prólogo - III

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— Senhor Underwood... – começou Framboesa da Virgínia, mas o sátiro a interrompeu.

— Pelos deuses, Fram, é só Grover.

— Me desculpe, sen... Grover – ela engoliu em seco. – Mas é um segredo que não podemos lhe contar.

— É algo entre nós e os deuses. – fungou a Margarida próxima.

— Entre vocês e os deuses? – Grover arfou. Acabou saindo mais sarcástico do que ele pretendia. – Isso é sério?

Ele, sinceramente, nunca desejou tanto que um grupo de garotas risse de sua cara. Mas as ninfas apenas se entreolharam e trocaram olhares sombrios.

— Os semideuses... eles não podem saber. – disse Tramazeira por fim.

— Mas eu não sou um semideus, sou? – indagou Grover, sorrindo levemente. – Não conheço muitos semideuses com pernas de bode e pupilas em formato de travessão.

— É, mas você vai contar para eles, não vai? – disse Lírio do Bosque contendo um riso.

— Porque eu contaria? – rebateu. – É algo importante assim?

Os cochichos voltaram. As dríades não paravam de se entreolhar. Eram olhares apreensivos, receosos, quase assustados. Grover nunca vira as dríades do Monte Greylock tão ansiosas antes.

De repente, elas se deslocaram e formaram um círculo menor afastado de Grover. A única que ficara de fora havia sido Escrofulária, mas Samambaia se ergueu e gesticulou para que ela se juntasse às outras. A dríade o fez prontamente. As ninfas falavam baixíssimo, mas ainda assim Grover conseguiu captar algumas palavras em meio ao murmúrio.

— Escola...

— Deuses...

— Monte Greylock...

— ...ajuda!

— Segredo...

— Senhor Zeus...

— Missão...

— Você está certa.

As dríades saíram da formação e voltaram ao círculo original. Estranhamente, todas queriam focar em qualquer outra coisa que não fosse aquela conversa. Escrofulária admirava a beleza do céu. Sam não parava de mexer nas franjas do vestido. Lírio assobiava uma melodia que só podia ser inventada, porque soava como algo de outro mundo. Viburno e Tramazeira, por outro lado, faziam questão de não tirar seus olhos de Grover, analisando cada mínimo movimento que ele fazia.

— Grover, querido – começou Viburno. – Você precisa entender que não pode repetir, jamais, para nenhum dos seus amigos, o que estamos prestes a lhe contar agora.

— Precisa jurar pelo Rio Estige. – completou Tramazeira. - Estamos fazendo isso porque queremos ajudar em sua missão de preservar a natureza. E você, eventualmente, vai trombar com esse fato vez ou outra. Estava surpresa que ainda não tinha acontecido, na verdade. E você precisará saber disso para ajudar Esco... Escro... Esco... Lária. Para ajudar Lária, ou qualquer outra dríade que esteja perdida.

— Você precisa jurar, querido – insistiu Viburno.

— Mas, mas... – balbuciou Grover, procurando ganhar tempo. – Se era algo entre vocês e os deuses, não juraram pelo Rio Estige também?

— Na verdade, não – riu Tramazeira. – Sabíamos que alguém como você apareceria e precisaria ter conhecimento de tudo também. Então não foi preciso jurar nada, mantemos as dríades daqui de bico calado sob a ameaça de serem doadas para a escola.

— Escola?

— Você vai entender – o sorriso dela se alargou ainda mais.

Grover crispou os lábios. Havia um segredo importante em jogo, algo que provavelmente também afetaria os semideuses. Mas como ele iria proteger os seus amigos de qualquer perigo se ele não podia sequer avisá-los?
No entanto, Grover deu uma segunda olhada em Escrofulária e mudou de ideia. Ninguém que representava uma ameaça iminente cultivaria plantas medicinais num monte histórico de Massachussets.

— Tudo bem. – ele escolheu com cuidado suas próximas palavras, com medo de se condenar ainda mais. – Eu juro pelo Rio Estige que não contarei este segredo para nenhum semideus. Nem mesmo meus amigos.

Pareceu suficiente. Tramazeira se virou para a colega, Viburno assentiu e começou a falar.

Quando ela terminou, metade da última enchilada de Grover ainda estava na sua mão. Ele não conseguira dar nem mais uma mordida. O sol já se punha. Algumas dríades dormiam. A esfera de vidro da torre às suas costas se acendera e um feixe de luz iluminou o rosto sonolento das ninfas ao seu redor. A qualquer momento, alguém de Bascom Lodge desceria para uma ronda noturna, mas nenhum dos espíritos da natureza se importou – aquilo era trabalho da Névoa. De qualquer forma, ser expulso do morro por um zelador cansado nunca pareceu tão desimportante.

— Você entende, agora, porque estávamos tão nervosas quando você chegou? – alguém indagou, mas os pensamentos do sátiro estavam longe demais para que ele conseguisse distinguir se era Viburno ou Tramazeira. Ele assentiu roboticamente.

Naquele dia, Grover Underwood estava muito surpreso.

****

IRRAAAAAAAA!

Fogo no parquinho, minha gente! Grover sabe de algo que ninguém mais sabe! Será o grande segredo do Monte Greylock o que todos nós estamos pensando? Mas se for, será que Grover será amaldiçoado por quebrar sua promessa em nome do Rio Estige? E se, no final das contas,  ele não abriu o bico e estamos todos na pista errada? Teorias, teorias, teorias...

Essas e outras perguntas serão respondidas no arco 1 de ad astra per aspera. E vocês me ajudariam bastante me dizendo o que acharam deste prólogo! Lhe deram perguntas? Lhe deram respostas? Você se sentiu estimulade a criar teorias? Será que não foi muito longo e muito devagar até chegar ao ponto, ou a construção deixou tudo mais interessante? Grover estava fora do personagem? A escrita poderia ser melhor? Queria também pedir desculpas por demorar a postar, eu tive um momento que simplesmente travei e não consegui escrever de jeito nenhum. Mas eis a att, e em breve vocês terão um presentinho por terem esperado!

Com amor, 

Ana Bia 💗

ad astra per aspera • pjo x hpOnde histórias criam vida. Descubra agora