saisaku - Bluebird

Fantasma

É eu, eu vi o seu fantasma esta noite

O momento pareceu tão real

Se seus olhos ficarem fixados nos meus

Minhas feridas começarão a cicatrizar

(Ghost on the dance floor- Blink 182)

~Sakura~

Eu me recuso a acreditar que além de trair a folha e me deixar exatamente como o Sasuke fez ele me deixa uma carta inacabada, me consumindo de curiosidade. tudo bem que não era para eu ter encontrado a carta e nem mexido no livro, mas isso está me deixando louca. Sim, eu sabia que ele tinha uma missão paralela, mas trair a folha? Ir embora com o Orochimaru, principalmente depois de ter criticado tanto o Sasuke? Não, isso não faz o menor sentido pra mim. Tem algo muito estranho nisso tudo que ainda não foi revelado.

Vejo o Naruto e o Capitão se aproximarem e guardo a carta rapidamente. O capitão veio até mim e me disse que deveríamos seguir em frente. Sigo-os relutante, ainda cansada, andando em meio a floresta banhada de luz alaranjada do por do sol. Cada passo parecia 1 kilômetro andado. Olhando para frente, vejo uma figura suspensa em uma árvore. De longe não consegui identificar o que era, mas chegamos mais perto e me recusei a acreditar no que meus olhos viam. O cadáver do Sai, suspenso balançando ao vento, seus braços pálidos pendentes e seu rosto sem vida. Meu estômago afunda, minha pressão cai e sinto vontade de vomitar. Percebi que não estava delirando ao ver os rostos também lívidos do Yamato e Naruto. Minha visão embaçada viu o Yamato chegando perto, fazendo um sinal com as mãos. No instante seguinte o cadáver não era mais do Sai, mas de um homem que nunca tinha visto na vida. Um clone. A vontade que tive no momento foi de gargalhar. Um nó se soltou do meu peito. Era apenas um clone, colocado lá provavelmente com intuito de nos atrasar. Depois desse alívio, consegui forças para continuar seguindo em frente atrás deles.

~Sai~

Quando ouvi o Orochimaru dizer que precisava de um cadáver para atrasar a equipe do Yamato, tive certeza de que se referia a mim. Mas eu não posso morrer agora. Não antes de ter o sangue do Uchiha em minhas mãos. Minha missão é a única coisa que me mantém seguindo em frente, tanto pela fundação quanto pela conquista de eliminar aquele que machucou a folha e a Sakura Haruno. Entretanto, para meu alívio e profundo espanto, o Kabuto surgiu com um cadáver aleatório de alguém que eu nunca tinha visto, o transformou com facilidade em um clone meu e o pendurou morbidamente na árvore mais próxima. Eu que nunca tive sentimentos ou medo da morte, confesso ter sentido um frio na espinha ao ver meu próprio cadáver pendurado diante de meus olhos. O cadáver do suposto segundo traidor da folha que também a deixou.

Após algumas horas andando, alternando entre a luz e a sombra desta floresta cinzenta e melancólica na qual estávamos,os primeiros sinais do crepúsculo começam a aparecer. Vejo os cabelos longos do Orochimaru perderem o balanço e pararem junto com seu corpo. Ele está desviando da rota. Viemos o caminho todo em silêncio absoluto e não poderia ser mais grato por isso.

Orochimaru entrou em uma mata mais densa e paramos perto de uma caverna, na qual os dois se abrigaram. Me reservei no direito de me manter um pouco afastado e acho que eles não se importaram. Pela primeira vez nesse dia louco consegui sentar-me na grama, fechar os olhos e digerir tudo o que tinha acontecido. Só hoje vi o Naruto se transformar, quase deixei a Sakura despencar da ponte, me passei por traidor e vi meu próprio cadáver pendurado. Ainda sentado no chão resolvo abrir meus olhos e pegar meu material de desenho. Tirei a mochila das costas, estranhamente leve. Ao abrir, me dou conta que parte das minhas coisas não estavam mais lá,inclusive o livro que estava desenhando e a carta que deixei dentro dele. Devo ter deixado cair na hora que fui me encontrar com o Orochimaru. Será que eles encontraram? Será que ela encontrou minha carta? Espero que não, pois está incompleta. Será que um dia terei a oportunidade de dizer tudo o que queria dizer a ela? Provavelmente não.

