10.

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Acordo com sensação de quem não havia dormido há séculos. Braços envolviam meus ombros, dedos acariciam a pele das minhas costas com delicadeza, o que me arrepiou.
Ergo meu rosto devagar observando Aiden dormir tranquilamente a poucos centímetros do meu. Seu peito subia e descia sem pressa. Sem me conter, me aproximo mais cutucando sua bochecha com a ponta do meu nariz. Ele sorri com os olhos ainda fechados.

— Volte a dormir. — resmunga virando-se de costas para mim.

— Dificilmente eu volto a dormir depois que acordo, ainda com alguém que ronca tão alto! — passo meus braços por seu dorso e minha perna por cima do seu corpo fazendo a concha maior.

— Eu não ronco. — resmunga outra vez.

— Ronca, sim. E alto. — provoco. — Vamos, acorde. — peço me aconchegando em cima do seu corpo. O abraço preguiçosamente beijando seu pescoço — Acorda, Aiden...acorda, acorda, acorda. — repito até que ele se senta de uma vez me levando junto.

— Estou acordado. — murmura com sua cabeça apoiada no meu ombro.

Na tentativa de fazê-lo acordar, seguro seu rosto lhe enchendo de beijos até que ele se desperta começando a sorrir.

— Eu tenho um dia cheio. Seu pai vai chamar a Amanda Huston para assinar os papéis, eu preciso estudar mais um pouco pra prova de amanhã, e estou morrendo de fome, eu...- Ele me interrompe segurando meu rosto.

- Ei, vai ficar tudo bem. Você sabe o assunto de cor, se duvidar até mais que eu. - sorriu - Meu pai sabe o que fazer, ele sempre sabe. Eu posso fazer umas panquecas pra você? - arregalo os olhos surpresa.

- Por favor. - O beijo mais uma vez até que nos assustamos com as batidas da porta.

- Eu não quero entrar sem permissão, mas o café já está pronto. E filho, se estiver aí dentro, eu sei que você está, então...- controlamos as risadas. - Espero que esteja recebendo nossa hóspede muito bem. Eu estou ficando constrangido, vou indo. Ah, a Huston chega às onze.

- Obrigado, senhor Carter! - digo em meio às risadas.

- Não tem de quê, querida. - e se afastou.

- Vamos! - consigo o tirar da cama.

Nunca pensei que ver Aiden de costas para mim enquanto preparava panquecas fosse algo tão sexy, mesmo que de pijama.

Seu pai avisou que ficaria no pequeno escritório ao fim do corredor até que Hudson chegasse para assinar os papéis.

Isso me faz pensar em Mary. Apesar da pouca aproximação que tínhamos, ela se preocupava comigo. Parece que tudo o que passamos durante nossa vida, mesmo que amarguradas, ainda tínhamos um dever uma com a outra. Tínhamos responsabilidade, mesmo com as dificuldades. Minha conclusão é que ela já está acostumada com as reabilitações, não é a sua primeira, isso me alivia de certo modo.

Saio de meus pensamentos ao ser servida por um prato de panquecas recheadas com chocolate.

- Meio amargas? - ele confirma - Com recheio muito doce? - rola os olhos, impaciente me fazendo rir.

- Que tal você experimentar? - pega um pedaço com o garfo erguendo em direção à minha boca. A abro ingerindo a panqueca - E aí?

- Horrível. - brinco levando uma pequena quantidade de chocolate até o canto do seu lábio e o beijando ali mesmo.

Após o café da manhã, nos preparamos para a chegada de Hudson. A conversa foi longa e teimosa, na maioria das vezes eh precisava apenas concordar com os termos e restrições do acordo que o Sr. Carter fazia com Hudson sobre minha guarda nos próximos meses.

Correto demais (Contos de Riverside)Onde histórias criam vida. Descubra agora