EP #21

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Hoje acordei mais cedo do que o normal, o quarto possuía muitas aberturas e nenhuma cortina, o sol invadia todo o espaço, e era impossível para mim dormir com tanta claridade, levantei e tomei um longo banho, era um modo indireto de tardar começar o dia, eu não estava tão animado com todas essas mudanças, por motivos óbvios.

Sai do quarto, notando um grande silêncio na casa, então deduzi que ninguém havia acordado ainda, e o relógio que marcava cinco da manhã foi a confirmação disso, o ceifador John havia me passado uma lista de treinamento ontem, que começava ás oito da manhã e terminava ás dez e meia da noite, creio que Brian tenha recebido as mesmas instruções do ceifador Freddie.

Não tivemos muito tempo para conversar ontem sobre o que tinha acontecido entre a gente, mal chegamos na casa e já começamos o treinamento individual e depois fomos dormir em quartos separados, então quando acordei essa manhã acabei por ir quase que por instinto até a porta do seu quarto, bati de leve com medo de acordar os ceifadores, mas ele não abriu.

Bati uma segunda vez um pouco mais forte e continuei sem resposta, já estava quase desistindo quando um pequeno espaço se abriu para que eu entrasse, adentrei rapidamente e ele parecia estar terminando de se vestir.

- Desculpa vir aqui essa hora, mas eu precisava ver você - Sussurrei e ele abriu um largo sorriso.

- Tudo bem, você não me acordou eu nem mesmo dormi essa noite - Sentamos na cama para ficar distante da porta, não queríamos correr o risco de sermos ouvidos.

- Aconteceu alguma coisa no treino que tirou o seu sono? - Indaguei um pouco preocupado.

- Não, longe disso, na verdade eu passei a noite toda pensando em você, em nós e nessa merda toda de conclave que está acontecendo - Peguei sua mão e sentei mais próximo dele, seu olhar parecia cansado e eu só queria abraçar ele até fazê-lo dormir.

- Brian, a gente não conversou sobre isso, e pra ser sincero, eu estava adiando o máximo possível, mas eu quero que você saiba que eu não quero o título, não quero coletar você, eu não me importo de perder e

- Pare - Ele me interrompeu - Não faça isso, eu não quero que desista ou pior perca de propósito pra me salvar, se tem alguém que merece o título é você, me prometa que não vai desistir.

- Você percebe o que está me pedindo? Sabe muito bem que se eu ganhar, você morre, eu vou ter que te matar, eu só estou nesse maldito treinamento porque eu não posso sair disso, e eu não sei quanto tempo me resta ao seu lado, Brian por favor, não me obrigue a aceitar esse título.

- E o que vamos fazer? - Questionou sem ânimo.

- Eu não sei, mas a única certeza que eu tenho é que eu não vou te coletar, nunca.

- Eu também não, você é o melhor presente que o destino me trouxe, muito maior que qualquer título - Ele encerrou a conversa beijando meus lábios, eu queria ter certeza de que ele tinha entendido que eu não queria lutar por aquilo, e que eu preferia morrer a matá-lo, mas naquele momento eu só conseguia pensar em como os meus lábios precisavam dos dele.

Nosso beijo começou a ganhar um ritmo frenético, e eu não pensei em nada do que poderia acontecer, deitei enquanto ainda estava grudado em seus lábios e senti minha cintura sendo envolvida pelos seus braços, o Roger de alguns meses atrás estaria olhando para mim com desaprovação, porque eu nunca gostei de me entregar tão facilmente em nada, principalmente em relacionamentos, mas com Brian tudo parecia muito intenso, muito urgente.

Levei minhas mãos aos seus cabelos e realizei um desejo secreto de enrolar seus cachos enquanto puxava um pouco, seus lábios desceram e fizeram uma trilha pelo meu pescoço, causando um arrepio quente pelo meu corpo, ele percebeu que tinha acabado de me desarmar naquele momento, e continuou com mais intensidade, se eu estivesse raciocinando um pouco teria parado com medo das futuras marcas que ficariam evidentes, mas eu definitivamente não estava conseguindo pensar com coerência.

Em poucos segundos já estávamos sem camisa e o ar parecia reduzido no ambiente, minhas mãos foram até a barra de sua bermuda tentando cegamente puxar pra baixo enquanto ele não desgrudava seus lábios dos meus, porém no mesmo instante alguem bateu na porta, eu literalmente me joguei no chão e rastejei para debaixo da cama.

- Brian já está acordado? - Ouvi a voz do ceifador Freddie e o barulho da porta abrindo.

- Bom dia ceifador Freddie, achei que o treino era às oito.

- Continua sendo, mas pelo visto já está malhando logo cedo, já que está tão ofegante.

- C-Claro, acordei disposto - Segurei o riso o máximo que pude, tentando cobrir a boca.

- Então quer me acompanhar na minha caminhada matinal, vim te chamar.

- Adoraria, só vou trocar de roupa.

- Está bem, não demore estarei na sala esperando - Senti desconfiança na sua voz, como se ele soubesse que eu estava ali, quando a porta fechou ouvi um suspiro alto vindo de Brian e me senti mais seguro pra sair debaixo da cama.

Olhei para Brian que estava mais vermelho e ofegante do que nunca, achei engraçado mas meu corpo logo ficou tenso, pensei no que poderia ter acontecido se o ceifador não tivesse batido na porta.

- Essa foi por muito pouco - Falei.

- Sim e como, é melhor você ir logo antes que o ceifador John decida ir no seu quarto também - Concordei e fui até a porta, ele olhou para os lados e selou rapidamente meus lábios - Da próxima vez a gente tranca a porta.

- Próxima vez? - Indaguei sorrindo e ele retribuiu com um sorriso pervertido antes de fechar a porta.

Olhei novamente para o corredor antes de ir pro quarto, parei um pouco pra respirar sentando na beirada da cama, meu corpo estava eletrizado e minha cabeça queimava, eu estava sentindo aquela adrenalina jovem que faz seu coração disparar a mil por hora, e nunca me senti tão vivo.

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O dia poderia ter terminado com aquele beijo, mas para a minha infelicidade ainda tinha o treinamento,  encontrei o ceifador John na cozinha e após o café da manhã partimos para o ínicio do treino, hoje ele me ensinaria alguns golpes e passaria mais alguns ensinamentos sobre o ato de coletar e toda aquela coisa de humanidade que os ceifadores fingem ser perfeita.

Eu não queria ouvir toda aquela palestra motivacional, estava me desgastando mais do que os exercícios físicos, então decidi ir logo ao ponto que eu queria.

- Ceifador posso fazer uma pergunta? - Questionei quando ele terminou a explicação.

- Claro que pode senhor Taylor.

- Como acontece a coleta do perdedor no dia da conclave? O ganhador pode escolher como quer coletar? - Ele pareceu analisar minha pergunta antes de responder.

- Sim, quando o ganhador recebe o título, ele se torna um Ceifador, logo ele possui o poder de decisão da melhor forma de coletar.

- Ele pode escolher lutar com o perdedor antes de coletar?

- Se assim ele desejar, sim. Mas porque o interesse? Se ganhar o título pretende coletar o senho May através de uma luta? - Perguntou interessado.

- Só estou pensando nas possibilidades.

"E talvez eu tenha descoberto como burlar a lei" pensei.

O aprendiz de ceifador •|Onde histórias criam vida. Descubra agora