𝟷𝟻 𝚍𝚎 𝚓𝚞𝚗𝚑𝚘 𝚍𝚎 𝟸0𝟷𝟽
𝟷𝟷 𝚖𝚎𝚜𝚎𝚜 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜
Foi definitivamente estranho que o primeiro casamento que compareci na vida tenha sido o da minha mãe.
Como madrinha, eu assisti tudo de camarote, ao lado esquerdo do altar junto de Mandy, em um vestido cor-de-pêssego que combina com a minha pele muito bem. Preciso admitir que a cerimônia foi uma graça, e a troca de votos me deixou com os olhos ardendo um pouquinho.
Eu os declaro marido e mulher, dissera o oficiante. Quando ninguém preferiu falar agora ao invés de calar-se para sempre, eu soube que não tinha mais volta, e que minha mãe era uma senhora casada.
Ela tem uma larga aliança de ouro cravada no anelar e uma aura romântica brilhando ao seu redor. Seu vestido é obviamente branco, com flores bordadas à mão do corpete até o final da saia. A grinalda é uma tiara que suporta o longo véu sobre suas costas, e a maquiagem foi uma cortesia de Amanda como presente — minha amiga anda treinando bastante as suas habilidades desde que começou a levar ainda mais a sério a carreira de modelo. Ela diz que, caso desista de se tornar a próxima Gisele Bündchen, ficará satisfeita em ser apenas a maquiadora favorita dela.
Eu respiro fundo, delicadamente retirando o véu da cabeça de mamãe. Mandy está prostrada em cima da mulher, com seus pincéis e sombras ao ataque.
O salão de recepção reservado para a festa é bem espaçoso e tem até um camarim com o nome da estrela do evento na porta: Tara Delgado. Não mais Harvick como eu, e sim Delgado como seu marido. Foi um golpe meio amargo, mas compreensível. Também ando considerando acrescentar o sobrenome do meu pai nos meus documentos, então acho que estamos quites.
— Amanda, querida, pode agilizar? — mamãe pede, imóvel. — Se eu deixar Weston muito sozinho, ele vai entrar em combustão feito um palito de fósforo.
Eu sorrio de lado, e guardo os acessórios mais chiques do casório na mala.
— Tô quase terminando, Tara — Amanda responde, desenhando o delineado com muito cuidado.
Nós tivemos um ano bem intenso, sem sombra de dúvidas. Em Woodland, a prisão de John Barker virou notícia estadual, e dezenas de pessoas se encorajaram para falar contra ele — algumas eram pais de crianças, outras, as próprias crianças. No computador do homem foram encontrados motivos o suficiente para enjaulá-lo pelo resto da vida, sem possibilidade de recorrer. Minha mãe fez questão de voltar até sua cidade natal mais uma vez para se posicionar no julgamento, com o apoio da nossa família também. Depois de tanto tempo, Tia Reena ficou especialmente horrorizada pela podridão do ex-cunhado.
Ele continua preso — agora, pelo o que importa de verdade. Colin comentou que John talvez seja morto antes de completar cinco anos atrás das grades (porque certos crimes são imperdoáveis até na prisão), mas eu já acho ótimo que o homem apenas não represente mais perigo nenhum aqui fora. Eu não quero pensar nele, falar sobre ele ou me lembrar.
Terei dezessete anos em um mês, e não vou marcar a data como o dia em que fugi para encontrar um pedófilo.
— Pronto! — Amanda exclama, e salta para longe de mamãe com um sorriso de orgulho. — Está um arraso, esposinha do ano.
Mamãe ri, abre os olhos e se levanta para conferir no espelho o resultado.
— Obrigada, querida. — Ela penteia a sobrancelha e olha pra mim pelo reflexo. — Sam, pode dar uma apertada no meu vestido? Ainda não é a minha lua de mel para que ele já esteja quase caindo.
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O Pior Segredo do Amor
Novela JuvenilSamantha tem um plano. Depois de dezesseis anos vivendo sob as garras de uma mãe extremamente controladora, com a constante dúvida sobre a real identidade de seu pai, ela decide fugir de casa para ir ao encontro do homem que nunca conheceu. Dentro...