Mirei os esverdeados vidros das varandas daquele vasto prédio. Aquele lugar logo me deu repulsa. Talvez fosse a saudade de casa que já me afetara, ou o medo do que encontraria por vir. As paredes de marfim contrastavam com os vidros verdes e me davam a impressão de que aquele lugar era aconchegante. Teria me acostumar com esta visão, aliais, este seria minha mais nova moradia.
– Olá! – sorri de lábios fechados para o mimo de senhora que digitara algo em seu computador de segunda mão. – Ahn, meu nome é Elizabeth. Eu sou a garota que a Amber Pasken indicou.
A senhora continuou a me olhar por trás de seu óculo fundo de garrafa. Gesticulei às mãos esperando por alguma responda da mesma que estava parada, me observando.
– Elizabeth Aniston? – semicerrou os olhos deixando-os ainda mais pequeninos. – Seu apartamento é o 102. Têm sorte, o seu têm varanda. – sorte. Sorte? Ri torto enquanto me martirizava. Se há alguma palavra extinta de meu vocabulário, está é sorte.
– Obrigada. Tenho certeza que esta será uma excelente moradia. – a senhora riu debochada, pois ela sabia o que estava por vir.
Guiei-me sozinha até o velho elevador do prédio. Pus todas as pesadas bagagens para dentro da velha geringonça. Apertei os números esperei pacientemente que ele subisse com sua lentidão.
Um leve arrepio me passou pela espinha, talvez fosse à lembrança dos últimos momentos ao lado do Dom. Claro, depois de quase ser abusada, com certeza ficaria traumatizada pelo resto da vida. Ah, aquele paspalho impuro que tentou me tocar, sorte que o Josh estava por perto, ao contrário, eu estaria literalmente fodida.
O agudo apito do elevador fez um leve choque me trazer de volta a realidade. Ajustei as malas conforme cabiam em meu corpo, e dei partida para frente da porta que sinalizava em prata os números 102 ressaltados.
Encaixei levemente a chave no ferrolho enferrujado. Abrir a porta com receio, eu temia que Amber não fosse totalmente como eu esperava, mas ao varrer todo o local e fisgar na menina que assistir televisão, sentir um alívio passar sobre meu corpo.
– Elizabeth. – um grito fresco saiu por seus lábios. – Oh, meu Deus! Você é ainda mais linda pessoalmente. – caminhou saltitante até mim. Estendi às mãos, mas ela me ignorou me abraçando.
– Você é exatamente como eu imaginava. – soltei-me do abraço.
– Linda, não é? – sorriu histérica. – Fica a vontade. Vem, vou te ajudar com as malas.
Fui guiada por ele até um vasto cômodo. Uma cômoda de madeira branca era decorada por um abajur dourado. Algumas paredes eram decoradas por pôsteres de algumas bandas e rappers, os que mais se destacavam eram do The Maine. Do lado oposto era tudo diferente, as paredes eram nuas em cor-de-bege. Uma cama de solteiro branca era decorada por um fino lençol de linho rosa, que se decorava com algumas flores. No canto uma enorme vidraça ocupava toda a parede, dando acesso a uma pequenina varanda de 10m², decorada por alguns arranjos de flores.
Caminhei até ela abrir a porta corrediça. Um forte vento adentrou por todo o quarto fazendo um pequeno redemoinho se formar. Meus cabelos voaram ao curso do vento, foi então que percebi o quanto eles haviam crescido. Encontravam-se abaixo dos cotovelos, encaracolados e loiros acinzentados. Foi então que me dei conta do tempo que havia passado sem os cortar, mas, afinal, depois de tudo aquilo cortar o cabelo era o de menos.
– Acho melhor fechar logo a vidraça, pode entrar alguns pernilongos chatos. – Amber fez careta. Recuei alguns passos fechando a vidraça.
– Amber...
Ela me interrompeu. – Só Amb, por favor.
– Ok, então Amb, onde eu posso guardar minhas coisas?