• CAPÍTULO 04 (Degustação)

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CAPÍTULO 04

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CAPÍTULO 04

VIKTOR

PESQUISO NO MEU celular algumas palavras-chave, como "transtorno do estresse pós-traumático" e "crise de ansiedade", mesmo sabendo que é inútil tentar entender sozinho o que se passa na mente de Elena — sobretudo com informações tiradas da internet que só me deixam mais preocupado.

Acho que, no fundo, este sou eu tentando convencer a mim mesmo de que estou fazendo alguma coisa, qualquer coisa, além de sentar em um canto para ruminar meus arrependimentos. Fui um idiota por acreditar que conseguiria me manter afastado dela. No primeiro sinal de que havia alguma coisa errada acontecendo com Elena, perdi completamente o controle. E o pior é que ainda não me sinto recuperado!

Estou furioso com algo que não sei definir, com tudo e com nada, ao mesmo tempo. Sinto raiva de mim e de Elena, de Aleksei, e daquele bastardo do seu avô; odeio o passado que nos uniu, e o mesmo passado que nos separou. Não consigo extravasar essa sensação de angústia que faz meus batimentos cardíacos dançarem em um ritmo acelerado. Quero alguém para culpar e descontar a minha irritação.

Aparentemente, não importa o quanto ela mude, ou o quanto eu tenha mudado, alguns sentimentos sobrevivem às ironias do tempo. Minha preocupação com Elena continua igual, ou mais forte, assim como a vontade de protegê-la do mundo.

Só posso estar ficando louco.

Ela tem todos os motivos para me odiar, como ela mesma disse naquele dia, e não sei o que fazer com o ódio de Elena além de aceitá-lo por inteiro.

A quem estou tentando enganar? Eu aceitaria qualquer merda dela.

Guardo meu celular no bolso após encontrar um artigo sobre "manias de perseguição" que faz meu estômago embrulhar e olho para o horizonte vespertino, buscando um pouco de paz na paleta laranja-avermelhada do pôr do sol.

Meu turno já acabou há uma hora, mas ainda não consegui voltar para casa, mesmo com as renas me esperando para serem colocadas no jardim, e as luzes na varanda. Aleksa continua eufórica com a chegada do ano novo e eu não poderia estar mais miserável. É muito difícil esconder meu humor funesto perto da minha filha e não quero estragar suas expectativas.

Ouço alguém se aproximando e olho para trás a tempo de ver um de meus homens. O terraço da empresa é restrito a poucos funcionários, mas minha equipe de segurança é a única em todo o prédio que tem acesso a qualquer andar. Muitos sobem no tempo livre para admirar a vista e fumar um cigarro.

Eu só venho quando preciso pensar — algo que tenho feito muito ultimamente. Pensar e ficar puto sozinho.

— Fala, chefe — ele diz, apoiando-se na mureta de proteção. Seu nome é Zorkin, recordo-me, um homem não mais jovem do que eu, com um sotaque interiorano bem evidente. — Pensei que já tivesse ido embora.

Um Presente Entre as Cinzas | CONTO 2.5 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora