Eu preciso dizer sinto muito
Essa é a única coisa que você diz quando você perde alguém
-Dead to Me, Melanie MartinezQuase uma semana completa após o ocorrido, Maria Alícia fora chamada à delegacia novamente. Era trinta de dezembro, faltando pouco tempo para o Ano-Novo e a jovem não se encontrava exatamente em um clima festivo. O velório tinha ocorrido no dia 26, e muitas pessoas foram prestar suas condolências à família Torres. Muitos fiéis da igreja, muitos amigos do filho e do casal. Até mesmo funcionários tanto da empresa do falecido quanto da loja da falecida. A família Torres era certamente uma família muito querida por todos à sua volta.
Maria Alícia nunca recebera tantos abraços de conforto quanto recebeu nessa semana desde o natal até agora. Por mais que a jovem não estivesse a tanto tempo com o rapaz falecido, as pessoas os admiravam como um casal. Sempre comentavam o quanto os dois combinavam e até mesmo tinham sido feitos um para o outro. Faziam perguntas inconvenientes sobre planos de casório e filhos. Admiravam o jovem-prodígio que era João Pedro Torres e adoravam encher o ego do rapaz com diversos elogios relacionados à sua aparência, vida e sucesso acadêmico.
Mal sabiam eles que os pais do jovem desprezavam sua nora.
Como todo pai e mãe, é normal que queiram o melhor para suas proles, e Maria Alícia, na visão de seus sogros, nunca seria essa pessoa. Maria Alícia não era uma pessoa muito religiosa, o que era um dos pontos principais para os pais do garoto implicarem tanto com ela. O fato da família dela ter menos dinheiro que a deles era outra extremamente importante. Uma garota vinda de uma família mais humilde com certeza estaria interessada no dinheiro que o rapaz herdaria. O fato de a garota cursar pedagogia, e ter o sonho de trabalhar com crianças era a cereja do bolo. Nasceu pobre e morreria pobre. Maria Alícia já tinha ouvido tantas coisas dos sogros- a maioria sem querer, já que nem sempre falavam diretamente a ela, e quando diziam, eram sempre indiretas ácidas que qualquer pessoa poderia captar sem muito esforço. A garota não ligava, afinal, seu (ex) namorado lhe fazia mil e uma promessas. Assim que passasse na OAB, compraria um apartamento para os dois e poderiam se livrar de seus desagradáveis pais. Poderiam viver uma vida tranquila sem a interferência de ninguém e finalmente viveriam felizes e tranquilos.
—Como já dissemos anteriormente, a causa da morte foi envenenamento. Encontramos substâncias em parte das comidas servidas à mesa e principalmente nos vinhos.
A família Torres tinha uma pequena adega em casa, da qual se orgulhavam demasiadamente. Sempre faziam questão de mostrá-la a qualquer pessoa que fosse visitá-los. Depois do filho, era provavelmente a coisa que mais amavam.
—Diferentemente do que pensamos, não foi um homicídio... —O investigador responsável pelo caso dissera, deixando todos ali presentes, parentes e amigos próximos, extremamente chocados. —Quer dizer, na verdade, foi homicídio seguido por um suicídio. —O homem suspirou fundo, sem saber como dizer aquilo adequadamente. —A mãe... Madalena Torres, é, infelizmente, a culpada pelo ocorrido. —O investigador finalizou, e passou a mão pela cabeça, realmente descontente. Com certeza não era fácil dar uma notícia como aquela, mas depois que ele mencionou que Maria Alícia percebeu a insistência em relação a sua contribuição feita para a ceia de natal dos Torres. Ao ser chamado com certa urgência, o investigador se retirou, causando uma pequena confusão com os parentes e amigos da família ali presentes.
Dois dias antes, quando a garota foi oficialmente chamada para prestar depoimento, mas dessa vez, com a presença de um advogado à sua escolha, estranhou o fato de terem insistido tanto em relação a sua ausência na ceia de natal da família de seu namorado, e mesmo sem querer, a garota teve que dizer que não era assim, tão querida pelos sogros, o que apenas a tornou mais suspeita. A garota explicou que, apesar de não ser permitida a participar da ceia de natal, simplesmente pelo fato de que era apenas namorada do filho dos Torres e não esposa do mesmo, o que era claramente uma desculpa dos pais do jovem, ela não era sequer convidada a participar da reunião sagrada em família. Por mais que fosse uma situação desagradável, a garota não iria a um local que não era bem vinda, mas mesmo assim, foi prestar seu espírito natalino à família do namorado, e levou um prato feito por ela mesma à família dele. No momento em que disse isso, os olhos de seu advogado, do homem que a interrogava e até mesmo do escrivão, que por algum motivo que não explicaram não era o mesmo de antes, se arregalaram e a garota só não foi mais pressionada por ter um representante legal junto à ela.
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Feliz Natal, Alicia.
ContoÉ natal e Alicia recebe uma trágica notícia. As comemorações cessam e a busca pela verdade é iniciada. Até onde a ética e a moral têm êxito?