DOIS: ninguém

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#OlhosDeCamomila

07.10.2018.

Havia só uma janela no quarto, larga, com vidraças empoeiradas e moldura de um alumínio fosco.

Dali, ele viu o dia adoecer: lá fora, bem acima do poste comprido e dos fios embaraçados, o céu parecia um tanto abatido, pálido com as nuvens feito hematomas, escuras e arroxeadas cobrindo um sol opaco.

O céu pareceu até um espelho de reflexo cabisbaixo e doente como Jimin.

Contrários à janela, lá do outro lado do quarto, um par de ombros amplos, cobertos por uma camisa bege de botões perolados, chocou-se contra a madeira envernizada. O trinco cedeu de primeira, rangendo e esquiando para longe de uma fechadura de parafusos frouxos. A porta bateu na parede duas vezes — a primeira fez o amontoado de chapéus de Hoseok, presos a um prego de ferro, escorregar para a ponta e a segunda fez com que caísse de vez.

Oh?

Logo, o tal par de ombros ganhou um rosto, um corpo e um nome: o rosto era distraído, o corpo era desastrado e o nome era Kim Namjoon.

Meio que tropeçou no outro corpo esticado entre a cama-beliche e o armário nos primeiros três passos para dentro do cômodo, meio que esticou as mãos com as panelas fumegantes para longe do próprio peito e meio que ficou parado no meio do quarto, bem nas pontas dos pés, esperando a comida parar de balançar dentro dos recipientes de alumínio.

Assim que a situação pareceu estabilizar, Namjoon meio que tornou o rosto distraído em um acusatório e o corpo desastrado em um tenso.

O outro, ainda sentado, retraiu-se até se tornar um montinho no chão.

— Perdão — pediu.

Após, Jimin abraçou um pouco mais os próprios joelhos, igualmente culpado e envergonhado, com braços um pouco mais firmes.

— Prometo que fiz sem querer!

Óbvio que Namjoon derreteu fácil, tão refém dos dengos e dos charmes alheios, amolecendo ambos os ombros e o coração duro de uma vez só.

Notando-se tão rendido por Jimin, ele soltou um muxoxo engraçado e enrugou o comprimento do nariz, envergonhado e cheio de nojo de si, franzindo os lábios grossinhos. A carranca derreteu entre um passo e outro em direção à mesa de canto sob a janela. Namjoon tentou atravessar o quarto ocupando-se e distraindo-se ao máximo, balançando a cabeça de um lado para o outro, alternando entre soprar o vapor acima da panela na mão direita e na mão esquerda.

Um perguntou: — Cadê o Hobi?

Namjoon pulou uma pilha de roupas sujas e emboladas no meio do caminho e, uma coleção de tropeços depois, colocou ambas as panelas fumegantes sobre a mesa estreita de granito.

Rente à parede, acima de uma toalha rosa claro de poá, tinha duas canecas com uns pares de talheres com cabos de cores sortidas, quatro pratos de cerâmica empilhados e três copos de plástico transparente no cantinho.

E o outro respondeu: — Lá na cozinha por causa do seu miojo.

Um dos copos caiu da mesa e Namjoon, logo quem derrubou, deu um pulinho no próprio lugar: — Misericórdia!

— Não sei por que ele teima tanto. Já avisei que não vou comer — Jimin fez.

O outro ergueu as duas sobrancelhas, confuso e surpreso somente por meio minuto, e ficou olhando para ele com a mente nas nuvens, em turbulência. O tempo na cabeça de Namjoon nublou de preocupação por Jimin: nuvens pesadíssimas, um sol fosco e céu em cor de chumbo.

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