prólogo - II

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Underwood gentilmente afastou Margarida e Framboesa-da-Virgínia para o lado e espiou. Havia algo enterrado no chão, e Grover, num primeiro horrífico instante, pensou que fosse algum tipo de órgão interno avariado. A coisa pulsava. Era cinza e tinha pústulas verde-esmeralda sobre toda a sua extensão. No entanto, olhando melhor... o formato lembrava vagamente um cacto. E as pústulas pareciam tomar o lugar dos espinhos.

— Deuses, é... – ele gaguejou, controlando-se para não terminar a frase. – Er... nunca vi você antes. Qual o seu nome?

O ar acima do cacto rodopiou. Num instante, uma das criaturas mais feias que o sátiro já vira na vida surgiu em sua frente. O corpo era baixo e gordo. A papada tinha tantas camadas, e o rosto, tão redondo; que dava a impressão de que iria explodir a qualquer minuto. A pele verde acinzentada lhe conferia um aspecto doentio e os cabelos eram um emaranhado de fios disformes e frizzados. A dríade usava um vestido cor de vinho muito puído, cuja estampa de bolinhas acentuava o terrível problema de acne - não havia um único centímetro de seu rosto que não estivesse coberto por fundas cicatrizes e espinhas cheias de pus.

— Escrofulária. – ela cruzou os braços, fitando o chão.

— Hm – Grover tinha os olhos tão arregalados que pareciam prestes a saltar das órbitas. – Espera, o quê?

— Você perguntou meu nome – o rosto se contorceu numa careta enraivecida. – e eu respondi. Mimbulus mimbletonia. Ou só Escrofulária.

— Ah, sim, claro. – Grover piscou e se recompôs. – É um prazer conhece-la.

E lhe estendeu a mão.

A dríade arregalou os olhos e o fitou; se perguntando se aquilo era real ou apenas algum tipo de brincadeira. Vendo o olhar desiludido da ninfa, Grover, do fundo de seu coração, sentiu-se mal por ela. Sabia exatamente como era ser o esquisitão da turma. O garoto certamente não tinha lembranças nada boas da sexta série na Academia Yancy, principalmente lembranças envolvendo Nancy Bobofit e sua gangue; mas sempre tivera Percy ao seu lado para defendê-lo. Com todos esses anos de experiência, Underwood com certeza classificaria todas as pessoas ao seu redor pedindo - bem na sua frente - para que a expulsassem do local, como bullying pesado.

Escrofulária apertou sua mão.

— Nunca vi você em lugar nenhum, Escrafulária. – disse o sátiro, depois de um silêncio levemente desconfortável.

— Escrofulária – ela corrigiu. – É um O, não um A.

— Ah, sim, claro. Me desculpe. – ele olhou para as dríades ao redor. Nenhuma delas parecia estar com a menor vontade de vir em seu socorro. De fato, a maioria estava curiosíssima com o desenrolar daquela conversa.

Escrofulária suspirou e fitou o chão. Grover se assustou um pouco ao notar, mas identificava exatamente os sentimentos da ninfa - assim como todas as outras ao seu redor. Ele sempre soubera que sátiros eram capazes de ler sentimentos humanos, mas nunca havia refletido sobre o fato de dríades terem sentimentos aos quais você poderia, muito bem, considerar humanos. Ele percebeu que Escrofulária não queria continuar, sabia que o diálogo amigável estava fadado ao fracasso e era melhor simplesmente ficar quieta.

Contudo, Grover estava determinado a continuar a conversa. Ele se recusava a deixar que alguém se sentisse excluído como ele sempre fora na época da escola, e, nem que ele precisasse ser o único amigo da dríade e tivesse de forçar as outras a serem gentis com ela, era o que ele faria.

— Então, Escofulária, como eu ia...

— Escrofulária - ela interrompeu, trincando os dentes. – Tem um R entre o C e o O.

ad astra per aspera • pjo x hpOnde histórias criam vida. Descubra agora