I Told Sunset About You

A paixão de 1985

"Diz a lenda que o sol havia se apaixonado perdidamente pela lua, e ambos eram vistos no céu juntos antes da divisão do dia e da noite. Mas, um dia, foi decretado a separação dos dois para que pudesse haver um ciclo."

1985

- Você vai ver só!

Exclamava o moreno, enquanto quase quebrava os dedos apertando os pequenos botões do jogo.

- Ah é?!

Chishiya colocou toda a sua força naquela caixa enorme com uma tela, mas, seu esforço foi em vão, como sempre Niragi ganhou.

O platinado suspirou em desgosto, observando o mais alto rir vitorioso.
Haviam apostado dessa vez.

- E então? Vamos?

O moreno estendeu a mão para o platinado, que a agarrou fortemente.

A aposta era simples: Se Chishiya vencesse, poderia pedir o que quisesse a Niragi. Mas, se o moreno vencesse Chishiya teria que sair em um encontro com o mesmo.

Sim, daqueles encontros.

O loiro andava pelas ruas de Shibuya se questionando o porquê de Niragi querer algo tão vulgar e tão vergonhoso.

*

- Escuta você não tem vergonha?

Perguntou o moreno enquanto levava uma colher de sorvete de morango para a boca.

- De quê?

- Ah não sei, somos dois homens saindo num encontro.

Explicou sem enrolar balançando a colher em sua mão pra lá e pra cá.

- Eu acho que é a mesma coisa que um homem e uma mulher saírem, não tem diferença alguma.

Niragi mostrou entender a frase do outro, balançando a cabeça em afirmação.

Desde que conheceu Chishiya, Niragi sentia algo por ele, seu coração batia forte e o tempo todo almejava beijá-lo.
Contudo nunca tentou nada, até o dia de hoje.

Os longos cabelos loiros de Chishiya balançavam enquanto o mesmo tomava seu sorvete de baunilha sujando toda a boca como uma criança.

- Não acredito nisso.

Proferiu segurando o riso, vendo o loiro com a boca toda suja o olhar sem saber do que estava falando.

Rapidamente Niragi pegou um guardanapo em cima da mesa e se apoiou na mesma, limpando cuidadosamente os cantos da boca do platinado. Em uma breve pausa, o moreno passou a encarar os lábios alheios.

Os lábios de Chishiya eram extremamente vermelhos, nem era preciso o uso de algum cosmético. Niragi achava que tudo em seu rosto se completava da forma mais bela possível.

Seus lábios vermelhos, as sardinhas em seu rosto, seus olhos negros como o mais profundo abismo onde Niragi havia se jogado quando se apaixonou pelo platinado, seus cílios eram longos, tão longos quanto os de uma dama.

Seria facilmente confundido com uma na rua.

O moreno então voltou a se sentar, corado por pensar demais.

O mais alto conseguia naturalmente  lembrar do dia em que conheceu Chishiya no mesmo fliperama em que estavam cerca de meia hora atrás.

Ele e alguns amigos jogavam e riam de forma alta. O loiro chegou timidamente ao local, como se fosse sua primeira vez vendo um lugar como aquele.

- B-bom dia...

As palavras saíram quase de forma inaudível, apenas Niragi havia notado a presença do loiro.

- Eai loirinho, quer jogar?

A partir desse dia os dois se encontravam quase sempre no lugar.

Niragi se tornou o porto seguro de Chishiya, e aquele lugar se tornou sua segunda casa. Onde e com quem ele podia ser ele mesmo.

O moreno achava Chishiya bonito, nunca deixou de enfatizar isso. Achava sua voz bonita, seu rosto, seu corpo, seu jeito.

Era tudo lindo.

- Sabe...

O loiro começou a falar, enquanto mexia em seu sorvete derretido, chamando a atenção do moreno toda para si.

- Quando eu tô com você... Eu consigo ser eu mesmo, e me sinto muito feliz.

Murmurou acovardado.

O moreno corou ao ouvir tais palavras, aquilo o fez extremamente feliz, poderia pular de alegria se quisesse. Mas não o fez até porque estavam em público.

- Seus pais controlam muito a sua vida né?

Perguntou meio hesitante sobre ser muito invasivo, mas, já que entraram naquele assunto, deviam continuar ou mudar ele.

- Bom... Eu suponho que eles só queiram meu bem apesar de tudo

Aquele "apesar de tudo" deixou Niragi com uma pulga atrás da orelha, pensando no que acontecia entre quatro paredes, na casa do loiro.

- Você não tinha uma moto?

Questionou enquanto terminava o sorvete, realmente, Niragi tinha uma moto preta e quase sempre a usava para ir até o fliperama.

- Ela quebrou, tá na garagem parada

Respondeu meio cabisbaixo.

Chishiya não gostou nada de ver o moreno daquele jeito. Então discretamente segurou a mão do outro sobre a mesa, fazendo uma carícia rápida e logo tirando novamente.

Aquilo fez Niragi sorrir.

Terminaram seus sorvetes e o mais alto fez questão de pagar a conta dos dois, já que ele que o havia convidado.

- Você ainda quer fazer alguma coisa?

O mais baixo perguntou enquanto saíam da loja.

- Quero te mostrar um lugar.

Andaram por algumas quadras até chegar numa espécie de prédio abandonado, o lugar causava calafrios em Chishiya.

Niragi em um gesto de calmaria segurou a mão do mesmo, esta que se via gelada como a de um cadáver.

- Você confia em mim?

Perguntou o moreno.

- Confio, com todas as minhas forças.

- Então vamos?

Endagou mesmo sabendo a resposta, o loiro lentamente assentiu com a cabeça e ambos caminharam sem soltar as mãos pelos destroços do prédio, subindo as, não confiáveis, escadas até o topo daquela construção mal acabada.

Já era fim de tarde, o pôr do sol estava acontecendo e dava para ser visto muito bem de onde estavam.

- Era isso?

Perguntou sem tirar o olhar da grande luz amarelada aos poucos desaparecendo de suas visões.

- Era. Bonito não é?

- Sim... Muito bonito.

O loiro sorriu lacrimejando, nunca havia tido a oportunidade de ver algo desse tipo, e provavelmente nunca teria de novo.

Niragi segurou as mãos de Chishiya, virando o mesmo de frente para si.

- Te trouxe aqui, não só porque queria que visse. Mas também porque o pôr do sol me lembra você.

Chishiya se mostrava extremamente confuso, mas havia corado com as palavras do moreno.

- O sol é tão brilhante e bonito, ilumina tudo a sua volta. Mas ao fim do dia perde seu brilho e se esconde atrás das montanhas. Por isso me lembra você.

Explicou o de cabelos negros enquanto sorria.

*