Interlúdio: Timor

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“Venha aqui.” Jimin ouviu enquanto andava pela floresta nebulosa. “Não, venha aqui.” Olhou para o lado, porém, nada encontrou.“Eu posso lhe mostrar o rosto de sua mãe.” Olhou para cima e as árvores cobriam todo o céu. “Eu posso lhe dar todo o poder que quiser.” Outra voz falou mais perto, sentindo sua presença, mas ao virar de costas, havia nada.

Acordou e sua visão ia se acostumando com a falta de luz, sentou na cama olhando para os lados, havia nada em seu quarto, estava em completo silêncio. Saiu da cama e pegou uma lanterna. Abriu a porta do quarto e foi até a biblioteca, seu refúgio quando o sono lhe fugia. Ligou a lanterna e começou a procurar entre os milhares de volumes que ocupavam as estantes. Alguns já tinha lido, outros não chamavam tanto sua atenção. Andou pelos corredores até pôr os olhos em um caderno de couro no fim de uma prateleira. Na capa estava escrito: pertence a Abraham Van Helsing, em inglês. Jimin foi até a primeira página que dizia:

1793

“Estas são memórias de minha juventude, acredito que tenho cruzado o caminho com forças misteriosas das trevas. É um milagre que ainda esteja vivo, mas meu tempo é curto então decidi deixar registrado para sempre, para avisar aos que entrarem em contato com esse diário.

A história começa quando minha mãe decidiu hospedar um jovem herdeiro. O conheceu durante uma tarde em que passava com suas amigas, ele estava a procura de um lugar para ficar, contou como era difícil se encaixar nesse mundo e minha mãe compadeceu-se de sua história e o chamou para morar conosco na nossa propriedade perto de Amsterdã, era um vilarejo pequeno perto da natureza. Todos ficavam encantados por sua beleza, nos enfeitiçava e deixava na palma de sua mão. Seu nome era Kim Taehyung.
Ficamos amigos logo de início, muito tínhamos em comum e conversávamos durante horas sobre os assuntos que nos recaíam pela nossa idade. Taehyung era como o amigo perfeito, o cidadão perfeito e o filho perfeito.

Porém.

Ele possuía um lado inumano, selvagem e contra o bom Deus. Em uma fatídica noite eu o vi sugar o sangue de nossa copeira. Fiquei horrorizado e quase gritei, queria fugir, mas meu corpo não obedecia. Desviei o olhar e apenas ouvi seus passos para longe dali, era minha chance de fugir.

No dia seguinte, durante o desjejum, todos se perguntaram por que Celine estava tão pálida, respondeu que apenas não se sentia bem, terminou de servir e voltou a cozinha, momentos depois ouvimos um barulho, corri para lá antes que os outros se levantassem. Celine havia desmaiado, usava um lenço no pescoço e quando o retirei, vi marcas de presas como cobras em seu pescoço. Pedi que chamassem o médico, ele recomendou repouso prolongado. Queria ir até Taehyung e confronta-lo pelo que fez, perguntei onde estava e disseram que tinha ido à cidade. Quando chegou era a hora de faze-lo sair de nossas vidas, porém, quando o vi entrar e retirar o chapéu, meu corpo paralisou.
“Abraham! Desculpe não poder acompanha-lo no desjejum.” Ele se aproximou de mim. “O que acha de cavalgar mais tarde, amigo?” Acho que fiz um leve gesto respondendo sim, evitei olhar para seus olhos castanho-vermelhos, sentia que ele sabia sobre eu o ver naquela noite. Meus instintos me diziam para não fazer nada pelo bem de minha família e o meu também. Procurei ajuda no único lugar que entenderia meus medos. A igreja estava vazia e felizmente o padre estava livre para poder ouvir todo o peso que carregava. “Reze para Deus, meu filho, apenas ele irá ajuda-lo e guia-lo.” Dissera ele e quando saiu do confessionário rezou com mais força do que já o vi fazer. Segui seu conselho e todos os dias pedia ao Pai para que ficasse salvo, para que todos ao meu redor, fossem resguardados pela proteção divina. Porém, Taehyung, cada dia ficava mais próximo, tentava ao máximo disfarçar para que eu não fosse sua próxima presa.

Vivi com esse acontecimento em minha mente por toda minha vida. Com o passar do tempo, mais vítimas vieram e ninguém desconfiava, corpos eram encontrados na floresta com toda sua vida sugada, mães perdiam os filhos, até os abades perderam seus irmãos. Eu sabia quem era o culpado, não aguentava mais viver com essa culpa, contudo, minha covardia era maior. Tudo que conseguia fazer era rezar a Deus, conclui que não mês escutava, minhas preces não foram atendidas por meu próprio medo.

Tainted Love | vmonOnde histórias criam vida. Descubra agora