Sonhadora. Essa era a palavra mais aplicada para falar - gentilmente - sobre a princesa Marinette.
Era uma princesa e tampouco por isso queria ser resumida a um único título, sonhava e queria muito mais para si do que certas obrigações reais. Respei...
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Marinette era aquilo que chamavam de mimada, já outros a achavam excêntrica, mas quem a conhecia sabia que era uma sonhadora. Passava os dias pelos jardins, muitas vezes carregando livros, já em outras apenas afundava os tornozelos na água do lago que preenchia o terreno longínquo do castelo, olhava para o céu por um momento antes de rascunhar qualquer ideia que tivesse em seu caderno.
Alguns diziam que já estava na hora da princesa casar, que seria um problema caso ficasse velha demais, a aparência contava mais, já que a cabeça estava sempre nos lugares opostos ao pensamento permitidos a mulheres, mas Marinette não era a garota atrevida e distraída que pintavam, após receber muitos julgamentos por compartilhar suas visões sobre o mundo, simplesmente, passou a preferir guardar suas opiniões. Ela sabia que vivia em uma realidade onde sua voz não tinha tanto poder quanto a de seu irmão, Kim – e futuro rei – apesar dos pais darem liberdade a ela para se expressar, ainda assim, ela sabia que existia um limite, o limite daqueles muros altos, ela podia ser a fofoca dos empregados, dos seus, ser "a princesa cabeça de vento", mas jamais de outras cortes, de Reis e, principalmente, de príncipes, pretendentes em potencial.
A rotina era seguida, isso é, acordar e ter alguém para lhe lavar as costas e trançar o cabelo, Rose, quem colocava uma margarida no final de todo penteado – como Marinette gostava – era uma daquelas que defendia a princesa, mas também tinha a fama de menina boba, pois sua fala era tão baixa e mansa que, por muitas vezes, não era levada a sério. As duas se entendiam, se compreendiam e por várias ocasiões se bastavam. Porém, a vida era muito mais justa com Marinette, pois apesar de criticada por passar horas lendo ou em silêncio observando a natureza, ainda era parte da família real, ainda era o rosto daquele reino e os olhos dos pais e do irmão mais velho estavam voltados para ela e a defendiam de qualquer um.
O castelo em que vivia estava em grande furor mediante aos eventos futuros, era esperado que o príncipe Kim se casasse em breve, e pra isso, várias damas foram convidadas a frequentar o castelo, durante os últimos meses a presença constante de mulheres indo e vindo era algo que Marinette conseguiu se acostumar, embora já tivesse esquecido alguns rostos, e preferido não se lembrar de outros, ainda que fosse escolha de seu irmão, alguns nomes foram veementemente vetados pela caçula. Agora um grande baile estava sendo planejado para findar aquele momento, onde uma escolhida seria anunciada, o que era ótimo para Marinette, pois significava que finalmente poderia rever pessoas que adorava e isso era o suficiente para deixa-la animada.
Os dias de planejamento seguiam bem, já dava para perceber as mudanças de decoração e as muitas flores – as preferidas daquela que seria a futura rainha – espalhadas pelo castelo. A sua fiel correspondente, a duquesa Lahiffe, já tinha mandado uma mensagem falando como estava animada em revê-la e que tinha muitas histórias a contar, o fato é que sempre deixavam suas cartas simples, pois apesar dos títulos de cada possuía, tinham medo de que algo registrado pudesse ser usado contra elas. A última visita tinha sido há um mês e isso era tempo o suficiente para Alya ter mil e uma histórias para contar. Marinette também esperava uma confirmação privada de mais uma pessoa, mas essa não veio, como já não vinha há algumas semanas, essa altura já teria recebido uma resposta a sua última carta, a ausência causava certo desconforto, um alerta íntimo, porém não podia deixar transparecer a ninguém, poderia ser paciente e esperançosa que logo o encontraria.
