Jimin empurrou o chão com toda a sua força, sentindo as articulações esticarem ao máximo. E então, tentou descer vagarosamente o corpo, mas nesse meio tempo os ombros já doíam e a pressão colocada nos dois braços não era suficiente para coordenar o movimento. Ele desabou pela seiscentésima vez no solo pouco úmido. Ótimo, havia conseguido atingir o número determinado por aquele fascinante homem.
— Você é um fracasso — lançou o alfa, de braços cruzados e o olhando de cima enquanto erguia-se, constrangido, a fim de limpar o rosto. — Não consegue sequer fazer uma arqueadura.
— Eu irei tentar novamente... — proferiu o Park, mesmo sem muita confiança na sua próxima tentativa.
— Não me faça perder o tempo que não temos. Você não vai conseguir — semicerrou os olhos e deu-lhe as costas. — Não agora.
— O que quer dizer, senhor?
— Você deve focar nos outros treinamentos, me ouviu bem? Precisa fortalecer esses músculos murchos.
Embora tivesse vergonha de admitir, aquele homem intrometido estava certo. Ele não conseguira completar sequer uma flexão desde o início. Todas as vezes em que impulsionava o tronco para cima, o corpo parecia adquirir um peso do além que, junto da armadura, lhe puxava dolorosamente até a grama. Isso foi se repetindo enquanto todos os outros alfas do acampamento iam de um a outro exercício e, enfim, parassem para comer.
Ora, mas também quem aquele ser lupino pensava que era? Mal havia chegado ali e ele já ia lhe impondo tarefas! Com certeza devia tratar-se de algum soldado esnobe que gostava de se divertir à custa dos mais novos.
Quando levantou-se, estava sozinho. Varreu o campo com os olhos cansados e seguiu na direção das barracas. Gostaria de deitar e ficar inconsciente até que o corpo inteiro estivesse relaxado.
Não havia trazido sua própria tenda, então novamente não soube o que fazer. Muitos alfas engoliam os pratos sem sequer prestarem atenção em si. A quem pediria ajuda? Aquele lúpus enxerido poderia ao menos ter o apresentado o lugar ao invés de forçá-lo a uma atividade difícil.
Enquanto andava absorto pelo gramado do acampamento, um ruído estranho alcançou sua audição ao passo que um grupo de homens se aproximava do pequeno ômega.
— Você logo encontra, Namjoon — disse um deles, perto de Jimin. — Não sei pra que esse desespero todo. Já está apaixonado?
— Aquilo é importante pra mim. É a única coisa que tenho que prova que o que aconteceu não foi um sonho.
— E você ainda pergunta, Hoseok — censurou um outro, sorrindo divertido. — É óbvio que ele está apaixonado.
A prosa entre os amigos teve um fim quando eles repararam no acanhado alfa de pé no meio do acampamento. Namjoon, ainda frustrado, balançou os fios louros acastanhados do cabelo enquanto os dois sujeitos ao seu lado dirigiam-se até o estranho jovem homem.
— Ei, o que você tá fazendo aí parado? — questionou aquele que Jimin deduziu como Hoseok pela conversa anterior.
Ele também trajava uma armadura e esta parecia adequada a seu corpo, diferente do pequeno ômega que ainda tentava equilibrar-se com todo o peso sobre si. O Park travou sem saber o que falar e como reagir diante daqueles alfas grandes e exteriormente fortes.
— Você é mudo? — a pergunta veio do segundo sujeito de cabeleira escura. A mão dele estava apoiada na bainha da espada num gesto natural e sem intenção de intimidar o doce ômega. Mas este último não interpretou muito bem o ato, pois logo ameaçou abandonar o local, se não fosse por um embaraçoso ruído vindo do delicado e falso alfa.
— Você rosnou pra mim? — revoltou-se Hoseok enquanto apertava os punhos.
Jimin quis gritar negando a atitude, pois definitivamente não gostaria de sentir a musculatura rija da mão do homem contra seu rosto íntegro e frágil, porém antes de poder articular algo em defesa a si próprio, o alfa de nome ainda desconhecido interviu:
— Acalme-se, Hoseok. O homem está faminto. Estou certo? — Jimin timidamente confirmou com a cabeça. — Nos acompanhe até a barraca de mantimentos, você inclusive passou por ela.
