Podia sentir cada átomo do meu corpo fervendo, minha alma estava em chamas e a intensidade era tanta que por um breve momento me perguntei se meu corpo suportaria aquela sensação.
Cada movimento meu foi sincronizado com o brilho do Sol, como se suas luzes me conduzissem numa dança singular e deixei de me sentir humana, deixei de sentir o peso da carne, eu era puro fogo, pura energia, pura natureza.
Havia acordado nesse bosque, vestindo a mesma camisola da noite anterior e não me lembrando de como fui parar ali, mas assim que abri os olhos, que tive consciência da grama macia entre os meus dedos e o brilho do Sol na minha pele, entrei em chamas e senti a musica da ventania me convidando a mergulhar naquele momento.
A força da ligação do meu corpo com a natureza, com o Sol, foi o que de alguma maneira me jogou nessa fogueira, mas não estava queimando, eu havia me tornado ela, estava fluindo, crescendo, era um elemento em constante transcendência, não era apenas fogo, era uma miscigenação de fogo com energia e a conexão com todos os outros elementos: o vento nos meus cabelos e ouvidos com a grama úmida sob meus pés. Em algum momento na mudança dos dias eu havia conseguido me misturar com o universo, deixando temporariamente o mundano para trás e seguindo como energia sintonizada e em constante transcendência, como se cada vez que o ar sair do meu corpo depois de percorrê-lo todo minha alma expandisse, eu estava onipresente em todo lugar, enquanto me movia podia sentir o toque de uma borboleta voando ao longe, o frescor da galáxia e a movimentação dos mares.
Quando percebi, estava em frente a uma arvore com raízes gigantescas que terminavam em uma cachoeira escandalosa. Tocando o tronco com as mãos e a agua com os pés eu não pude conter a intensidade da conexão e senti meu corpo se esvaindo, desmoronando sobre as raízes e a agua, meus olhos s fechando e a visão escurecendo aos poucos, meu cabelo tocando as pedras úmidas e minha vida flutuando de encontro com o universo gradativamente enquanto eu morria sutilmente e fluía para o próximo estágio da Vida.
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devaneios cotidianos
General FictionUm conjunto de narrativas inconclusivas resultantes de divagações rotineiras usadas como escapatória, calmante ou relaxante para a realidade dos dias turbulentos.