Everaldo, os cadáveres e o sequestro

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- Você atacou eles! Isso é um absurdo! Você faz algumaideia do quão prejudicial isso é para o Lestat?!!

- Imagina se as pessoas saírem daqui falando que oLestat agride seus clientes! Everaldo você tem que parar deusar seus punhos como diplomacia!

Carmillo era um vampiro baixinho e gordo de uns 50 anos,com seus cabelos loiros tão ralos que era possível ver seucouro cabeludo por baixo, a papada em seu queixo pulavaenquanto ele gritava e seu rosto mudava constantemente dovermelho escuro para um vermelho ainda mais escuro. Everaldosabia que vampiros não podiam ter ataques cardíacos, mas asvezes se perguntava se estava errado, Carmillo nesse momentoparecia a beira de um.

- Você quebrou o pescoço dele!!- continuou espumandopela boca 

Era estranho, geralmente quando um humano virava umvampiro, a maior parte suas imperfeições sumiam, e o humanoficava mais atraente e sedutor, se Carmillo era assim quandomorto-vivo Everaldo achava que quando vivo Carmillo era maisfeio que acidente de jumento. 

- Eu juro que eu tento Everaldo, mas você me tira dosério! 

A sala de Carmillo ficava no segundo andar do Bar, eapesar da opulência, tudo nela era de mal gosto. A sala emsi era grande com paredes vermelhas e uma janela fume quedava vista para a cidade. Um tapete de onça pintada marcavapresença no chão e combinava com o "autorretrato" de Carmillona parede, atrás da mesa chique de escritório. Retrato esseque mostrava um Carmillo com uns quilinhos a menos, maiscabelo e um olhar de soberania enquanto ele se posicionavasentado num trono coberto por peles de onças. A sala cheiravaa perfume forte.

- O que você tem a dizer em sua defesa!? – FinalizouCarmillo

- Olha Carmillo, eu fiz o que você me contratou parafazer... eu acabei com a algazarra que aqueles senhoresestavam fazendo.

- Eu mandei você acabar com um problema Everaldo!! Nãome arranjar outro!

- O que você quer que eu faça Carmillo? Peça desculpas?

- É um começo –respondeu ficando um pouco mais calmo.

- Eu não vou pedir desculpas!

- Você vai! Esse grupo de vampiros faz parte de um clãque frequenta assiduamente o Lestat, diria até que eles sãomembros fieis do bar!

- Com toda a sinceridade Carmillo, mas nenhum clã derespeito leva a sério um vampiro de sandália. 

- Porque você é assim Everaldo?! Eu não aguento maissua insolência! Me dá um bom motivo para eu não demitirvocê?!

- Porque você sabe que você não vai arranjar outrolongevo para proteger essa joça. Se eu sair daqui você vaiter que lidar com um bando de morto cheio de fome sem ninguémrealmente decente para te ajudar.

Era verdade e ambos sabiam disso, se tornar um longevonão era uma coisa fácil nos dias atuais, a maior parte dosmortos-vivos virava bestial ou pisava na bola e era mortapor caçadores. Além do fato de Everaldo ser velho ele eraforte e até certo grau inteligente. Encontrar outro assimera difícil, mas nada impedia Carmillo de procurar e Everaldosentia que quando o chefe encontrasse seus dias comosegurança estariam contados. 

Com um ar de derrota Carmillo sentou-se na cadeira atrásde sua mesa, o silencio tomou conta da sala por um instantee Everaldo ficou tentado a preenche-lo com algum comentárioem forma de piada, mas já havia dito e feito o suficiente eainda que não pudesse ser demitido, Carmillo podiatransformar sua não vida num inferno.

- Everaldo, você vai fazer o seguinte, eu estou cansadodas suas atitudes recentes, essa é qual? A terceira vez nomês que você quebra o pescoço de um cliente? E a gente tá sóna segunda semana do mês! Eu acredito que preciso terepreender de alguma forma.

- Olha Carmillo...

- Cala a boca! – Gritou, o vermelho voltando para o seurosto.

Tentando se recompor Carmillo voltou a falar

- Você pode ser um longevo, e pode ser um bom lutador,mas sofre do mesmo mal dos seres da sua idade. Você tem umego inflado.

- Você vai consertar isso. Você vai até o clã deles evai se desculpar em nome do Lestat.- Eu não acho que...

- Esse é seu problema! Seu achismo! Esses vampiros desandália fazem parte de uma rede de fregueses que trazemdinheiro. Então você vai sim pedir desculpas! Ou me ajudeDeus eu vou transformar sua existência miserável em algoainda pior! Agora você tira sua cara de pau da minha sala evai caçar o que fazer! Estamos conversados.

Everaldo sentiu a raiva subir por seu pescoço, masengoliu o desprezo e saiu da sala. Desceu as escadas e foiatrás de algo que poderia fazer passar sua raiva. Conversarcom Ione. 

Mas ao chegar no primeiro andar não a encontrou, em seulugar de costume estava somente Luan o segundo Bar tender.

- Fala Luan – disse Everaldo ainda de mal humor.

- Como vai? Ouvi dizer que quebrou o pescoço de alguémhoje, deve estar tendo uma noite ruim. 

- Bota ruim nisso! Você viu a Ione?

- Ela foi fumar no beco lá fora, por algum motivo elaparecia meio nervosa. 

- Deve ser só fome- respondeu Everaldo dando as costasao bar e indo em direção ao beco.

Everaldo em seus 160 anos de vida já havia visto muitascoisas, já havia experenciado muitas sensações esentimentos, mas nada poderia prepara-lo para o torporseguido por desespero que o tomou no momento que ele pisouno beco fora do Lestat. O casal de amantes se encontrava empedaços e sangue cobria quase todo o beco escuro. Na rua aolado do beco se encontrava uma van e dentro dela 3 homensseguravam o corpo de uma pequena figura de cabelos azuisinconsciente. Ao perceberem que estavam sendo observados umdos homens gritou para irem mais rápido e com um movimentorápido, a porta da van fechou-se e os pneus cantaram soltandofumasse na arrancada. Toda a cena durou apenas algunssegundos e Everaldo voltou a si. Ione, sua melhor amiga, suaúnica amiga, tinha sido levada por caça folclóricos.









 




















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