— Obrigado — conseguiu dizer o Park.
Os dois sujeitos seguiram para o caminho que minutos atrás o falso alfa passara. Namjoon, que a esta altura somente assistia a discussão, ausente nos seus angustiados pensamentos, seguiu os amigos sem deixar de acenar cordialmente para Jimin.
O doce ômega pôde enfim respirar, mais calmo. Virou o corpo na direção dos — talvez — novos companheiros e no instante em que pretendia iniciar a caminhada, estancou outra vez, analisando o estranho objeto despedaçado no chão outrora pisado pela sandália encardida. Parecia um fragmento de esmeralda, preso a um cordão.
Agachou para recolher a peça, escondendo-a dentro da armadura.
Então foi atrás dos alfas.
— Meu nome é Taehyung — disse o homem cujo adivinhara a existência dum grande vazio na barriga de Jimin. — Estes são Hoseok e Namjoon. Qual é o seu?
— Ji... — a fala do jovem ômega foi cortada por um imperceptível arroto interno. Céus, a reação natural do corpo veio como uma advertência sem dúvida. Estava prestes a revelar seu verdadeiro nome, correndo o risco de lhe reconhecerem ou alguém ao redor ouvir. Rapidamente disse a primeira coisa que sobrevoou sua cabeça: — Chimi. Meu nome é Chimi.
Quis amassar o rosto na mesa, cheio de vergonha.
— Isso é nome de bicho — opinou Hoseok, também desfrutando dum prato cheio de arroz.
— É um nome... diferente — amenizou Namjoon, agora um pouco mais entrosado à conversa.
Taehyung não disse coisa alguma a respeito do fictício nome do ômega e ele agradeceu por isso, afinal envergonhava-se do própria nova nomeação. Era um tanto quanto acriançado e fofo demais para um alfa.
Continuou comendo sem proferir muitas palavras, temia dizer algo errado e acabar gerando conflitos com os homens na mesa. Não sabia agir diante de alfas, sem contar o pai e os filhotes que cuidava no vilarejo.
De repente um grande barulho atropelou todas as conversas da tenda de mantimentos. Os três homens levantaram imediatamente, prontos a sair.
— O que está fazendo aí sentado, seu palerma? — perguntou Hoseok, enquanto segurava na barra da instalação de tecido bege. — Você não ouviu o sinal?
— Que sinal? — questionou Jimin, engolindo uma última colherada de sopa de cenoura.
— Do treinamento — a resposta foi dada por Namjoon que ajeitava a armadura no corpo. — É melhor você levantar. O general não é lá muito amigável.
Sem alternativas e perdido no meio de tanta informação, o doce ômega viu-se obrigado a acompanhar os novos companheiros. Se queria alguma chance ali de ao menos melhorar seu desempenho ou somente se inteirar do funcionamento do local, era preciso ouvir quem parecia saber mais a respeito.
Ele só não imaginava que fosse se deparar com aquele intrometido lúpus de antes junto de um semblante nada amistoso prestado na frente de centenas de alfas emburrados. O dorso ainda permanecia descoberto e até um pouco úmido de suor. Enrubesceu pela imagem, desviando o olhar para Taehyung.
— Quem é aquele? — perguntou, baixinho, o pequeno ômega.
Os três pareceram um pouco surpresos com a pergunta e, antes que Hoseok pudesse caçoar do ingênuo falso alfa, o outro homem de cabelos negros saciou a dúvida alheia:
— Aquele é o general Jeon. Jeon Jungkook.
E Jimin soube que estava em apuros.
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Sem armaduras contra o amor (JIKOOK ABO)
FanfictionJimin é um belíssimo e delicado ômega que enfrentará muitos problemas no campo de batalha, isso porque não pôde permitir que o pai seguisse com a convocação para a guerra. Mas o que poderia ele, frágil e temeroso, conseguir no exército? Talvez não...