O quarto

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Sábado, 22hrs.

Esse foi o ponto onde essa história começou, onde essa grande confusão começou.

Eles me encaravam cada um com uma expressão diferente. Joey estava dividido entre curioso e arrogante, Mike ainda aparentava estar triste e esperando eu me explicar enquanto August, o único ali que sabia de tudo, carregava uma expressão divertida no rosto. Obrigada pela sensibilidade August.

- Hm, como vocês se conhecem? - Perguntei para August e Mike, já que pareciam familiarizados.

- Mike é meu aluno na matéria de Desenho arquitetônico. Eu o encontrei assim que entrei na sala de cinema e vim cumprimentá-lo - Disse August naturalmente. 

Ele era professor? Sempre que me paquerava pelo campus imaginei que fosse um aluno, aparentava ser tão jovem. Ele percebeu meu choque e deu uma pequena risadinha. 

- E como vocês se conhecem? - Perguntou Mike ferino - Que eu saiba Jessie não faz arquitetura -

Paralisei diante da pergunta de Mike. Eu poderia imaginar o que aconteceu aqui. 

Joey irritado por ter tomado um pé na bunda chamou seu step, mais conhecido como Miranda, pra deixar seu ego lá em cima de novo. 

August, só não quis ir embora de cara.

Mas e Mike? O que estava fazendo aqui? 

- Nos conhecemos andando pelo campus, só isso... Né Jessie? - Adiantou-se August me olhando sugestivamente quando viu que eu entrei em choque e não respondi.

Ali estava minha oportunidade perfeita para me safar sem que nunca ninguém soubesse a verdade. Mas eu não conseguia ignorar o fato de Mike estar ali. Ignorando August e a chance de terminar aquilo eu encarei Mike.

- O que está fazendo aqui, Mike? - Eu perguntei baixinho. A essa altura as pessoas na sala do cinema estavam nos assistindo como se nós fôssemos o filme e nem estavam ligando para o que passava na tela. Bando de abutres. Parecem que não tem nada melhor pra fazer... 

- Eu permaneci aqui desde que saiu correndo. Esperava que voltasse - respondeu firme, mas com um toque tristeza em seu olhar.

- Oh Mike... - falei triste, ele não merecia isso, era uma pessoa incrível e eu queria que pudesse encontrar alguém melhor que eu.

- Jessie... Por favor, me fale a verdade. - Suplicou. Lógico que ele sabia que eu escondia alguma coisa, o que eu estava pensando? Era Mike ali, o mesmo Mike que me conhecia a vida inteira. Não poderia mentir pra ele.

Respirei fundo tomando coragem e abri o jogo.

- Eu marquei três encontros hoje com vocês três em horários diferentes. Eu tive meus motivos e não espero que entendam, mas só queria dizer que sinto muito a confusão que causei... - Olhei para Mike - ... E as pessoas que magoei.

Mike estava quieto olhando para o chão absorvendo tudo isso, August só me olhava com uma expressão neutra mas ao ouvir uma risada ergui a cabeça e me deparei com Joey.

- Ora, ora, Jessie é uma vadiazinha, então? 

Você saiu com três caras hoje, mas bancou a falsa puritana comigo... - disse sarcástico - Você não vale nada, Jessie - cuspiu ele por fim.

O olhei com desdém. 

- Eu não valho nada Joey? - perguntei retoricamente já pronta pra  desbancar esse palhaço.

- Sou uma mulher livre que posso sim sair com quantos caras eu quiser, beijar quantos caras eu quiser e dar pra quantos caras eu quiser. O corpo é meu, a decisão é minha. Isso não te dá o direito de me classificar como vadia, apenas como muita areia pro seu caminhãozinho  - Dei uma risada amarga e continuei - E quanto a você? Um egocêntrico que me proporcionou o pior encontro da minha vida em que eu fiquei só ouvindo você falar o quanto é fantástico, e meu bem, você não é. É só mais um babaca de ego fragilizado que não sabe ouvir um não de uma garota. Se tem alguém aqui pra se duvidar do valor esse alguém é você - E dizendo isso parti pra cima dele e dei um soco bem no meio da sua cara chocada. 

August prontamente me segurou enquanto Joey gritava com a mão no nariz que sangrava.

- Sua puta, acho que quebrou o nariz dele - Disse Miranda acudindo aquele pedaço de merda.

- Cala a boca e deixa a Kate em paz se não quiser o seu assim também - Aproveitei pra dar o recado para aquela anã demoníaca.

August me soltou quando viu que eu estava mais calma. Eu arrumei minha roupa, dei um último olhar de desculpas ao Mike e saí. Escutei os aplausos quando estava no corredor. Revirei os olhos, essa gente não tem mesmo nada melhor pra fazer.

Encontrei Davis na saída da sala. Ele estava com os braços cruzados na frente do corpo e encostado no batente da porta. Tinha trocado de roupa e estava cheirando a perfume de homem.

- Você viu? - perguntei objetiva.

- Sim. - respondeu simplesmente - Foi um belo soco... Vamos sair daqui - disse ele já me direcionando pra longe dali.

- E vai me levar para onde? - Perguntei desconfiada.

- Para seu quarto encontro - 

Paralisei no lugar. Meu quarto encontro? Mas eu não tenho um quarto encontro. Olhei-o confusa até que uma luz me atingiu.

- Você é o amigo misterioso do Liam - disse baixinho sem acreditar. 

Ele apenas assentiu sem nada dizer.

- Desde quando sabia da história toda? - perguntei.

- Desde sempre - Respondeu Davis cauteloso. Acho que já dei shows demais hoje, não me admira ele estar temeroso.

Me senti ridícula imediatamente. Ele sabia... O tempo todo ele sabia e ficava olhando meu desespero de perto enquanto ia me conquistando sem me dizer que já sabia quem eu era.

- Por que mentiu? - Perguntei antes que começasse a chorar. 

- Eu não menti, eu só sabia da história e sua aparência por que ele me mostrou sua foto. Você me contou a história logo no começo, então não tinha mais nada que eu soubesse pra esconder de você.

- Mas por que não me disse quem você era? - perguntei confusa.

- Eu quis contar, mas você estava tão confusa quanto a tudo, tinha três pessoas para lidar e ainda por cima poderia ter ficado com uma dessas três pessoas. Poderia não ser eu. Achei melhor acompanhar o decorrer do dia enquanto íamos nos conhecendo apenas como Davis e Jessie, sem essa pressão de ser Davis o encontro marcado pelo Liam. -

Fiquei ali, quieta, apenas absorvendo tudo o que ele disse. 

- E então? - Disse Davis me estendendo a mão - Posso te levar pra sair? - perguntou ansioso.

Eu o olhei profundamente e tomei a decisão de confiar ou não nesse homem que em tão pouco tempo me cativou tanto.

A grande ideiaOnde histórias criam vida. Descubra agora