𝚊 𝚋𝚛𝚒𝚐𝚊

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𝟸𝟺 𝚍𝚎 𝚓𝚞𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚎 𝟸0𝟷𝟼 

𝙷𝚘𝚛𝚊 𝟿 𝚍𝚊 𝚟𝚒𝚊𝚐𝚎𝚖

𝚂𝙰𝙼𝙰𝙽𝚃𝙷𝙰 𝙷𝙰𝚁𝚅𝙸𝙲𝙺

A playlist da viagem de carro de Amanda é, basicamente, uma coleção de clássicos do country de muitas e muitas horas.

Eu nem imagino de que mausoléu abençoado ela conseguiu desenterrar tantas músicas do mesmo gênero, mas está definitivamente funcionando para manter o meu bom-humor apesar da bunda quadrada no banco.

As janelas abertas do Chevrolet possibilitam a circulação de um vento apressado que sem dúvida embaraça meus cabelos. Miado está adorando a experiência de botar a cabeça e a língua pra fora, por mais que eu desconfie que ele vá adormecer daqui a pouco. Amanda dirige com muita atenção, mascando o chiclete de desculpas do irmão com os punhos cerrados no volante. Colin tem seu merecido descanso no banco traseiro, o corpo todo torto sob um cobertor de camurça e o braço tapando seus olhos da claridade.

Sorrio sozinha. Amanda instruiu que eu me esparramasse a meu bel prazer no assento, de preferência sujando o porta-luvas com meus tênis imundos, e é o que estou fazendo de bom grado. O country que toca agora já deve ser o terceiro ou quarto da Taylor Swift.

— Fale comigo, Sam — pede minha melhor amiga, aumentando a velocidade com que mastiga o chiclete. Seus olhos injetados são o retrato do pavor. — Vou ter que me enfiar numa curva e preciso de distração. Fale comigo.

Eu exibo um biquinho.

— Hm. Okay. Está ansiosa para o teste fotográfico?

Os ombros de Amanda imediatamente relaxam.

— Bastante. Quero dizer... a agência do seu pai parece legítima, não é? Com todas aquelas fotos e informações no Facebook. Já pensou se ele me consegue um contrato?

Eu balanço a cabeça.

— Você ainda está em contato com ele?

— Ah, não, não. Achei que seria estranho, sabe. Conversar muito. — Amanda gesticula com os braços, parecendo uma galinha tentando alçar voo. — Ele já me deu a oportunidade e o endereço da oportunidade. Amanhã é que vamos ver se valeu a pena.

Logo que esbarramos com o perfil de John nas redes, Amanda surtou totalmente ao descobrir como ele ganha a vida. Quando eu tive certeza de que o homem é mesmo meu pai, usá-la para falar com ele pareceu o encaixe perfeito, uma vez que John nunca suspeitaria da abordagem de uma modelo interessada em seu trabalho. Eu queria ver se meu pai era legal e se trataria Amanda com respeito, pois não pretendia atravessar uma milha do país e arriscar tudo com a minha mãe para acabar decepcionada com um imbecil de meia tigela — mas, felizmente, não acho que terei esse desgosto.

Meu pai foi muito gentil com minha amiga desde o início, e lhe ofereceu a oportunidade do teste em dois dias de conversa. Amanda surtou de novo, convencida de que seria lançada para as passarelas no segundo em que os cliques começassem. E não estou duvidando do potencial dela ou da agência, é claro, mas até eu sei que não deve ser tão fácil assim para modelos iniciantes.

Se reparar bem, acredito que todos nós precisamos voltar com os pés para o chão.

— Vai dar certo, Mandy. Quem sabe você até não se mude para Woodland comigo se eles decidirem te agenciar?

Não falei?

A garota dá risada.

— Ai, Sam. Você sabe mesmo como injetar delírios em alguém.

O Pior Segredo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora