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No princípio, a terra era sem forma e vazia, habitada apenas por trevas e silêncio. Milhões de anos antes do surgimento da espécie humana, o universo começava a se formar. E naquele tempo houve um grande tremor no planeta e fenderam-se os céus. Como uma cortina que se abre e deixa a luz do sol entrar, o firmamento se abriu, deixando a luz divina do paraíso iluminar aquele lugar mórbido. Não havia vida ali para testemunhar o que aconteceria em seguida: um corpo caía do alto. A criatura despencava mais rápido a cada segundo e no momento em que encontrou o solo, uma cratera se formou. Semelhante à uma bomba nuclear, o som de sua queda se alastrou por toda a superfície terrestre. Era um anjo. Samael. Ferido, quase sem vida. E mesmo com muita dor pelas asas recém arrancadas, ele mexeu os membros e tentou se arrastar, mas era em vão: quase não tinha forças para manter os olhos abertos. Sem demora, um seguido do outro, mais corpos começaram a cair, formando novas crateras. E quando parecia que havia acabado, um último corpo foi lançado. Como um anti-herói em queda, atingido por um arqueiro. As dores da queda e da flecha fincada no peito, somadas, não eram maiores que a dor do seu coração. De olhos marejados, Anael assistiu a porta de sua casa fechar para sempre. Lentamente, ainda que fracos, os outros começaram a levantar. O primeiro anjo caído foi arrastado por eles, mas o último continuou lá, imóvel. E tudo o que o restou foi dor e escuridão. Apenas um dos anjos foi checar se ele estava vivo. Azazel chegou perto do outro e se agachou ao seu lado. Seus olhos se encontraram. Sem pensar, Azazel arrancou a flecha do peito dele, que emitiu um intenso som de dor. Com dificuldade, o primeiro ajudou o segundo a levantar. Anael colocou a mão no ferimento. Sabia que iria demorar muito para curar, já que havia perdido parte dos seus poderes, estava mais fraco. Azazel o entregou a flecha. Ele a tomou em suas mãos e a olhou com cuidado. Em seguida olhou em volta. Eram muitos anjos caídos. Sem rumo, sem saber o que fazer, restritos à escuridão de um planeta que não conheciam. Então, o primeiro, Samael, os guiou e criou um lugar para eles. Samael passou a se chamar Lúcifer. E apesar de ter sido banido do paraíso, a guerra entre ele e o Criador não terminaria ali. Quando a primeira mulher, Lilith, se recusou a se submeter à Adão e fugiu do Éden, o anjo caído viu, ali, uma chance de entrar no lugar. Ele a persuadiu e ela o ajudou a conseguir o que queria. Em forma de serpente, o demônio entrou no jardim e o resto, todos já sabem: convenceu a segunda mulher, Eva, a comer o fruto proibido e ela, por sua vez, convenceu o companheiro. Assim, os dois foram expulsos e começou, naquele momento, a eterna guerra entre céu e inferno.

Lilith era só uma humana. Inocente, ela foi conduzida pelos demônios para o local onde moravam. Neste lugar, eles fizeram algo que mudaria completamente a vida da moça: misturaram seu sangue humano com sangue demoníaco, a transformando em uma bruxa. A primeira de todo um clã. Ela passou a frequentar o inferno. Porém, o inferno não é quente, como muitos pensam. É, na verdade, muito frio. Frio e escuro. Um ambiente que causa extrema agonia e desconforto. É de enlouquecer qualquer um. Mas ela não, Lilith era forte e poderosa. Talvez tenha sido este (ou os lindos olhos violeta) o motivo pelo qual Azazel se apaixonou por ela. Por muito tempo ele tentou reprimir, mas o estrago já estava feito. O demônio da ira se apaixonou pela bruxa. E deste amor, foi gerado um fruto, um bebê. Mas Lúcifer sabia o quão poderosa ela era — já que o seu sangue fora misturado com o sangue dos sete mais poderosos demônios — e a queria ao seu lado para governar o inferno. Lilith não aceitou a oferta, então, tomado de raiva, Lúcifer matou o seu filho e, com a ajuda dos outros demônios, a prendeu e a torturou. Quando enjoou de ouvir seus gritos e lamentos, a abandonou, quase morta, na terra. Azazel foi castigado com a dor de viver: sua amada foi deixada para morrer e o seu filho foi degolado, a morte para ele seria um favor. Anael sentiu uma profunda angústia. Este era o ambiente em que vivia, esse era o seu rei, mas ele não se conformava com isso. Acreditava que a culpa de estar naquela situação era de Lúcifer e Asmodeus, por isso alimentava um ódio intenso pelos dois. Então, às vezes, ele andava pela terra para se afastar. Foi em um destes passeios que ele viu um cupido flechando duas pessoas. Anael foi criado como o anjo do amor, ele seria um dos cupidos mais importantes do céu, se não tivesse sido expulso. Pensando nisto, criou os cupidos infernais. As eras se passaram e o seu clã crescia conforme a humanidade aumentava, passando a ter seu próprio setor no submundo. Ele era o líder e por isso tinha uma liberdade maior, poderia ficar o tempo que quisesse na terra, mas precisava voltar sazonalmente. E naquele momento, depois de conversar com uma linda humana ruiva, ele precisava voltar, então estalou os dedos e em meio segundo já estava de volta em casa. Quando avistou Azazel, tentou fugir, mas já era tarde demais.

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