LEGILIMENS ---✨prólogo

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Naquele dia, Grover Underwood estava muito surpreso.

Tudo bem, era verdade: As ninfas do Monte Greylock sempre foram barulhentas. Quem olhasse o morro imponente coberto de pinheiros em meio às pradarias de Massachussets nunca imaginaria a algazarra que aquelas árvores eram capazes de fazer sábado à noite. No entanto, naquele dia, não havia apenas barulho. A melhor palavra para descrever a situação do bosque era puro, cru e verdadeiro caos.

Naquela época do ano, a luz do sol diminuía e os ventos da região apenas esfriavam, especialmente ali onde elas se encontravam. O topo do Monte Greylock era uma área desmatada com algumas construções relativamente pequenas para quem crescera em Nova York: o Memorial dos Veteranos de Guerra, um alojamento chamado Bascom Lodge, uma casinha e um estacionamento. De forma geral, os espíritos da natureza consideram o local uma ofensa mortal e o evitam a todo custo. Por isso, ver um grupo de dríades reunidas a poucos metros da torre, gritando umas com as outras em discussões acaloradas e não fazendo questão nenhuma de se esconder dos mortais era algo que ele definitivamente não estava esperando. Conforme se aproximava, ele reconheceu algumas dríades, mas isso só deixou a situação ainda mais absurda.

As folhas redondas e reluzentes com certeza pertenciam à Viburno. Ela olhava com desprezo para uma Samambaia-sensível, esta última de braços cruzados e apontando o dedo acusadoramente para Viburno. Os cabelos amarelos e escorridos só podiam ser do espírito de uma flor que raramente se mostrava, Viola pubescens; mas que, no entanto, parecia se segurar para não agredir uma dríade magra, pálida e com um vestido high-low branco - Arácea, que não ajudava em nada a própria situação ao gesticular e cuspir intensamente enquanto falava.

— Eu não aceitarei isto! – exclamou Viola.

— E o que você sugere? Transferir a árvore daqui para o outro morro?! – rebateu Arácea com o dedo erguido no nariz de Viola.

— Eu não posso sair desse morro, Arácea! Nenhuma de nós pode! Eu sabia que você era burra, mas não...

— Eu sei disso, idiota! Burra é você, que no outro dia acertou um esquilo em uma criança achando que era outro deus menor disfarçado! – a dríade acusou.

Viola bateu o pé e gritou coisas muito deselegantes para Arácea, as quais Grover nunca ouvira falar e provavelmente só eram ofensivas quando se tratava de espíritos da natureza. Ele se virou para a outra discussão ao seu lado.

— Tolice – murmurou Viburno. - Não há nada que possamos fazer sobre isso. Discutir é pura perda de tempo.

— Pois eu me recuso! – rebateu Samambaia. – Vi, ela é uma aberração. Tem espaço para ela em outros lugares, aqui mesmo, no Monte Greylock. Mas conosco, ela não será bem vind-

Samambaia jamais chegou a terminar a frase, uma vez que Viola e Arácea já estavam a estapear-se e acabaram por tropeçar e cair encima dela. O vestido franjado da dríade confundia os sentidos e ela gritava, a plenos pulmões, para que a tirassem dali imediatamente. Viburno gritou para uma Faia Americana ajudá-la a acudir a amiga; mas a ninfa simplesmente estacou, virou e correu na direção oposta aos berros.

Grande confusão. Espíritos da natureza espiralaram e desapareceram na terra. Outros tantos corriam para todos os lados. Framboesa da Virgínia foi pisoteada. Lírio do Bosque sentou e chorou. O gorro rastafári de Grover desapareceu e sua mochila foi ao chão, espalhando uma considerável quantidade de enchiladas de feijão e latas de Diet Coke (vazias) na grama molhada.

A visão do seu lanche favorito desperdiçado foi a gota d'água para Grover. Sentindo cada centímetro de seu corpo ferver, o sátiro crispou os lábios e vociferou:

— JÁ CHEGA!



O efeito foi instantâneo. Todas as dríades congelaram e se voltaram para ele bruscamente, encarando-o sem sequer piscar.

— SENHOR UNDERWOOD! – exclamaram todas ao mesmo tempo.

— Já não era sem tempo! A quanto tempo não o víamos! – disse Bétula, batendo palminhas.

— Ele é o Senhor da Natureza, pode dar a palavra final nisso! – Foca-de-Salomão anunciou esperançosa.

— Melhor ainda, pode expulsá-la daqui! – esganiçou-se Lírio do Bosque.

— Expulsar quem? Dar a palavra final no quê? – indagou Grover, levemente irritado, cruzando os braços e fingindo não ver o círculo de ninfas tentando se aproximar cada vez mais dele. O garoto respirou fundo e direcionou-se à mais próxima. – Por favor...

— Grover, querido – começou Viburno. – Estamos num impasse. Chegou uma nova... habitante para a nossa convivência, e nem todas nós concordamos com a permanência dela aqui no Monte Greylock.

— Uma nova dríade? – Grover sentiu a raiva evaporar, sendo substituída pela curiosidade. Geralmente, dríades novas eram bombardeadas de perguntas pelas veteranas, mas ele não via ninguém não-familiar pelas proximidades. – Quem?

As ninfas se entreolharam e apontaram para algo no meio do círculo.

— Ela.

ad astra per aspera • pjo x hpOnde histórias criam vida. Descubra agora