Capítulo 2- A pequena raposa

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Não estaria nessa situação se não fosse pelos malditos instintos de caçador, mas até que estava se entretendo demais para alguém no meio de um confronto animal. Ainda só não compreendia o que acontecia diante de seus olhos. Por que estariam caçando uma única raposa? Pelo menos sua curiosidade tinha sido suspensa, porém, vendo de perto agora se sentia inquieto.

Fitou o aspecto delicado da raposa, ela rosnava com determinação revezando seus olhos vermelhos entre os lobos ferozes. Ela deixava claro que não tinha intenção de fugir e os lobos faziam o mesmo. Seus pelos alaranjados estavam arrepiados nas costas e as orelhinhas baixas, a cauda felpuda balançava em alerta. O lobo deu menção de atacar e inconscientemente Sasuke apertou o arco que tinha em mãos, sentia as mãos trêmulas e a necessidade de se mover.

— Droga! — sussurrou saindo de trás da árvore.

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Caminhava em passos largos e pensava na possibilidade de entrar pela janela da casa, ao menos assim só levaria esporro de Mikoto na manhã do dia seguinte. Parou, soltando um longo suspiro que fez os peito subir e descer conforme soltava ar.

— Eu já falei pra parar de me seguir! — advertiu, dando uma voltinha para mirar os olhos na raposinha sentada com as orelhas baixas pela sua fala estressada.

— Não faça essa cara para mim. — Sasuke pousou uma mão na testa, e quando voltou a fitar o animal ele balançava a cauda felpuda de um lado para o outro.

— Pare de me seguir! — ralhou voltando a dar as costas para o bichinho. Tentava parecer rude ou amedronta-lo para se livrar, mas nada surtia efeito.

Depois de muito caminhar o moreno nem se quer sentia barulhos chegar aos ouvidos, presumiu a derrota do animal e conferiu atras de si. Não havia nada.

Suspirou aliviado, precisava chegar o quanto antes em casa. Itachi lhe mataria. Voltou sua atenção à frente, sem nem dar o primeiro passo parou, se sobressaltando ao ver a raposa o encarando fixamente.

— Porra! Você ainda tá aqui! — a raposinha inclinou a cabeça para um lado, sem apartar os olhos curiosos de cima de Sasuke. O moreno fez cara feia para o animal e desviou do mesmo que não parecia querer desistir.

— Só por que eu te salvei não quer dizer que vou ficar com você. — resmungava, já podendo ter visão do vilarejo através das copas de árvores que se tornavam a cada passo menos presentes.

Subitamente sentiu algo grudar em seu tornozelo, abaixou a cabeça olhando para o pé que ficou pesado e viu a raposa abraçada em si com um olhar desafiante.

— Sai dai, eu não tenho tempo pra perder com você! — chacoalhou o pé e deu um grito após sentir o bichinho revoltado morder sua perna. Pegou a raposa pela banha fofinha das costas e a ergueu frente à frente consigo. Vendo o olhar amedrontador de Sasuke o animal se encolheu, colocando a cauda entre as pernas e as orelhas abaixaram automaticamente.

— Merda.. O que eu vou fazer com você? — reclamou irritado, encarando os olhos vermelhos que lembravam a de um cachorro abandonado — Tsck, se você me morder de novo eu te dou para os lobos comerem, entendido? — a raposa assentiu como se entendesse de verdade o que Sasuke dizia, mas ele ignorou. Animado, o bichinho balançou a cauda com uma carinha feliz para o rapaz que o colocou no chão de novo e continuou seu caminho.

Chegando na casa o caçula não viu melhor maneira do que entrar pela janela, colocou o animal dentro da bolsa de lado que sempre levava consigo e escalou a casa. Abrindo a janela de madeira adentrou o quarto escuro, sentindo o corpo pesar se jogou na cama com cansaço. Mas quase teve um ataque do coração quando uma luz foi acesa, revelando Itachi sentado na poltrona de coro com uma feição de arrepiar os pelos. Pousava uma vela ao seu lado enquanto caia a iluminação em seu rosto, seria uma harmonia bonita em cena se estivessem em outra ocasião.

Sasuke gelou na hora.

— Sai assombração! — Itachi franziu a testa.

— Por onde esteve? — perguntou direto, mas não precisou de respostas ao avaliar com atenção as roupas sujas de terra e ramos de plantas — Você sabe que a mãe e o pai vão te matar quando souberem, né? — riu de canto.

— Ahh, Itachi! Quebra essa pra mim! — bufou, voltando a se jogar na cama. O maior sentou ao seu lado, tirando alguns dos ramos que tinham presos no cabelo de Sasuke.

— Está bem, mas, você sabe que é perigoso. Por que demorou tanto? — ele tinha um olhar cansado, o que indicava que estava esperando pela chegada de Sasuke. O moreno não tinha como falar, não sabia como Itachi reagiria ao que diria e nem sobre a raposa que escondia na bolsa. Tinha noção de que havia uma alta possibilidade de venderem a raposa, eram raríssimas e de uma forma estranha parte de si não queria que isso acontecesse. Não tinha salvado aquela raposa para depois vê-la sendo vendida ou morta pela mão de comerciantes que desejam sua pelagem.

— Eu cai no sono, foi só isso, nii-san. Me desculpa, não vai acontecer de novo. — Itachi não parecia satisfeito com aquela resposta, mas era mais que o bastante para ele voltar a dormir. Estava sonolento demais para discutir com seu irmão e Sasuke agradecia por isso.

Assim que o Uchiha primogênito passou pela porta o caçula colocou a bolsa no assoalho de madeira, deixando a raposa sair hesitante. Ela parou para analisar todos os cantos e movimentava de um jeito engraçado o focinho quando sentia os cheiros novos. Enquanto o animal tomava seu tempo para conhecer o lugar Sasuke arrumava um baú grande com mantas. A raposa se aproximou de fininho e encarou o jovem e o baú entre intervalos.

— Pronto, é a onde você vai dormir. — apontou para o baú aberto, a raposa fez cara feia para Sasuke. Não parecia ter gostado da ideia.

— Se preferir durma no tapete então. — disse tirando os equipamentos de caça, até começar a se despir. No cantinho do quarto os olhinhos atentos a cada movimentos perseguia o rapaz, sentindo-se observado Sasuke fitou a raposa que no instante que cruzou seus olhos ela balançou a cauda. Desviou o olhar, terminando de vestir o pijama e indo deitar assim que apagou a vela.

Não demorou muito para pegar naquele sono gostoso que infelizmente foi interrompido pela sensação do colchão afundar levemente. Se sentou na cama e pegou o bicho no pulo.

— Cai fora, bola de pelos! — o colocou no chão, vendo-o choramingar baixinho. Ignorou, dando as costas e voltando a dormir. Estava começando a se arrepender de ter pego aquela criaturinha, não era do seu feitio fazer esse tipo de coisa. Começava a se estranhar também. Que merda tinha na cabeça quando trouxe a raposa?


Amante de quatro patasOnde histórias criam vida. Descubra agora