• Capítulo 07 •

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• Brenda •

Assim que fecho a porta do apartamento, já vou tirando os saltos e o terno enquanto caminho até o meu quarto, deixando minhas roupas no cesto de roupa suja pelo caminho. Eu estou exausta, com dor de cabeça, com dor no pé, e totalmente estressada!

Sinceramente, eu ainda não sei o que eu faço naquela empresa. Eu sei do meu potencial, eu sei da minha formação e eu sei que sou uma advogada criminalista do caralho. Mas eles nem se importam com isso por eu ser mulher.

Eles me usam como marketing em videozinhos de propaganda para dizer "Olha, temos uma mulher! Não somos machistas", mas no fim esse é o segundo caso grande que eu pego desde que entrei nessa empresa de merda. Antes era só defesa de alguém que não pagou o aluguel, ou processinhos ridículos. Não diminuindo esses trabalhos, mas não foi por causa deles que eu fiz faculdade.

Se eles se quer soubessem da metade que eu já passei nessa vida, nunca duvidariam do meu potencial. Ou talvez ainda sim, porque não importa o que eu faça, eu vou continuar sendo incompetente por ser mulher!

Está rolando um boato na empresa que vai trocar o gerente do meu setor e eu estou rezando para que seja verdade. Não aguento mais aquele filho da puta machista do caralho. Só porque o nomearam como gerente, ele vive mandando e destratando todo mundo por lá. Não sou a única de saco cheio.

Mas óbvio que falo essas coisa só em pensamento mesmo, porque se eu falar na cara dele... Nossa, perco o emprego em dois segundos, e sinceramente, tô precisamos desse dinheiro. Muito! Além de precisar me sustentar, tenho minha filha Clarisse, que só tem 6 anos e é a minha razão de tudo. Meus pensamentos giram em torno daquela menina e o que eu posso fazer para dar tudo o que ela precisa.

Dedico minha vida aquela garota e sempre penso nela antes de fazer algo, afinal, eu e a Neide somos a única família dela.

Depois de um banho bem quente e demorado, ponho meu pijama e sigo para sala. Me jogo no sofá e pego o controle para ver o que está passando na TV, aproveitando o momento de paz e silêncio.

Neide e Clarisse saíram para a pracinha aqui na frente do prédio, então o apartamento está em total silêncio. Moramos só nos três aqui nesse apartamentinho, então para ficar uma bagunça e sufocante é rapidinho. Tudo bem, ele não é tão pequeno, é razoável eu diria, além de ser o mais localizado possível que o meu bolso permitiu. Ele tem dois quartos, uma suíte, um banheiro, sala de estar com um tamanho bom, cozinha e uma sacada minúscula que da a vista para o grande Rio de Janeiro.

Para ser sincera, acho que já está tarde para a Clarisse estar na rua, essa zona que moramos é do lado da Penha, que mesmo sendo o morro do meu irmão e eu sabendo que ele nunca deixaria qualquer maldade com a gente passar batido, eu não quero dar sorte ao azar. Por aqui continua não sendo seguro para ficar até essa hora...

Corto minha linha de raciocínio ouvindo a porta da frente sendo destrancada e um furacãozinho loiro entrando.

Clarisse: Mamãe! - Grita chamando a minha atenção e quando eu vejo, ela já está se jogando no meu colo.

Neide: Desculpa a demora, ela queria muito comer sorvete e a fila estava enorme. - Se explica enquanto deixa algumas sacolas na mesa de jantar. - Passei na padaria aqui no lado e comprei um sonho de doce de leite que eu sei que a senhora adora! - Já abro um sorrisão, babando por aquele sonho.

Brenda: Eu estou de pijaminha de panda e jogada no sofá, Neide. Acho que temos intimidade para você não me chamar de senhora. - Brinco e ela ri.

Neide trabalhava para a minha família a anos, desde que eu sou só um bebê praticamente. Ela me criou. E quando eu decidi vir de São Paulo para o Rio há alguns anos, ela quis me acompanhar... não me deu escolha, na verdade, e eu claro que não reclamei.

A comida da Neide é a melhor, além dela ser como uma senhorinha fofa que alegra a vida de qualquer um!

Neide: Eu vou lá fazer o jantar... e olha, senhora. - Ela sorri, destacando a palavra. - Você está com um corpo lindo para alguém que paga e nem pisa na academia. - Brinca e eu faço uma falsa cara de ofendida, fazendo ela rir.

Neide vai saindo em direção a cozinha com uma sacola grande de compras e eu me viro um pouco no sofá pra ficar de frente pra ela.

Brenda: Vai rindo Neide, mas lembra que eu que pago o seu salário, ein! Te cuida. - Grito para a entrada da cozinha, ainda ouvindo a sua risada agora mais alta.

Vivendo AvançadoOnde histórias criam vida. Descubra agora