Capítulo II

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Yoru mais uma vez se olhou no espelho para conferir se qualquer fio de cabelo estaria fora de ordem, o perfume quase derramado em suas vestes enquanto tateava a mesa procurando uma bala de menta. Estava ansioso e era claro, o motivo simples era que Sova havia retornado da expedição e o japonês acabou chamando o loiro para um almoço, podia-se não ser nada demais, entretanto isso fez o coração do azulado quase sair pela boca. Logo precisava estar perfeito já que era quase um encontro, mesmo que não fosse

— Porra — Choramingou passando o pente no cabelo mais uma vez para ajustar o penteado extravagante

Ficou minutos na frente do espelho antes de dar um sorriso satisfeito, soltou um suspiro pesado após perceber que estava segurando o ar, tão perto se aproximava doque sempre antes temeu, um sentimento de confiança e orgulho o ajudavam, mesmo que o medo ainda estivesse presente — Hoje — O pensamento de paixão foi presente, e naquele dia iria acontecer, o resultado seja oque for, Yoru enfim estava pronto para bater de frente com isso

E não muito longe dali, o outro que sofria era o russo, espalhando peças de roupas a toda parte na tentativa de achar algo adequado. Felizmente não demorou, ainda sim sentia não ser o suficiente, mas era o melhor que tinha até então. Arrumou cuidadosamente cada parte não esquecendo de detalhe algum, os adereços foram poucos mas o suficiente para causar um efeito positivo, e para fechar com a chave de ouro, um perfume suave de folhas de limão foi salpicado em seu pescoço e antebraços. Quando teve sua visão completa, ele sorriu — Sova acreditava que ele sempre esteve bom, no nível de satisfação, mas naquele momento...ele estava perfeito, cada detalhe, cada centímetro, feito com perseverança na dedicação de tomar o pouco de atenção do querido amigo. Convenhamos, Sova sempre teve essa atenção de muitos e antes mesmo ele nunca se importou com os olhares de relance que ora ou outra recebia ao andar em lugares mais cheios: o sorriso encantador estampado nos seus lábios avermelhados tomava um tom gentil a cada cabeça espantada ou admirada que se virava para o acompanhar. Sabia que era estonteante ( sem falsa modéstia ), tinha total consciência dos efeitos que poderia causar a aqueles a sua volta, ainda sim sempre foi tudo muito confuso aos seus olhos, quantas vezes não se perguntou oque as pessoas viam nele? A confiança o acompanhava, mas em algumas vezes ela desaparecia do mapa

Quando se deu conta estava se abraçando enquanto o pensamento dos lábios cálidos de Yoru o levavam ao delírio, imaginou-se sendo beijado pelo japonês, por ter tais lábios em seu pescoço, clavícula, ombro...se perguntou até onde poderiam percorrer. Entretanto o pensamento não durou já que Sova decidiu interromper antes que aquilo resultasse em um problema vulgo interrupção

Agora, não — Resmungou baixinho e pegou uma presilha a colocando no cabelo, e logo estava pronto e apto a sair. Abriu a porta e parou por segundos, mal sabia se era um encontro ou apenas um almoço, ainda sim a ideia de ser algo mais o agradou, sutilmente sorriu com o coração quentinho e decidiu não perder mais tempo ali

Andou apressado entre os corredores até estar no lugar marcado para se encontrarem e irem juntos almoçar, o mais engraçado era que ele realmente iriam apenas almoçar na cantina, não era um lugar chique ou refinado, apenas a rotina, mas fizeram disso um verdadeiro motivo de felicidade. E para a sorte de ambos, chegaram ao mesmo tempo praticamente, clichê de certa forma

Yoru ao olhar o russo prendeu o ar como sempre fazia, sentia as pernas bambas com aquele sorriso gentil que estava sendo lançado apenas para ele, foi bobo mas ele se derreteu perto do loiro, olhando com carinho cada mísero detalhe. Em contrapartida Sova não ficou para trás, suspirando profundamente inalando o perfume do japonês, algo cítrico e viciante, se não estivesse em público certamente teria soltado um som vergonhoso em resposta daquele sorriso que tanto amava

