Parte 1

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"É consenso que, depois de anos se dedicando a um determinado trabalho, a inovação seja um caminho para os artistas conquistarem um novo público e manter os antigos fiéis ao seu conteúdo. Mas Claire Gale parece ir na mão contrária. Depois de doze anos sendo aclamada por suas obras, sua criatividade parece ter se dissipado e tudo o que lhe restou são tentativas fracassadas de se reinventar enquanto produz o mesmo romance água com açúcar de sempre"

- É inacreditável! Romance água com açúcar? Criatividade dissipada? Tentativas fracassadas? "Te vi passar" é minha melhor obra em anos. É um trabalho onde eu saí da minha zona de conforto, mistura romance com suspense e aventura. Fiz um enredo cativante e cheio de personagens bem construídos, isso é um disparate!

- Fala sério, Claire. Eu não acredito que você ainda dá ouvidos a essa Sven Magazine... De uns anos pra cá tudo o que essa revista virou foi um antro de críticos mau amados que são pagos pra odiar as coisas. Completamente irrelevante.

- Eu sei disso, mas me machuca ouvir essas palavras horriveis depois de tanto tempo me dedicando. Seja verdadeira, Becca, você acha que esse livro é ruim?

- Claro que não, amiga. O livro é muito bom. Obviamente que não superou "Minha vida sem você", mas tá longe de ser horrível... Sabe o que eu estava pensando, talvez esteja te faltando inspirações novas pra suas histórias, o que acha?

- Então você simplesmente confirmou que a história não é boa, é isso...

- Não coloque palavras na minha boca, mocinha. Tudo o que eu disse é que não era meu preferido, e te aconselhei a respirar novos ares pra ver se você se inspirava mais.

- Eu acho que você tem razão... Pode ser bom pra mim. E pro meu trabalho.

Ninguém gostava de ouvir críticas ruins. Depois de anos como escritora, acostumada com aclamação e recordes de vendas, quando uma obra não ia bem, eu começava a me perguntar onde eu havia errado. "Te vi passar" havia sido o último livro que eu publicara, e o que havia demorado mais tempo para ser produzido. Eu havia me dedicado quase que inteiramente a ele durante pouco mais de três anos, então minha expectativa é de que seria um sucesso.

Apesar dos elogios dos fãs, a crítica especializada parecia não ter sido tocada como antes havia com as outras obras. Desde publicada, diversos sites pareciam ter formado um complô para falar mal do meu trabalho, me chamando de antiquada, sem criatividade, estagnada, chata, desinteressante... A lista de adjetivos era gigante. Minha sorte era ter meus fãs para contar, esses sim me apoiavam em tudo, e, mesmo que não gostassem de algo, fingiam só pra me ver feliz.

Escuto a campainha tocar e me pergunto quem seria naquele horário. Ao atender, vejo Mallik através do olho mágico.

- Mallik Gale-Jones, quantas vezes eu vou ter que te lembrar de levar a chave quando for pra escola? O dia que eu estiver irritada eu juro que vou te deixar esperando horas em frente a essa porta.

- Desculpa, mãe. Prometo que amanhã eu carrego ela comigo. Agora eu preciso ir pro meu quarto fazer a lição de casa.

- Espera, não está se esquecendo de algo? - respondo, apontando para Rebecca que estava sentada na bancada da cozinha.

- Me desculpa, tia Rebecca, nem vi que você estava aí.

- Como vai, meu amor?  Indo tudo ok na escola?

My Angel JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora