Prólogo

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O vento era suave e gentil após finalmente o término de uma missão árdua e de certa forma animada — Alguns podem dizer que era um fardo ficar saindo por ai com a base de nenhuma proteção e poucas coisas para se manter, entretanto Yoru nunca teve essa opinião geral, assim como poucos da equipe em que estava

Um suspiro de alívio deixou seus lábios quando se deitou sobre a grama úmida e fresca. O suor escorria um pouco enquanto havia um pequenino corte em sua bochecha, felizmente o sangue já não escorria e a dor era imperceptível sendo apenas um formigamento de incomodo, enquanto isso os olhos permaneciam fechados e a respiração um tanto pesada. Não demorou a ouvir passos de alguém se aproximando, e caso não estivesse tão cansado iria fazer a típica pose inatingível, mas quem queria enganar? A maioria ao menos já havia visto oque tinha para ver, agir do mesmo jeito era burrice

— Sua cara está horrível — Comentou uma voz conhecida: Aquele sotaque era reconhecido de longe aos ouvidos de muitos

— Isso foi cruel — Yoru respondeu sem abrir os olhos para saber quem era

— Apenas fui sincero... — Sova balbuciou soltando um pequeno suspiro antes de se sentar ao lado do chamado "colega"

Yoru não respondeu a princípio, apenas soltou um som baixinho semelhante a um resmungo — Muito formal — Se prendeu no pensamento oque levou ele a fazer uma careta, algo que não passou despercebido pela parte do russo. E quando um olhar preocupado foi lançado em sua direção, o japonês se arrependeu amargamente de ter entrado naquele assunto, era claro que Sova iria querer conversar sobre aquilo

— Não, esqueça — Vociferou rapidamente se sentando sobre a grama

— Hey... — O russo chamou baixinho com leve vergonha — Quer dizer algo?

— Não — Repetiu a palavra tão presente em seu dia a dia

Por um tempo, Sova se calou, com pensamentos divididos entre aprofundar o assunto ou esquecer como o de costume — Não queria pressionar o amigo, e isso era complicado pois Yoru sabia que o russo não se atreveria a quebrar a privacidade, ao menos, era oque ele sempre imaginou

— Eu sinto, que fiz algo errado — Sussurrou baixinho com um tom de preocupação e ao mesmo tempo tristeza

Yoru ao ouvir aquelas palavras sentiu uma pontada de culpa — Que ridículo — Riu consigo mesmo daquela montanha russa que o dominava na presença alheia, assustador, porque era tudo inesperado e imprevisível. Se sentia em um terreno no qual não tinha o controle, amedrontado e ameaçado tentando fugir a qualquer custo. Tão bobo era, saber que isso tudo foi causado por um sorriso, saber que ia a mil quando escutava aquela voz. Os gestos, por mais pequenos que fossem, alimentou aquela chama tímida e crescente de um sentimento que nunca deveria ter acontecido

Despertou dos devaneios quando sentiu um toque leve na bochecha: A pele robusta foi acariciada gentilmente em movimentos circulares expressando a ternura, se Yoru não sentisse tanto a dor dos músculos machucados teria dito ser um sonho, e aquilo foi o suficiente para deixá-lo estático sem saber como reagir e caso deveria, afinal, o russo estava ali diante de si o dando conforto, tão próximo que sentia o leve aroma exalado, e diferente do que pensava, não era forte, apenas suave assim como sua voz, mesmo assim não serviu para aliviar a ansiedade do japonês

— Vamos conversa — Sova pediu baixinho tirando a mão do rosto do azulado com certa vergonha

Entretanto Yoru não respondeu de primeira, do contrário ele engoliu seco ainda encarando a íris castanha imaginando os doces e os piores sonhos — Porra — Choramingou quando olhou os lábios rosados que se reprimiam aos poucos. Seria tão fácil inclinar-se e roubar um beijo, nem precisava ser profundo, apenas um contato de um segundo bastava para o japonês — Quem dera tivesse a coragem!

— Não... — Balbuciou confuso não compreendo sua situação — Eu não sei...

— Algo o incomoda — Sussurrou o russo, não foi um pergunta, foi uma afirmação, tal que fez o azulado suspirar

— Inapropriado — Respondeu rapidamente repensando oque ocupou sua mente desde o dia que botou os olhos em certa pessoa

— Somos amigos, certo? — Yoru reprimiu os lábios, tão ridículo foi se sentir triste em ouvir palavras tão dóceis e inocentes — Pode conversa comigo

Sempre sendo cauteloso e cuidadoso a qualquer palavra como em um campo minado, Sova era...perfeito, ao menos, aos olhos do japonês ele era. E conforme o apoio aumentava, aos poucos suas palavras foram saindo, baixinhas e quase silenciosas, mas o suficiente para o russo ouvir

— Eu acho que estou amaldiçoado — Seus dedos se envolveram na grama tentando ao máximo manter a postura

— Está dizendo isso porque? — Franziu o cenho enquanto cruzava as pernas para uma confortável posição

— Eu mal consigo me concentrar ultimamente — Soltou uma risadinha da própria fala, era estranho falar em voz alta — Meu coração as vezes parece que vai sair pela boca, meus músculos travaram e meu sangue ferver como se eu fosse queimar de dentro para fora...

— Acho que podemos dizer ser normal durante as missões — O loiro sorriu gentilmente parecendo não compreender realmente

— Não, não é só nas missões — Balançou a cabeça engolindo seco — É o tempo todo, a cada minuto, cada segundo

Ele logo parou de falar quando voltou seu olhar ao colega ao lado, engoliu seco e novamente seu estômago abrigava diversas borboletas, o outro sintoma tão presente foi seu coração batendo mais rápido. E o motivo estava bem ali, Sova, o olhando com uma curiosidade genuína como uma criança curiosa — Fofo — Ofegou baixinho colocando um sorriso sutil nos lábios

— Isso parece desagradável — Balbuciou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha

— Sim, é — Deu de ombros se levantando do chão — Mas igualmente é algo incrível em alguns momentos, acolhedor e doce

— Não compreendo — Disse um tanto irritado se levantando igualmente

Por um momento, Yoru pensou em falar, era um bom lugar e uma perfeita hora, infelizmente ele não o fez — Ainda não — Sorriu para o chão, tendo sua decisão após o curto tempo partilhado: Iria esperar, um pouco mais, mas naquele momento, iria aproveitar o tempo com o russo como simples amigos, e futuramente, quem sabe algo mais

— Ainda temos tempo — Respondeu com um tom raro de ser usado pelo japonês: Ternura

Em resposta o loiro igualmente sorriu, antes que realmente voltassem para receber mais tarefas, Yoru decidiu fazer um ato de orgulho para sua felicidade: Depositou um beijo suave no canto da boca do outro o deixando paralisado por segundos, quando a reação veio, foi lindo de ser ver, o tom rosado tomou conta das bochechas entrando em contraste com a pele clara — Antes que pudesse dizer qualquer coisa para provocar o russo, foi puxado pelo pulso sem mais e nem menos

— Fugindo do trabalho! Você mal começou — Phoenix vociferou irritado como um verdadeiro estraga prazeres

— E você não faz o mesmo? — Sova comentou olhando para longe na tentativa de esconder o rubor

— Eu?! Não mesmo! — Como não sabia mentir, e não demorou a Yoru bufar alto em resposta

E mais uma vez, Phoenix foi um estraga prazer interrompendo um momento que ele não foi convidado — Vale ressaltar, que pela primeira vez Sova concordou e partilhou desse mesmo pensamento 

Maldição da Paixão | ValorantOnde histórias criam vida. Descubra agora