• PRÓLOGO (Degustação)

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PRÓLOGO

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PRÓLOGO

ELENA

O CAMINHO ENTRE o grande casarão e o parque não tem iluminação. Normalmente, eu não passaria por ele tão tarde da noite. Não é que eu tenha medo ou algo do tipo, mas meu irmão arrancaria a minha cabeça; ele vive dizendo que preciso ser mais cuidadosa com a minha segurança agora que a empresa dos nossos pais está ganhando destaque na mídia, e que garotinhas como eu são alvos fáceis no mundo em que vivemos.

Aleksei se preocupa demais.

A cada passo, o som da música e das risadas vai se tornando mais distante, e me pergunto quanto tempo eu tenho até os adultos perceberem que não estou mais na festa. Considerando o nível de embriaguez dos convidados, existe uma grande chance de nem sentirem a minha falta, e é com isso que estou contando. Tenho certeza que aqueles dois escaparam na direção da alameda, mas ainda não vejo nenhum sinal deles. Ou são muito bons em se esconder, ou eu sou muito ruim em procurar.

Minhas botas de montaria afundam na neve, mas já estou acostumada o suficiente com o inverno para não escorregar e me estatelar no chão. Os álamos desfolhados rangem e crepitam por causa do vento, e seus galhos completamente irregulares não são agradáveis de se olhar — seria ótimo se as árvores não ficassem tão feias e assustadoras nessa época do ano.

Continuo em frente. Minhas luvas vermelhas estão ensopadas, o cachecol com bordados verdes e dourados não é o bastante para bloquear o frio e começo a pensar que pode não ter sido uma boa ideia sair no meio das comemorações de ano novo. E se eu acabar morrendo congelada? Seria um péssimo começo de ano para toda a família.

Olho para trás. Minha casa, vista à distância, não parece tão grandiosa apesar de todas as lâmpadas coloridas que a fazem se destacar no meio da escuridão do bosque. Consigo ver algumas silhuetas dançantes passando pelas janelas, mas nem se eu apertasse meus olhos o máximo possível, conseguiria distinguir a identidade de cada uma.

Volto a caminhar. Já consigo ver o começo do parque, virando à esquerda, o grande aglomerado circular de areia e neve com brinquedos antigos e enferrujados: alguns balanços cuja tinta não é renovada há décadas, um ótimo escorregador para quem pretende contrair uma doença, e uma casinha de madeira sem escada para subir. Segundo meus pais, esse lugar já existia muitos anos antes de comprarem a propriedade.

Passo meus olhos lentamente por todo o parque, mas não os encontro. Onde estão se escondendo? Eu tinha certeza de que estariam aprontando alguma coisa por aqui, mas acho que me enganei.

Puxo minha touca mais para baixo e abraço meu próprio corpo.

— Aleksei? — chamo baixinho, uma nuvem de fumaça se forma na frente da minha boca. — Aleksei, onde você está?

Nada.

Movo as minhas pernas mecanicamente até alcançar o primeiro balanço, as correntes rangem com o sopro gelado que vem do bosque e me dou conta de que já não é mais possível escutar o ruído animado da música, menos ainda das vozes escandalosas e exageradas vindas da minha casa.

Um Presente Entre as Cinzas | CONTO 2.5 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora