Júlia

Lilás Salmão

Eu programei servir o jantar, abrir o vinho após e quem sabe, depois dali, viver uma noite incrível com Rafael. Mas os problemas começaram cedo, primeiro que a comida chegou atrasada, segundo, que meu pai precisou de carona de última hora para pegar um voo internacional e só eu poderia levá-lo, assim, quando Rafael chegou eu só tinha, um cabelo bem finalizado, uma maquiagem boa e casual o suficiente e, uma toalha enrolada no corpo, que droga.

-Boa noite.
Falei sorrindo ao abrir a porta. Vi a expressão dele passar de cordial para divertida. - Me desculpa? Foi uma loucura, entra, eu vou por uma roupa rapidinho em dois minutos...

-Eeeei.- Rafael me puxou, aqueles olhos castanhos que não me deixavam ir à lugar algum...- Vem cá. Pra mim, você tá perfeita.- disse, e em seguida me beijou. A saudade que eu estava dele obstruía qualquer barreira, portanto, não demorou muito para que eu sentisse a toalha deslizar pelo meu corpo e chegar aos meus pés. Rafael continuou me beijando e me guiando para trás. Naquela altura do campeonato eu não fazia ideia de qual direção nós íamos, mas logo senti a ponta do mármore encostar em minhas costas. Arranquei a camisa de Rafael enquanto ele me beijava, saudade ali não faltava com absoluta certeza. Num só impulso, Rafa me colocou encima do mármore gelado, que dividia minha sala da minha cozinha, mordi o lábio com aquela sensação.
Por nossos lábios estarem numa distância consideravelmente longa, encarei Rafael com o maior desejo de trazê-lo pra perto novamente, ele olhou todo meu corpo entes de falar.

-Que saudade, Julia...
O mármore era alto suficiente para que ele não alcançasse minha boca, mas na medida certa para que  alcançasse outra parte que sentia falta dos lábios dele...

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-Você pintou a parede do seu quarto?
   Rafael acariciava meu cabelo, enquanto eu curtia o momento deitada em seu peito, e que momento...

-Não, ela sempre foi lilás.
  Respondi sem abrir os olhos.

-Júlia, está salmão.
  Encarei a parede aos nossos pés totalmente sem entender como Rafael conseguia confundir lilás com salmão. O pior, é que ele estava certo.

-Caraca. - Falei, procurando pela luz que dava á minha parede, aquela cor linda. E essa luz só podia estar vindo de um lugar. Vesti uma camisa e fui até janela.

-É, tá aqui quem pintou a parede.
  Falei sorrindo, Rafael se levantou achando aquilo divertido, e assim como eu, paralisou de frente para a Lua mais linda que SP já nos presenteou. Me abraçou por trás ao passo que Isn't She Lovely começou a tocar na minha playlist aleatória. Sorri pois parecia tudo muito premeditado.

-Tá maravilhosa. Deus é incrível.
  Rafael falou. Encarei os olhos de Rafael e o beijei.

-O que foi? - Ele falou sorrindo.
-Você não sabe quantas vezes me levou à lua só esta noite, Rafael.
   Falei baixinho, assumindo ali, o quanto estava apaixonada por ele, definitivamente.

-Não faz eu desistir da surpresa que estou fazendo pra te pedir em namoro semana que vem de novo...
   Meu coração acelerou.

-Você ia pedir? - perguntei atônita.
- Eu vou pedir...
-Rafa...
-Mas te olhando agora com uma camisa larga dos Beatles e com o brilho da lua no seu rosto depois de uma das noites mais maravilhosas da minha vida. Eu desisti. - Ele continuava a sorrir, subi meus braços para o pescoço de Rafael. - Não da pra esperar por semana que vem. Júlia, eu sei que você não quis da última vez, mas...

-Mas da última vez eu não estava exatamente aqui te ouvindo dizer tudo isto.
   Falei.

Rafael sorriu vencido, aliás, nós sorrimos vencidos, o amor venceu.