— E-Ehn, vamos? — Yoru sorriu torto estendendo a mão

Em resposta Sova o olhou com um sorriso pequeno, mesmo com receio aceitou o gesto do japonês não sabendo ao certo oque deveria fazer — E se antes Yoru já estava bobo perto do russo, agora ele realmente sentia que iria desmaiar, não sabia o porque estendeu a mão, mas o fato de Sova ter aceitado fez seu dia valer muito, sendo assim, ambos andaram um tanto afastado um do outro, mas de mãos dadas, e a vergonha era demais para falarem algo, logo se contentaram em desfrutar daquele contato

[ ... ]

Não era surpresa que mais uma vez Jett e Sage se sentassem juntas em um canto afastado, as risadas incessantes que ecoavam por todo o lugar, um momento familiarizado para ambas as agentes — E estava igualmente claro que ali existia algo além doque aparentava. Por um breve momento oque estavam envolta poderia prever caso olhassem com cuidado, seja as mãos que sempre se tocavam ou os olhos que não quebravam contato. Respeito e romance, uma combinação equilibrada e um tanto quanto misteriosa, afinal, nunca se sabe diferenciar a maioria dos tons

— Senti saudades — Jett sussurrou com medo de alguém ouvir

— Eu sei — A morena deu uma risadinha enquanto bebericava o café da tarde — E eu também

— Eu fiquei tão entediadaa — A grisalha sorriu maliciosamente fazendo um rubor aparecer no rosto de Sage

— Não aqui — Suspirou escondendo o rosto entre as mãos fazendo Jett rir perversamente

Ficou um curto momento em silêncio para dar uma mordida em sua rosquinha de morango — E mesmo que Sage desaprovasse ela comer aquilo no almoço a grisalha amava perturbar sua querida medica pessoal — Ainda sim levou um pequeno susto quando mais duas figuras conhecidas entraram no refeitório

— Nossa — Jett balbuciou sorrindo olhando com cuidado a cena que presenciava

— Oque? — Tão rápido quanto o vento se virou para trás e igualmente sorriu

Yoru e Sova entraram de mãos dadas no refeitório e como o esperado, atraíram atenção, e mesmo o japonês gostando dos holofotes, tudo que ele desejou era estar sozinho com o russo, tanto pela multidão lhe dar nervosismo quanto o medo da possibilidade de alguém os interromper, vale ressaltar que se isso acontecer ele vai explodir

O russo decidiu tomar o controle a parte, puxou o companheiro até o balcão pegando um dos pratos de bolo que ali estavam — Comer doce no almoço nunca foi aconselhável caso não fosse sobremesa, entretanto o loiro decidiu deixar esse fato de lado por enquanto, afinal oque melhor que um belo bolo para adocicar o clima romântico? Ao menos era o plano do russo

— Eu sabia — Sage comentou orgulhosa de si mesma fazendo a namorada franzir o cenho

— Porque não me disse?

— Você não precisava saber — Deu um peteleco na testa de Jett e em resposta a grisalha revirou os olhos

Enquanto Jett balbuciava diversas coisas para Sage, Yoru e Sova se acomodaram confortavelmente em uma mesa afastada e aconchegante. O lugar não pegava tanta luz, mas eles preferiam assim, mesmo sendo alvos de olhares decidiram por fim ignorar ao máximo aquilo, normal era, e teriam de se acostumar provavelmente, isso caso desse certo. E em um doce movimento, Sova pegou parte do bolo e reuniu pouco da coragem levando o garfo até Yoru — Um rubor leve estava predominante em suas bochechas, o japonês por outro lado soltou um suspiro longo e feliz, algo que não passou despercebido pelo loiro que se apoiou em uma mão para desfrutar daquela cena: O azulado aceitou de bom grado o gesto e saboreou o bolo como se fosse o melhor do mundo

E mesmo com tantos olhares, o momento era deles, uma atmosfera agradável e suave que resultaria futuramente no inesperado mais esperado 

Maldição da Paixão | ValorantOnde histórias criam vida. Descubra agora