04 | sobre esse ritmo

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Rápidamente, aquilo se tornou um motim, e o que era pra ser uma briga entre apenas duas pessoas, virou a briga de todo mundo. Hyungwon, apesar de ser o tal pastor, já tinha nocauteado de três a quatro presos. Me senti desamparado ao não perceber Minhyuk ao meu redor. Eu não era tão bom de briga assim, mas meus punhos tomaram vida própria. A adrenalina me deixava preparado pra socar algum, mas sem realmente conseguir.

O cara que tocou meu rosto na primeira cela me encontrou, a sua melhor vítima, mais uma vez. Veio em minha direção com um sorriso sádico, franzi minhas sobrancelhas e lhe mostrei os punhos cerrados. Mesmo que eu apanhasse feio, não perderia tão fácil.

ㅡ Princesinha... Sabia que ia te encontrar novamente! ㅡ Ele falou mordiscando os lábios, meu sistema nervoso quase entrava em pane de tanto medo daquele cara se aproximar.

ㅡ Me deixa em paz...

ㅡ Ay? Você sabia que é um tanto ousado? Você merece uma lição, vou ter que te ensinar do melhor jeito. ㅡ Se aproximou perigosamente, colocando as mãos em meus ombros e tentando me beijar, mas virei o rosto chamando por minha mãe.

Senti o seu corpo se desvencilhar de mim, ainda de olhos fechados, em questão de segundos. Ouvi alguns gemidos sôfregos de dor, o que me fez abrir um dos olhos para dar uma espiadinha. O homem da tatuagem estava por cima dele, o esmurrando a cada respiração, enquanto que os outros presos gritavam pela maravilhosa cena.

Sangue começou a se fazer presente, o cara, prestes a desmaiar, parecia ter se tornado borracha. Então, o que batia cuspiu sobre sua face ensanguentada e olhou em minha direção. Levantou-se e o manobrou pelos cabelos como se fosse um boneco marionete.

ㅡ Você vai mexer com ele mais uma vez? ㅡ Falou rude e grave, deixando a todos assustados. ㅡ Responda! Te fiz uma pergunta, filho da puta!!

ㅡ Não vou! Não vou!! ㅡ O respondeu em meio a soluços e foi largardo com brutalidade no chão. Eu não conseguia fazer nada além de ficar petrificado. O tatuado virou para o motim e saiu andando esbarrando no meio deles, bastou aquele "massacre" para o caos tomar um fim.

( ... )

Não consegui dormir, por que tinha uma luz incandescente enorme ao lado da cela que nunca se apagava. Fiquei tentando decifrar as pixações do teto a noite toda --- até ele parecia ter alguns metros de grossura, pra impedir que alguem escapasse. Queria que aquele pesadelo acabasse, mas era realista: sabia bem que o sofrimento mal tinha começado.

Minhyuk acordava relativamente cedo. O policial veio o permitindo a saída e me deixando curioso do porquê. Ergui meu corpo do colchão que me deram por bondade e espiei.

ㅡ Aonde está indo? ㅡ Perguntei fraco e quase sem voz.

ㅡ Ah, eu ajudo a limpar alguns corredores, fii. ㅡ Virou pra mim com um sorriso bobo. No fundo, começei a pensar que ele tinha alguma mania de limpeza, pobre dele, veio parar no lugar mais imundo do mundo. ㅡ Ajuda a sair mais cedo, bom comportamento. ㅡ Confessou as intenções do seu bom manejamento. ㅡ ... Aí, eu posso levar ele comigo?

Felizmente, o guarda acatou o pedido de Minhyuk e o acompanhei. Passei por celas que tinham mais de 4 presos amontinados, uns isolados, outros loucos, e outros bastante durões que me faziam tremer só ao dar um passo ínfimo no cubículo. Equipei-me com a vassoura e ele com a dele e me concentrei no serviço, os agentes estavam sempre de vigia, como se não bastassem as câmeras daquele lugar...

ㅡ Minhyuk, por que você está preso? ㅡ Questionei a fim de quebrar o silêncio. Me impressiono em como nem ele e nem o pastor perderam um neurônio por tantas restrições.

ㅡ Assalto a mão armada. ㅡ Ele falou assim, sem vergonha alguma, não parecia nem sentir remorso. ㅡ Nem todo mundo consegue subir na vida do jeito certo, Jooheon... Me vi sem saída, com uma namorada grávida, sem emprego, sem casa... Precisava de grana e rápido. Bom, eu fiz uma escolha errada.

ㅡ Eu entendo... As vezes a vida que é sacana com a gente mesmo. Pois, eu tinha um emprego e uma casa, mas ainda assim estou aqui com você. ㅡ Rosnei, ele riu saudavelmente. ㅡ Mas você ainda é mais sortudo.

ㅡ ... Como que sou?

ㅡ Você tem alguém lá fora te esperando. Alguém que se importa com você e que não te abandonou mesmo com todas essas suas atitudes de merda. ㅡ Pareceu refletir por alguns instantes e concordou para o chão. ㅡ Olha pra mim... Eu sou inocente, mas ninguém acreditou... Agora nem eu mesmo estou acreditando.

ㅡ Parece bom, mas na verdade é um fardo. Em vez de eu ajudá-la na vida, acabou sendo ela tendo que se cuidar sozinha, e ainda tem a compaixão de tentar me fazer tirar daqui. Sou super agradecido por tê-la em minha vida, mas junto com isso vem aquele sentimento de culpa. Ela não merece passar por tudo isso.

ㅡ Você perdeu o nascimento do seu bebê? ㅡ Assentiu dolorosamente.

ㅡ Ela está morando na casa da mãe por enquanto. Estava certa o tempo todo, queria que tivesse sido bem mais rígida, queria que tivesse conseguido me afastar dela. Eu não quero ser o responsável pelo seu sofrimento. ㅡ Apesar de ter dito aquilo como um pensamento alto, cada palavra batia em meu peito e causava um enorme estrago. Pelo menos daqueles dois eu não deveria sentir medo.

Limpando mais para frente, o inesperado acaba de me encobrir. Quando olhei para a cela a minha direita, era o cara da tatuagem, me encarando daquela forma energizante e me fazendo tontear por alguns minutos. A luz me deixava ver cada detalhe de seu rosto com atenção e como estava sentado, em uma cadeira velha com os pés atrepados na grade e a mão no bolso --- que nem se fica na varanda de casa.

ㅡ Esqueceu daquele canto. ㅡ Disse, assim que virei as costas, com as bochechas vermelhas e nervoso pelo reencontro. Não só porque o vi esmurrar alguém até a síncope, mas porque o tinha achado extremamente bonito.

RODEO | MONSTA XOnde histórias criam vida. Descubra agora