DIA 01 - QUARENTENA - "ENCURRALADA"

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          Abri os olhos e encarei as manchas do meu quarto, sentia estar a espera de algo indecifrável. Quando me levando, nua, vou ao encontro de roupas. Aponto, com movimentos mecânicos, para a camiseta pendurada no armário e meu corpo segue o resto do movimento com naturalidade, até que as pontas dos meus dedos se deparam com uma parede onde deveriam encontrar um tecido leve, arrasto as mãos para o lado e tudo parece uma parede onde, olhando com atenção, não há nada além de uma pintura do meu armário. Perplexa, vou em direção à estante, tentar pegar um livro e coloco-me na mesma situação: uma pintura e nada mais. Agoniada, corro para a janela, tento arrastar as cortinas e elas não se movem, mostrando-se como pelas pincelas e nada mais. Começo a sentir o desespero subir para a garganta e agarra meu pescoço com suas mãos invisíveis quando percebo que estava dormindo no chão ao lado da copia bidimensional da minha cama e, então, corro em direção a porta e só encontro mais do mesmo.

          Percorro, exasperada, todo o quarto com as mãos, tentando tocar em algo que não fosse a plana e assustadora pintura da ideia da realidade daquele cômodo e depois de voltas e voltas por todos os quatro cantos correndo, meu coração parece que irá quebrar minhas costelas e fugir, como eu, encurralada, ansiava fazer e começo a ficar tonta, grito por ajuda, implorando para alguém, algo, o que for, me tirar dali, até que tropeço e caio.

          Abri os olhos e encarei as manchas do meu quarto, sentia estar à espera de algo indecifrável. Mas dessa vez sinto meu corpo de encontro ao colchão, as cobertas cobrindo meu corpo, a parede branca ao meu lado. Respiro, mas não me sinto aliviada, sigo encurralada, apenas num cômodo maior: minhas rotina/vida.

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