Capítulo 5 - Verdade

321 22 3
                                    

Sexta-feira, 9:45PM.

Cebola

Sentei na penúltima carteira da fileira do meio, logo atrás do Xaveco e na frente do Cascão. Geralmente esse só colocava a cadeira do meu lado e copiava as respostas; mas a próxima aula era uma fodida prova de história, e nem a Cascuda 'tava de boa.

— Careca, você vai me dar uma força nessa, né? — o Cascão sussurrou atrás de mim logo que o professor entrou na sala.

Só concordei com a cabeça e puxei o capuz do agasalho cinza sobre a cabeça. Ultimamente 'tava fazendo um frio lascado aqui no limoeiro, e era como se o clima refletisse meu mau humor.

Mas também, depois que ela voltou, não respondeu uma única mensagem minha, porra. Eu sei que ela 'tá puta. E com razão.

Mas eu não fiz merda nenhuma.

A única merda de que posso ser culpado é não ter ficado sóbrio o suficiente pra levar a Mônica pra um lugar mais adequado naquela noite. Mas porra, como eu vou saber quem foi o filho da puta que gravou a gente transando?

Era uma festa na casa do Toni, a gente 'tava louco, e eu nem 'tava esperando por aquilo. Ela só me agarrou no corredor e começou a se esfregar em mim. Eu nem pensei muito, né, só deu tempo de abrir a porta do primeiro quarto que eu achei e ainda tive consciência suficiente pra trancar.

Era a primeira vez dela, e já fazia semanas que ela 'tava me dando indireta de que queria alguma coisa mais. Parecia que tudo 'tava finalmente se acertando entre a gente.

Então quando rolou eu fui pro céu. Porra, eu sou louco na mina desde os 7 anos, levar ela pra cama parecia quase impossível.

Aí no dia seguinte tinha um vídeo da Mônica de 4 rodando nos grupos do Limoeiro.

Não deu pra ver direito, o quarto 'tava escuro, a câmera não era profissional, e mostrava mais minha bunda do que qualquer outra coisa. Mas sabe como é. O cara fica com fama de fodão e a mina com fama de rodada.

Eu até tentei explicar pra ela que eu não tinha nada a ver com aquilo, mas o olhar que ela me deu me calou na hora.

"Fica longe de mim, eu 'tô com nojo de você"

E aquilo foi pior que qualquer surra que ela poderia ter me dado.

Ajeitei o celular no bolso do moletom, espero que dessa vez o Cascão não seja pego colando.

~*

— Certeza que eu bombei. — reclamou o Xaveco enquanto a gente saía da sala depois de duas aulas de prova.

Era hora do intervalo, então a gente 'tava procurando um lugar vazio pra poder sentar em paz sem sentir o cheiro de maconha que exalava por metade do pátio da escola. O Cascão devia estar se pegando com a Cassandra por algum canto.

— Lógico que bombou, não parava de babar na bunda da Denise. — ri enquanto subia numa mureta e sentava lá mesmo.

— Ah, meu, vai dizer que você não reparou?

Nem tinha como não reparar. Ela 'tava com uma saia curta cheia de pregas, e não parava de se inclinar na própria mesa, sentada em cima das duas pernas. Pobre Xaveco que sentou atrás dela, o menino saiu da sala andando como se estivesse assado.

— Justamente quem eu 'tava querendo ver!

Revirei os olhos quando ouvi a voz do Titi mais alta do que o "normal". O cara era um pavão, não sabia não chamar atenção onde passava, mesmo já tendo repetido o último ano duas vezes. Ele 'tava acompanhado do Jerê e do Cas, que parecia mais animado que o normal.

MistakesOnde histórias criam vida. Descubra agora