Capítulo 2

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Não havia nada decidido. Nada.

Jimin gostaria de poder gritar, eufórico, e dizer cheio de garra que iria manipular seu cheiro, enfiar-se na robusta armadura do pai e então seguir para o exército segurando firmemente a carta de convocação nas mãos. Mas tudo o que podia fazer, até o presente momento, era embrulhar-se nas cobertas quentes e molhar o rosto com um pouco de sua dolorosa angústia interna.

Não estava assim tão próximo do período excruciante e difícil, mas já sentia-se tão fraco e sensível que só conseguia pensar no quão horrífico foi ele ter dado aos progenitores um frágil e nada forte ômega de presente. Talvez se tivesse se esforçado mais um pouco dentro da bolsa acolhedora da mãe, poderia ter conseguido fazer algum tipo de feitiço a fim de adquirir os genes definitivos de alfa.

Encolheu-se. Ser alfa significava perigo.

Conflitos, liderança, inimigos.

Mas também significava ser forte e independente. E essas duas grandes coisas alfinetavam a cabecinha do ômega sempre que este estava diante de alguma situação laboriosa como a atual.

— Meu querido, não se martirize tanto — a terna e sábia voz da mãe acariciou o corpo tenso de Jimin com muita paz e conforto. — Ele vai ficar bem.

O pequeno ômega levantou levemente a cabeça a fim de cumprimentar a figura materna de mesma classe e logo em seguida voltou para a caverna de desespero que formara com seus cobertores. E ela queria aquilo também. Enrolar-se numa bolha de prantos e lamentos até que a guerra acabasse e o marido voltasse são para casa. Mas sua função não era aquela e ela reconhecia isso. Park Daiyu Bo precisava ser forte por si e pelo filho. Sofrer em silêncio era uma opção, senão como poderia transmitir alguma segurança ao seu filhote? O pai sempre foi muito protetor com o mesmo e jamais aborreceu-se devido a Daiyu ter gerado um doce e delicado ômega de bochechas macias e coradas. E Jimin também tinha muito apego pelo alfa, um bravo guerreiro aos seus olhos.

— Onde ele está? — inquiriu o ômega, baixinho.

— Nos fundos — respondeu a mãe e logo suspirou. Ela também não estava contente com o fato do marido afogar-se em suor e dores debaixo daquele tempo gélido e escuro. Daiyu queria muito estar sendo aquecida pelos braços acolhedores do companheiro. O clima característico do inverno vinha como uma dura batalha sazonal a todos os ômegas da vila.

Despediu-se da cria e retornou ao quarto que dividia, agora, com o vento rigoroso da noite.

Apesar de estar um tremendo frio tanto do lado de dentro quanto do lado de fora, Jimin não pôde ficar dialogando com suas cobertas quando seu querido pai estava enfrentando uma árdua incumbência e responsabilidade nas planícies atrás da casa. Trajou um grosso manto sobre o quimono de descanso e esgueirou-se através dos corredores da residência, sendo guiado pelo cheiro paterno e forte de limão do pai.

Alguns metros afastados das paredes traseiras da casa, estava o alfa patrono golpeando a noite com um semblante cansado, mas firme. Defender e honrar seu país eram deveres inigualáveis. A fadiga no rosto aparecia inclusive como uma desonra e desrespeito. Mas como evitar? Não podia implorar às suas células para que trabalhassem um pouquinho mais do que estavam habituadas durante esses anos. Apesar de ser duro admitir, tinha que aceitar que o corpo não possuía mais o fôlego das antigas e intensas batalhas.

Ao levantar a perna com o objetivo de aplicar um chute, escorregou na espada caída e riu quando uma formosa borboleta pousara no tronco estirado.

— A quem quero enganar? — disse, levantando-se e, embora estivesse sorrindo com o tombo, o coração apertava ao imaginar este último sendo mais fatal no campo de batalha. — Estou mais enferrujado que a lâmina desta espada.

O ex-comandante Yan inspirou pesarosamente o ar enquanto outra sequência de tosses agredia seu pulmão e garganta.

Não duraria muito por lá, suspirou. E rezaria todos os dias para que voltasse ao conforto da família, onde poderia inalar o aroma brando da esposa e o maravilhoso cheiro de coco do seu filhote que, estranhamente, estava perto demais de si no momento.

Jimin viu quando o pai segurara o peito em cansaço. Viu quando ele caiu e caçoou da ação. E viu que ele estava completamente inapto para guerrear contra os Gargantas Negras — os terroristas mais terríveis e violentos de todo o Oriente.

Naquele instante, o doce ômega decidiu que de jeito algum deixaria o alfa pisar sobre os solos sangrentos das batalhas.

 Ele próprio o faria, nem que para isso fosse necessário muito trabalho duro e ao menos um pedaço de coragem, afinal a instável saúde do progenitor e sua silhueta tão empenhada em atingir o inimigo invisível nas planícies foram estímulos suficientes àquela decisão.

Jimin voltara para o quarto com o coração gritando que iria sim adulterar o cheiro e substituir o pai na guerra contra os Gargantas.

Que suas mãozinhas amantes de ajuda se preparassem!

Ele também podia ser forte. 

Sem armaduras contra o amor (JIKOOK ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora