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Manhattan, 20 de março de 1950.
Olá, meu querido
Venho através desta, proferir, confesso que com um pouco de angústia, meus reais sentimentos por ti. Deveras sei que tudo findou, contudo, como esquecê-lo se o meu peito arde de amor? A saudade chega me sufocar e as gotas da chuva
pesam ao tocar minha pele. Anseio poder sentir outra vez, a graça que o seu amor me trazia. O som da chuva ao cair no chão, me remete à outrora. Naquele doce veraneio, deitados na sacada de uma pequena cabana, amávamos como dois loucos ensandecidos na penumbra da noite.Entro na garoa, pois emergiu em mim uma estranha necessidade de senti-la, espairecer e lavar a alma. Porque a natureza habita dentro de nós, e o seu toque revela aquilo que somos e o que sentimos, e aqui, agora, eu te sinto. Nossa afeição está encoberta nesse manto negro que cobre o céu. Sinto que posso à qualquer momento, perder-me e afogar-me nesse elo de amor que nasceu em meio a dor da partida.
Profundo, obscuro e intenso. O amor seria isso tudo, ou é só o vazio que ficou posterior à sua partida? Ainda que a vontade de gritar seja mais forte, me calo. Converso com a chuva, com as estrelas, com a lua em pequenos devaneios sobre tu. Teço memórias, crio estórias e reinvento um sentimento que talvez exista somente aqui dentro do meu peito. Ele tá vivo, latente e me corroendo aos poucos. Creio eu, que amar nem sempre significa não sentir dor, porque o amor machuca, ou seria, o excesso dele? Não sei, porque continuo à questionar seus reais sentimentos por mim, tentando encontrar algo que explique o porquê tu existe em cada passo meu, no meu jeito de ser e de agir. Tu, onde quer que esteja, pode pensar que não, mas continua influenciando minha vida.
Estamos sobre a mesma terra, sob o mesmo céu e sob os mesmos astros, não obstante, distantes um do outro. Ligados somente por esta conexão invisível chamada amor, que queima aqui no meu âmago, que estremece meu corpo e eriça meus pêlos só de lembrar do seu toque. Penso que não tivemos um epílogo, não dissemos adeus. Fico remoendo minhas memórias, nossos laços que se estreitaram e nada mais me passa ou me faz entender o porquê acabou e os sentimentos, não. Te amar dói.
Com muito pesar, Julieta.
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Cartas para Romeu
PuisiEscrevo com a intenção de guardar cada memória inesquecível dos amores que já tive e das inúmeras experiências que vivenciei. Escolho as cartas pois elas são gestos singelos de demonstrar amor por alguém e de um valor inestimável.