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Para que mentir? Estava desesperada! Logo Marina? A diretora? Por quê?

Tamborilava seus dedos sobre o balcão de madeira da sua cozinha. Diante dela estava o copo com água e vitamina C que borbulhava fazendo o cheiro de laranja artificial perfumar o ambiente.

O barulho efervescente era contínuo, assim como seus pensamentos. Havia nela a sensação de que eles empurravam sua cabeça para dentro do líquido e a impediam de retornar a superfície em busca de ar.

Agoniante. Claustrofóbico. Barulhento.

Sua mente se tornara claramente um local nocivo demais para se passar muito tempo, e para sua infelicidade, era o único local em que nenhuma fuga seria possível de se realizar.

A reunião tinha ido de mal a pior... Não havia arte para a capa do livro de Colbert e agora não havia uma diretora de arte no setor de design.

- Vou ter que ligar para a Leila, que merda! – Pegou o copo bebendo o líquido com tanto descuido que acabou se engasgando, comprovando que ainda estava submersa e a ponto de se afogar, e a única coisa que conseguia pensar naquele instante era em seu irmão dizendo que ela morreria por conta do estresse... Natasha realmente chegou a acreditar que aquele seria seu fim.

Discando com muito descontento para Leila, escutou o telefone chamar 3 vezes até a voz baixa da mulher dizer o famoso "Está tudo bem, Artemova?".

Contou tudo que havia acontecido em sua licença maternidade e com muito pesar também compartilhou do ocorrido dessa tarde, que desencadeou nela uma enxaqueca que fazia tempo que não sentia, mas a coordenadora não precisava saber disso.

- Não é algo que me orgulha, mas preciso que você trabalhe home office essa semana, irei pagar como extra.

"Claro, não... Está tudo bem mesmo Natasha, não se preocupe."

- Vou mandar o projeto do Alceu Cubas essa noite, enquanto isso tenta criar uma capa nova para o livro do James, por favor, essa é a sua prioridade.

"Pode deixar."

- Muito obrigada, Leila.

O silêncio era doloroso também. Sua cabeça pulsava e seu corpo estava fraco. Não havia comido desde o café da manhã e não sentia fome para isso, sabia que se algo entrasse, sairia rápido.

Olhou para o projeto sobre a mesa de centro e então para sua cama. Não estava bem o suficiente para ler tantas páginas e tentar acrescentar valores na apresentação, principalmente por não poder ter um erro sequer.

Deitou sem pensar duas vezes, iria fazer o possível para tirar um cochilo que a deixasse mais capacitada para raciocinar sem sentir tontura. O travesseiro parecia uma pedra e o colchão duro como o chão. Talvez estivesse arrependida de ter dito que tinha remédio para Vitória sem antes realmente ver se tinha.

O pôr do sol estava brilhante demais e sua cortina não era grossa o suficiente para bloquear tanta luz, usando seu braço como máscara de dormir e contando carneirinhos até chegar à casa das centenas, acabou por dormir um sono muito delicado.

Mais cansada do que estava, acordou depois de dormir apenas 50 minutos saltando da cama e indo correndo para o banheiro vomitar tudo aquilo que não tinha comido.

"Que dia" pensou ali, sentada no chão.

Sua pele exposta no azulejo frio do banheiro mostrava o quão quente seu corpo estava, mesmo vestindo apenas sua camiseta.

O arrepio subiu pelas suas pernas chegando aos seus braços os arrepiando e dando pequenos calafrios, efeito da vertigem repentina, assim como a onda de calor que a fazia manter o cabelo no alto da cabeça com a mão.

Sob o céu de Lisboa |Degustação|Onde histórias criam vida. Descubra agora