Ao chegar na rua de casa, ouço os sons de meus dois irmãozinhos que brincavam no quintal e na garagem. Decido então descer um pouco mais, porém ouvi um "psiu" logo atrás de mim, mas não vi ninguém.
Caminhei de volta a rua e ao olhar na parte traseira do caminhão estacionado, encontro minha irmã Clara escondida ali.
Questionei-a, querendo saber o que fazia ali. Ela me encara com um sorriso no rosto.
— Por que não foi para a escola? Sabe que a mamãe vai brigar com você, não sabe?
Sorriu ainda mais como se minhas palavras não tivessem causado algum efeito.
— Se você falar, também vai sofrer as consequências — ameaçou, e eu sabia muito bem que suas ameaças não eram em vão.
Mas foi aí que eu me lembrei.
— É, mas eu sei uma forma de escapar do castigo — falei, e dessa vez o sorriso era meu, fazendo o dela desaparecer.
— Você sabe como estragar o meu clima — bufou, me acompanhando até em casa, mas ficando um pouco atrás para que nossos irmãos não a vissem.
Quando abri o portão, os dois pequenos vieram logo me abraçar, e assim fiz. Dei um abraço forte neles e antes que eu pudesse continuar a caminhada até a cozinha, minha mãe aparece com as mãos na cintura, querendo saber o porquê de eu não ter ido à escola.
"Vamos ver se vai dar certo" penso comigo, olhando em sua direção.
— Não me senti muito bem, então decidi voltar — menti. Olhando para seu semblante, notei que ela pareceu não se convencer, então continuei. — Eu sei que a senhora não gosta quando falto. Mas é por uma boa causa.
Ela me encara desconfiada.
— Que boa causa é essa, Carlos? — indagou estreitando seus olhos, querendo saber o que eu pretendia fazer.
— Voltei porque me senti um pouco mau por não ter ajudado na louça do almoço ontem, então decidi retornar para compensar — respondi.
Confesso que essa desculpa era bem fraca, mas apesar disso, minha mãe compreendeu. Mesmo que ela não tenha gostado da ideia de me deixar faltar, permitiu que eu o fizesse.
Depois de terminar a louça — que por sinal era bem pouca — digo que iria ver se alguém havia chamado um de nós no portão, então rapidamente fui até lá, sem que ela suspeitasse de mim.
Saio para fora caminhando até o lado do poste, e começo a conversar com minha irmã.
— Você não contou para a mamãe que eu faltei, não é? — afirmei com a cabeça. — Carlos! Isso é vacilo.
Ri ao ver a expressão chateada dela, mas logo recebo um soco no ombro, até que eu parei de rir, me acalmando.
Digo que teria de dar um jeito por conta própria, e comecei a caminhar, subindo o morro.
— Você vai sair? — interrogou-me, mas nada respondi. — Responde, droga!
Eu não queria ter que dar satisfação para ela, senão teria que levá-la junto comigo. Então apenas tentei amedrontar ela, ameaçando contar para nossa mãe sobre sua fuga da escola.
Ouço um amigo me chamar e o vejo descer o estacionamento do mercado, e o cumprimento com um aperto de mão. O mesmo me pergunta se não era para eu estar na escola, e minto, dizendo que havia perdido a aula.
— Mas como você perdeu a hora, sendo que estuda de tarde? — William percebe a presença de minha irmã e sorri. — E você, Clara? Por que não está na escola?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Silver Fang: O Guardião do Luar
FantasyUm jovem garoto, se muda com seus pais para uma cidade pequena, no interior de Don Paulo. Gray Rock. Depois de ter deixado seus amigos na cidade vizinha, Carlos Santana se torna um mestiço de humano com animal, após algo terrível acontecer com ele.