Eu corria o mais rápido que eu podia, merda não era possível que eu perdi mais uma vez um jogo importante para Kenma. O suor escorria por minhas costas, e quando entrei na quadra, eu vi as garotas recolhendo as bolas, e ajudando na limpeza do piso. Os jogadores davam seus últimos adeus para os treinadores.
Kenma estava de olhos fechados e bebia a água direto de sua garrafinha, apesar de estar de olhos fechados eu sentia sua decepção. Eu era culpada, e eu sabia disso. Quando caminhei até ele, eu senti algo estranho no meu coração, o que me fez parar, e sem querer, interromper sua fala.
- Pensei que ia me esperar na saída... - Ele disse.
- Na verdade eu acabei de chegar... - Falamos na mesma hora. Kenma deu um sorriso de lado, guardando a garrafinha na mochila, nessa mesma hora Kuroo chegou, passando seus braços por todo meu corpo, me dando um beijo no topo da cabeça, eu senti meu rosto esquentar, Kenma virou para nós, e novamente, nenhuma expressão em seu rosto, e eu não senti raiva, nem desapontamento, era como se, todo aquele sonho, tivesse me acordado.
- Ainda tá de pé nosso passeio no teleférico? - Perguntou ignorando o fato de que Kuroo estava agarrado em mim. Eu sorri para ele. Kenma ficou surpreso, era raro o fato de eu sorrir para qualquer pessoa, inclusive para ele.
- Acho que a gente já pode ir. - Me soltei de Kuroo, que sorriu tímido.
Caminhamos lado a lado, no mesmo silêncio perturbador de sempre, nossos corpos estavam tão longes um do outro, e eu me senti incomodada. Subimos para o teleférico, e eu não tirei a carteira de meu bolso, pensei um pouco, mas era só um sonho, e eu havia acordado, a realidade era essa, e eu estava a vivendo agora.
- Que bom que não pegou o dinheiro, porquê hoje não vamos ver a cidade de lá. - Ele disse me assustando, senti um enjoo me atingindo bem na boca do estômago.
- Por que? Seu prédio favorito vai ser reinaugurado hoje, e eu aposto que as luzes seria lindas de serem vistas. - Eu perguntei do mesmo jeito.
Mas, ele se manteve em silêncio, e eu sabia que era um não. Não iria insistir, porque Kenma era assim, um segredo, e apenas ele deveria saber, eu não era digna, eu estava ferindo sua alma, e eu não podia fazer mais nada, e muito menos assistir sua destruição.
- Você é feliz por ter me conhecido? - A sua pergunta não me pegou de surpresa, porquê eu sabia que ele diria isso.
- Por que isso? - Perguntei, eu teria a resposta dessa vez, porque as coisas não são como um sonho, e eu não estou presa nele.
- Às vezes, me tira o sono. - Disse sorrindo, ele não pegou em nenhum momento em minhas mãos, apenas continuou olhando para a cidade que estava se apagando aos poucos, assim como seus olhos.
Voltamos para a casa.
- Amanhã podemos nos encontrar? - Perguntei preocupada, por que dessa vez haveria um amanhã, era certo isso não era? Ele começou a abrir seus lábios para me dizer algo, mas eu o interrompi, me erguendo nas pontas dos pés, colocando nossos lábios como um só. Mesmo surpreso, ele aceitou, me erguendo um pouco do chão, enquanto me abraçava. Ele estava frio, mais não tão frio, como antes.
Quando nos separamos, tentei alcançar suas mãos, mas ele se afastou me deixando zangada.
- Eu queria que houvesse uma próxima vez. - E me dando um beijo na testa, me deixou sozinha, e eu corri para casa.
A mesma discussão, era rotina, mas isso me assustou. Eu corri para o quarto, e sentei na cama. O corpo gelado de Kenma ainda tinha vida, e seu coração pulsava. Droga, era só a merda de um sonho.
Mas, as 03:30 eu acordei novamente. A mesma voz, ela gritava, e eu estava fraca, mas eu corri mais uma vez, pronta para alcançar Kenma, mas isso não aconteceu. Era tarde demais.
- Você não pode me salvar mais. - E eu escutava essas palavras novamente, meu coração parando por um milésimo, e minha alma sendo quebradas, em pedaços.
Sua mãe gritava pelo seu nome, e eu já não sentia mais seu coração pulsar. Ele me deixou, novamente.
E eu acordei. Não era a merda de um sonho, eu estava presa, e eu repeti esse dia mais uma vez, eu fiz as mesmas coisas, eu repeti os mesmos erros, eu matei as memórias e as esperanças, e as mesmas palavras me assombravam. "Você não pode me salvar, agora" . A voz que gritou mais uma vez naquela noite, lembrou a minha própria, em completo desespero, seria a voz de minha consciência pesada? Ou, era a voz de meu coração, implorando para que eu não o destruísse.
A mesma discussão novamente, meus pais brigavam, e eu não pude mais ignorar isso. Se tinha algo que eu podia fazer, me diga agora Deus, diga-me, eu ainda posso salvar aqueles que amo? Mesmo que eu não possa mais ser salva?
- Vocês poderiam parar de gritar um com o outro, como se fossem dois estranhos. Vocês se amavam, e agora não resta nada? Nada mesmo? - Meu pai me olhou confuso, e minha mãe abaixou a panela que esteve prestes a lançar em meu pai. - Vocês ainda podem converter isso, vocês dois ainda estão aqui, e podem amar novamente, porquê o coração se vocês pulsam a cada palavra, ainda estão vivos, não me digam que é impossível. - Eu estava em plena súplica, não deixem que se vão, a última promessa.
E eles choraram, pela primeira vez em anos. Se abraçaram, e eu tive que me retirar, meu último abraço com o Kenma tinha acontecido, e eu estava quase convencida que meu castigo, era o inferno na terra, onde eu veria a pessoa que mais amo, partindo, e eu sei que não pude salva-ló, porquê nem eu mesma poderia fazer isso comigo. Eu sempre estive em pedaços, e em qual momento, eu deixei isso acontecer com ele também?
Me sentei na cama, meus olhos pesados. Eu tentei não dormir por dois dias, mas eu fracassei, e meus olhos fecharam, e eu revivi isso, a mesma perda, o mesmo frio tocando meu corpo. Se há algo que eu ainda possa fazer, você deveria me dizer, porquê eu sou frágil demais, para segurar uma pessoa prestes a quebrar.
- Querida? - A voz de minha mãe me acordou por completa, ela ainda estava chorando, mas ela sorria. - Essa carta chegou hoje de manhã para você, toma! - Me entregou, e antes de partir, me deu um beijo na testa. - Espero que você também encontre seu caminho. - Fechando a porta, me deixando sozinha com a carta.
No envelope dizia.
"Para um Haru, que repete os sonhos todas as noites."
De: De um Haru, que não há arrependimentos."
Meu coração disparou, o que poderia ser aquilo?
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Do começo ao fim. (Concluído)
FanfictionOs mesmos sonhos se repetem diariamente, estando presa no momento em que, Kenma, seu grande e único amor, resolve acabar com toda sua dor. Se amar, significa deixar partir, por que isso parece tão doloroso?