| pela cama do papai |

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nina •

QUANDO OS MEUS olhos se abriram, eu respirei profundamente e, ao focar melhor a minha visão, que estava ainda turva, estranhei de cara o local onde de fato eu me achava.

Franzindo então o cenho por isso, percebi que em minha volta existiam móveis, os quais eu já conhecia bem, no entanto, eram os móveis do quarto do meu pai, não os do meu quarto.

Também me assustei por estar em casa, devido que eu talvez havia despencado no sono antes daquele táxi ter realmente chegado na porta da nossa casa, minutos após o avião ter pousado na Califórnia. E talvez papai tinha me tirado desses táxi e assim me carregado no colo, não querendo me acordar. Mas, o quê me deixara confusa foi ter então despertado em sua cama. Ele me pôs para dormir junto de si ontem? 

Um cheiro insuportavelmente bom, e que eu conhecia muito bem também, invadia gradativamente as minhas narinas. Sentir tal cheiro fizera com que um sorriso de lado eu desse. Era o cheiro de uma das colonias que Johnny usava assim que tomava uma ducha. Acordar e sentir seu cheiro assim era, para mim, algo perfeito.

Espreguiçando o meu corpo pela sua enorme cama, notei que havia eu dormido usando a sua jaqueta, e desconfiei que fosse por culpa dela que o meu corpo estava tão quente, mas sequer quis tirá-la, ela tinha seu cheiro grudado.

Fiquei por um bom tempo fitando o teto, lembrando da viagem de volta, da família que havíamos recebido no Caribe, lembrando de que as semanas iriam passar e a rotina nossa voltaria, de que a doce Margaret voltaria, que as minhas aulas retomariam...

Mas uma lembrança me fez ficar logo receosa, um tanto irritada e, assim, suspirar. Até fechei os olhos por isto, fingindo que estava dormido de novo.

Essa tal lembrança era a loira, Amber, que esteve sim no mesmo vôo.

Outra vez no mesmo vôo, e desta vez, o vôo que levava meu pai e eu para a nossa casa. Eu tinha a visto por perto, e minha paranóia antes estando ainda na fila de embarque não foi paranoá; e eu somente queria saber se Johnny tivera à notado também. Pois por ter cochilado uma parte da viagem, eu não podia confiar na opção de que ele não vira-a por lá, sentada há umas cinco poltronas atrás das nossas.

Maneava a minha cabeça, que estava sobre o travesseiro, e bufava um pouco pela boca em descrença.

Eu não gostava de ficar pensando nesta mulher. Era praticamente impossível ela reaparecer outra vez na nossa frente, certo? Bem, eu gostava de achar que ela não iria reaparecer. Eu gostava de achar que o meu Johnny e ela não se sentiram de cara atraídos demais.

Mas também tive certo medo. Esse medo se fazia pela questão de que ela estava então num vôo direto para a América, assim como nós dois, e ela havia pousado pela Califórnia, igual nós dois...

— Chega, Nina! Esqueça essa mulher... Ela deve estar bem longe, e o papai nem deve mais se lembrar dela agora! — resmungando para mim mesma, eu desliguei meus pensamentos e rolei pelo colchão, no impasse de querer logo levantar ou querer continuar deitada, igual uma vagabunda, na cama do mais velho.

Era uma cama tão macia, com lençóis suaves e de cobertores leves, tão perfeitos. Não que eu não gostasse da minha cama e afins, era que tudo de Johnny me deixava nas nuvens ou demasiada encantada.

Era que Johnny tinha tão bom gosto, e até aquela sua cama carregava um pouco de mistério ao meu ponto de vista ingênuo. Seu quarto num todo eu via como misterioso e possuidor de um ar singelo de malícia. A iluminação amena, os quadros que ele pintava pregados na parede, o carpete escuro, as paredes do mesmo tom que o carpete, a sacada logo ao lado e tapada com longas cortinas cinzas... Essas coisas eu detalhava com certo fervor e curiosidade ainda estando lá deitada na cama, que era alta como uma mesa de jantar.

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