| o presente na cesta |

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johnny depp


FOI NUMA NOITE triste e estranha de Natal que eu sai da minha casa, peguei meu carro na garagem e dirigi com ele sem rumo pelas ruas enfeitadas com imoveis, aos quais dentro possuíam muitas famílias unidas e felizes, comemorando tal data cristã e que eu, particularmente, achava bobagem desde muito pequeno.

A cidade em si estava toda iluminada, com pisca-piscas nas arvores e arbustos de muitos jardins, e a tão clichê neve naquele ano careceu de aparecer, e os bonecos de neve foram substituídos pelos de papelão ou pelúcia.

Mas, para mim, isso tudo, aquela noite estava sendo a pior, mesmo sem neve ou com a porra da neve caindo dos céus, ou tendo bonecos sinistros feitos por neve nos quintais.

Eu tinha um buraco em meu coração, um luto sem igual e eu só desejava sumir do resto do mundo e fazer com que tudo que eu havia passado fosse um pesadelo. Eu queria também fingir que os meus vizinhos não estavam com suas famílias, rindo e se presenteando com cachecóis e meias bregas penduradas à lareira.

Pois perder a sua mulher, cujo a qual esperava seu primeiro filho então, poderia ser um tipo de castigo, um tipo de karma infernal.

Eu perdi ela, Sarah, pra um fodido acidente numa rodovia antes daquele Natal. E quando eu havia recebido essa notícia, estava trabalhando, e pensei que eu estava sonhando também. Mas não. Não fora um sonho.

Mas eu consegui suportar ser o viúvo drástico do meu bairro por mais de seis meses — e nem parecia ter se passado tanto tempo assim. Entretanto, parecia sempre que, para mim, era o dia ao qual ela se foi com o nosso filho na barriga. Eu acordava, talvez com alguma ressaca ou desanimo, eu olhava logo para me celular ou para algum relógio, relembrando do horário de seu acidente.

Porra, eu os amava tanto, amava tanto Sarah e o nosso filho, que ainda estava se formando ao útero.

Portanto, o Natal daquela ano estava sendo o pior de todos da minha fodida vida. Não me julgue em querer xingar qualquer um que viesse dar-me “Feliz Natal”. Foda-se você e o este seu Natal feliz e esta sua família que respira.

A minha família, como meus irmãos e primos, e alguns bons amigos tentaram me distrair no começo, e tentaram convidar-me para as suas festas intimas, só que eu não podia disfarçar e comparecer sozinho, sem ela comigo, como sempre havia sido.

Depois de enterrá-la com o nosso filho ainda em sua barriga, eu passei a me isolar e enlouquecer realmente, igual quando eu era um adolescente de merda e sem propósitos maduros. Eu me sentia de volta aos meus anos de escuridão, do profundo padecimento. Eu os ouvia comentar, “Johnny está tão perdido” ou “Pobre homem, perdeu sua família cedo demais”. Era um saco, e era por isso que eu já pensava em me mudar para outro lugar, talvez me mudar de Estado. Sarah sempre dizia a mim, quando viva, que ansiava morar na Califórnia, onde ninguém morre.

Eu não me sentia mais humano. Ou talvez eu apenas havia perdido o pouco de humanidade quando Sarah foi acertada por uma carreta perante uma tarde de sexta-feira, não conseguindo se mudar para a Califórnia comigo.

E era cruel, nem mesmo quando eu havia perdido a minha mãe tinha me sentido tão fraco e ruim, sem utilidade alguma.

E isso afetara a minha vida profissional. Eu apenas a empurrava naqueles seis meses vivendo sozinho, sem conseguir ter uma família, ser o tipo de homem normal e clichê, iguais aos que eu conhecia. E como eu estava assim sozinho, eu procurava por coisas fúteis para tapar o buraco do meu coração, me defender da tristeza, como ir a bares, talvez harém, sair com amigos inconseqüentes que não se importavam, e levar o meu carro sem rumo por estradas negras. Usar alguns ilícitos ilegais descontroladamente à ponto de ter uma overdose sem retorno virara outra rotina.

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