Viciado.
Era assim que eu estava agora.
Não fazia nem três semanas que eu estava com o aplicativo chinês instalado, mas já tinha sido tempo o suficiente para eu perder todos os objetivos que tinha na minha vida.
O que Heidi disse sobre os vídeos que apareciam se adaptarem ao usuário era verdade; minha "For you" só trazia coisas sobre fatos históricos, curiosidades científicas, fotos com pessoas "antes e agora" e, de vez em quando, algumas dancinhas, o que tornou muito mais fácil a minha perdição.
E claro que não podemos esquecer da Maley, a garota que foi o meu impulso inicial para baixar a rede social dos vídeos continuava intacta em seu pedestal como a minha favorita.
Continuava intacta e fazendo crescer meu apreço por si cada dia mais.
Como se não bastasse eu ter me viciado em uma música completamente aleatória por sua causa, agora eu me via explicitamente viciado em seus vídeos e, talvez, até em sua pessoa.
Certo, é mentira. Não era questão de talvez, eu estava de fato viciado em sua pessoa.
Chegava a ser frustrante (e um tanto vergonhoso) perceber a velocidade que eu tinha levado para cair por si.
Mas eu, como bom pregador de Elisabeth Kubler-Ross, já tinha passado pelos cinco estágios da aceitação (ou luto, se formos considerar o fim da minha dignidade) e me encontrava pleno sobre o fato de ter me tornado um possível lunático do fandom da garota. Tanto que já tinha entrado no grupo do Facebook só de Maley lovers (ou Malers, não definimos ainda, a votação está em aberto).
O "Grupo pra latir pela Maley" era um porto seguro. Ali eu podia interagir com outros viciados na Tiktoker e comentar sobre ela o quanto eu quisesse, sem ser julgado.
Não que eu fosse oprimido por ser fã de alguém. Cruzes, isso seria terrível! Meu caso é que 99,9% dos meus amigos e colegas estão dispostos a fazer do tópico uma piada memorável e quase eterna. E Stan, o único com quem eu tenho certeza que poderia desabafar sem ter que receber uma chacota em retorno, parece ter completa aversão pela menina; ele nunca me disse nada, mas sempre fica aborrecido quando começo a falar sobre o assunto.
Mas, voltando ao ponto...
No grupo do Facebook eu podia conversar abertamente sobre a Maley, trocar memes da Tiktoker e fazer parte de debates inúteis que não me agregariam em nada (academicamente falando). E eram tantas pessoas ali; mais de três mil usuários compartilhando o mesmo gosto.
"Chega a ser reconfortante" foi o que pensei nos primeiros dias.
Mas depois do quarto ou quinto debate na plataforma, quando minha galeria do celular já gritava por socorro depois de salvar tantas imagens de Maley, eu percebi que... Se nós éramos tantos... A tiktoker nunca iria me notar em maio a aquele mar de fãs.
Ser notado... Meu coração acelerava com a mísera possibilidade de isso acontecer. Notei que não queria ser um mero fã quando comecei a comentar em todas as suas postagens e percebia o meu próprio incomodo lendo o que os outros usuários tinham escrito ali.
Foi demais me auto analisar e pensar na possibilidade de estar apaixonado. Não, isso seria absurdo! Mas... Saber que eu nunca vou ter a chance de conhece-la... Que eu nunca vou nem ouvir a sua voz... Eram possibilidades que me atingiram como balas.
E agora, além de viciado, eu estava triste por mim mesmo e ainda pensando formas de entrar em contato com a garota. Eu não posso aceitar que vou passar a vida inteira ocupando uma posição de fã. Por isso, naquela noite de sexta, eu estava deitado em meio a várias cobertas, afundando no conforto de minha cama enquanto pensava em formas de chamar atenção da minha ídola tiktokeira dançarina.
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Quem é esse Tiktoker?
FanfictionA cidade de South Park caiu em outro vício, o Tiktok. Kyle parece ser o único que continua com a mente sã, mas será que isso vai durar? Ou talvez ele também se perca e deixe passar despercebidos sentimentos e pessoas importantes?