto, porque não para de nós encarar.

Franzo a testa pra ele e o mesmo tira um papelzinho do bolso, me dando logo em seguida. Deixo o cigarro na boca e abro o papel, passando meus olhos por ele.

Olho um número que nunca tinha visto e fico sem entender porra nenhuma.

: Seu pai mandou. - Encaro ele na hora. - Liga pra esse número, ele disse que é urgente. - Sussurra ainda olhando para frente. 

Suspiro voltando a olhar para o número e guardo o mesmo no bolso da bermuda.

: Pode falar pro TRK que eu nunca fiz nada com você? - Finalmente fala algo me olhando nos olhos. - Ele está ameaçando a minha mulher e eu... - Para de falar quando eu começo a rir da cara dele, tirando o cigarro da boca.

Ala, esse menor só pode tá tirando com a minha cara, pô.

Major: Vaza daqui, parceiro. - Nego com a cabeça ainda sorrindo de lado.

Ele sai correndo rapidinho dali e eu solto mais uma risada baixa. Seguido os cana pede pra mim falar pro coroa que eles me tratam benzão, porque tá ligado né, quem tem cu tem medo.

TKR pode não ser o pai mais atencioso e exemplar do mundo, mas ele não deixa ninguém tocar um dedo em mim. O filhinho de ouro dele. Fui torturado só uma vez aqui nessa merda, e o bagulho ficou sinistro. Nem sei direito o que ele fez, mas sei que no dia seguinte os cana passava por mim de cabeça baixa e o cara que me torturou nunca mais se ouviu falar.

Não sou ingrato, tá ligado, porque naquela época eu tinha acabado de ser preso, e eu precisei dessa força dele mermo, mas hoje me irrita pra caralho. Porra, eu construí meu respeito aqui dentro e odeio que me associem a ele e que alguns só me respeitem por medo do tão temido TKR.

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