infinity. louis partridge

capítulo nove

ninguém nunca tá preparado para perder alguém que ama. eu pensara que perderia ela para alguém mais bonito, mais inteligente ou mais interessante que eu. mas a perdi para um maldito vírus.

S/N FONTANNA
2003 - 2020
filha e amiga amada

os dizeres da lápide fizeram mais lágrimas se derramarem pelo meu rosto. e, apesar de não ser saudável, me sinto extremamente culpado.

eu a levei para à pista. eu a incentivei a dar aquela manobra e eu fiz com que ela saísse da quarentena. ela pegou covid-19 por minha causa!

e eu nem pude dizer o que sentia.

---- s/n fora uma pessoa amada. ela levava amor por onde passava e retirava sorrisos de muitos com suas piadas. ela sempre foi gentil com todos e, como muitos antes dela, fora tirada de nós de modo prematuro. mas deus sabe o que faz e tenho certeza de que ela nos olha lá de cima.

soluço com as palavras do avô dela. eu me lembro de vê-lo uma ou duas vezes no café. ela não gostava de te-lo lá pois ele tiraria a máscara para beber algo, pondo assim sua vida em risco.

harry, madeline e jack dizem algumas palavras. estou alheio demais em meus pensamentos que não escuto quando meu pai diz que eu deveria ir me despedir.

não quero fazer isso! não quero me despedir dela. eu amo ela. ela é minha e eu sou dela. somos almas gêmeas. mas não posso desaponta-la, preciso dizer todas as coisas boas que ela era.

---- conheci s/a no louvre's coffee - fungo e seco lágrimas do canto dos olhos. ---- era meu primeiro dia no café e ela foi muito gentil comigo. com todos que entravam lá, na verdade. ela não tirava um sorriso do rosto e foi por isso que me apaixonei, pelo sorriso e doçura dela. ela costumava dizer que seu charme é... hum... era - não me acostumo com a palavra.

---- sua melhor característica - continuo. ---- eu não duvido porque ela era perfeita. mas a minha favorita é sua empatia e sua gentileza. eu amava tudo sobre ela, eu sempre vou amar. odeio não poder ter dito isso à ela - me viro para sua lápide, estampando a foto de uma típica s/a sorridente, e sussurro : ---- eu queria ter feito mais por você, você merecia o melhor. eu te amo.

não me lembro do que aconteceu depois. só me lembro de chorar até a desidratação. chorei no carro, na mesa e na cama. não deixei que issie ou millie entrassem para que não presenciassem uma cena tão deprimente.

eu sinto tanta a falta dela. sinto falta das chamadas de vídeo. sinto falta de experimentar coisas novas todos os dias no café. sinto falta de nossas conversas sem sentido algum. sinto falta de admirar seu rosto pela tela e imaginar uma vida com ela. sinto falta dela mais que tudo.

na segunda-feira há um mural com homenagens à pessoa maravilhosa que ela foi. leio tudo que as pessoas deixaram para ela, sei que ela fora muito amada quando viva aqui no café. e me odeio por não ter sido amada o suficiente por mim.

pego um bloco de notas e me sento na mesa que eu sentara com william à menos de duas semanas atrás.

ela entregava os pedidos e agradecia à cada um com um sorriso genuíno em seu rosto bonito. delicada, olhos brilhantes e boca que eu imagino ser um tanto quanto macia. sim, talvez eu tenha me apaixonado à primeira vista.

── obrigada. volte sempre - a moça bonita agradece ao senhor que estava na minha frente. quando a olho outra vez, sou recebido com o sorriso mais lindo desse mundo. não teve como eu não retribuir, seu sorriso é contagiante. ── bom dia, como posso ajudá-lo? - essa é a voz que a gente escuta quando chega no céu ? quero perguntar, mas me contenho.

começo à escrever no pequeno bloco de folhas amarelas o que ela disse - há muito tempo - que gostaria de ser dito em seu funeral quando morresse - coisa que eu não fiz já que estava triste demais para falar mais.

me lembro do sentimento de ter chamado ela para sair no dia em que william me acompanhou. estava inseguro demais com a beleza dele ofuscando a minha.

---- gatinho á vista - escuto a amiga de s/a falando e coro. olho outra vez por cima do livro e vejo que estavam falando de outro, william, que acabara de entrar pela porta de vidro. por favor, que william não conquiste ela com sua beleza absurda, peço.

quando olho na direção das garotas, vejo que s/a olha para mim. ela acena e eu aceno de volta com um sorrisão - como o bobo que sou. quando ela desvia o olhar e atende outras pessoas, continuo com o sorriso no rosto.

antes de voltar para minha casa, para passar o resto do fim de semana no quarto, vejo jack, harry e madeline entrando no café. me escondo atrás do menu. não quero conversar com ninguém agora, muito menos alguém que me lembre dela.

---- louis - mad me vê e chama meu nome. aceno com a cabeça, pedindo silenciosamente para que não falassem comigo agora.

---- vem cá - recebo um abraço de harry. e, apesar de não ser próximo dele e termos trocado palavras pouquíssimas vezes, abraço de volta. porque, apesar de não admitir, eu precisava disso. sinto que harry compartilha da mesma dor que eu, porém segura o choro.

---- eu sinto muito - jack e mad juntam ao abraço. vejo um resquício de lágrimas no rosto de jack, que ele limpa com uma passada de mão no rosto.

---- tenho certeza de que não gostaria que ficássemos triste por sua partida, mas feliz pela pessoa maravilhosa que foi. um cappuccino ? - mad sugere. cappuccino era a bebida favorita dela.

antes de nos sentarmos numa mesa mais espaçosa para nós quatro, fico de frente para o quadro com as homenagens para ela. dou uma última olhada em sua foto sorridente, não sei quando ela a tirara, mas ela estava magnífica, ela era magnífica.

sinto muito se este mundo
não te ofereceu segurança
que sua jornada para casa
seja suave e pacífica

── descanse em paz

um poema de sua poeta favorita, sei que ela gostaria disso.