Respiro fundo e sinto o ar gélido da noite invadir meus pulmões. Dou uma olhada em direção a caverna onde está Orochimaru e Kabuto, mas acho que estão dormindo, nem sinal de nenhum dos dois. O time 7 não deve estar muito atrás de nós. Será que se eu colocar um clone aqui e ir lá dar uma olhada vão notar?

~Sakura ~

Depois do episódio do cadáver e conforme a noite caía, nos embrenhamos mais na mata adiante para pararmos para dormir. Paramos em uma clareira e o Yamato fez um chalézinho simples para dormirmos nós 3. Entramos porque a exaustão física e mental era pesada. Eles se ajeitaram para dormir, mas eu ainda precisava colocar a cabeça no lugar e fui dar uma volta. A floresta se impunha cinzenta a minha frente, banhada á luz do luar, olhava sem direçao quando um farfalhar entre as árvores chamou minha atenção. Nós ninjas somos treinados a perceber o menor indício de barulho. Já fiquei preparada, kunai em mãos. Um vulto branco passou entre as árvores, parecia até um fantasma. Fiquei congelada com a kunai em mãos e não sabia se entrava ou enfrentava o que quer que fosse. Quando menos esperava, algo tapou minha boca por trás antes que eu pudessse ter qualquer reação, e me puxou pra longe do chalé. Entrei em desespero até ver o que tinha me puxado.Longe do Chalé, a coisa me soltou e me virei imediatamente para ver quem era. E lá estava o sorriso de plástico que eu tanto gostava e odiava.

- Sai!!! o que está fazendo aqui? - Eu disse em um sussurro. Melhor o Yamato não saber. Não por enquanto.

-Oi Feiosa. É muito bom te ver.- Ele me disse sorrindo

-O que está acontecendo?? Me disseram que você foi embora com o Orochimaru- Eu respondi, indignada, querendo respostas.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, mais, porque eu de fato tinha muito a dizer, perguntar e querer esclarecer, ele segurou meu rosto e calou minha boca com um beijo demorado. Eu só consegui fechar os olhos e derreter. Não consegui decidir se era um doce ou um veneno delicioso.Ele tirou os lábios dos meus, mas ainda segurava meu rosto e olhava em meus olhos com uma expressão que não diz nada, mas diz absolutamente tudo ao mesmo tempo.

-Posso te pedir uma coisa?. - Ele me disse lentamente, sem soltar meu rosto-Podemos deixar as perguntas de lado, essa noite?Eu me arrisquei vindo até aqui, sabendo que o tanto o Orochimaru quanto Yamato podem me eliminar.

-Euu... eu não sei o que dizer....- Eu disse confusa.

-Se você disser que não, eu terei de ir embora imediatamente. Vem comigo, sem perguntas.-Diz o Sai apressadamente

-Tudo bem... - Concordei, ainda que hesitante

-Ótimo - Ele sorriu

Sai tirou seu material de ninjutsu da bolsa e com um movimento limpo e claro,desenhou um pássaro grande o suficiente para caber nós 2. Sai subiu no pássaro com destreza, sorriu e me estendeu a mão

-Você vem? - ele me disse sorrindo.

Não respondi. Apenas subi com cuidado, sentei, abracei a cintura dele e colei nas costas dele. Sua nuca estava bem na altura dos meus lábios e o cheiro era inebriante.

O pássaro levantou voo devagar e eu segurei forte. Senti o vento forte e gélido açoitando meus cabelos conforme avançávamos na noite escura . Quando consegui abrir os olhos, tive coragem de olhar para baixo e ver a copa das árvores pequenas e distantes. A pele do Sai estava banhada pela luz do luar, quase fantasmagórica, quase irreal. Meu fantasma branco particular. Muito melhor que meus fantasmas do passado, mais gostoso, bem menos assustador. Sorri com a ideia absurda, mas de repente esse passeio começou a me parecer muito, muito perigoso. Não faço ideia de onde ele está me levando.