Elijah Mackenzie
Ele jogou o casaco sobre a mesa da cozinha, sem nem me olhar no rosto. Eu bufei e me limitei a uma simples e rápida olhada em sua direção. Não me atrevi a olhar em sua direção, nem sequer me mexi. Talvez pelo clima pesado que predominou ali, ou então pelo o medo de quebrar minha promessa. De qualquer forma, meu esforço não adiantou muito, ele tocou o meu ombro com certa rispidez, forçando-me a encarar seu rosto que tinha se tornado nojento para mim, há muito tempo.
- Arrumei um emprego. Na oficina da cidade. - Disse com um sorriso orgulhoso. Levou a garrafa de cerveja até os lábios finos e depois de engolir o líquido, pouco antes de voltar a se dirigir a palavra a mim. - Mas não se preocupe, eu vou te dar um trocadinho, pra ajudar com os pirralhos, sabe? - Eu olhei bem no fundo dos seus olhos, um pouco incrédulo, mas me segurando ao máximo para não transparecer.
Fechei os pulsos, apertando minhas unhas na palma de minhas mãos o mais forte que consegui. Ele estava agindo como se estivesse fazendo um favor a mim. Cuidar dos próprios filhos é uma obrigação dele, obrigação essa que passou a ser minha depois que ele mesmo se recusou a exerce-la, e começou a se afogar em bebidas. E eu estava pronto para jogar tais verdades na cara dele. "Que se dane a promessa", eu pensei. No entanto, sua expressão sorridente era uma novidade para mim, uma dose de sarcasmo e duas de uma felicidade que eu consideraria ser quase que pura, se minha experiência com ele não me alertasse do contrário.
Não iria durar, era evidentemente. Poderia apostar todo o meu dinheiro que no primeiro dia ele chegaria bêbado, ou então com uma ressaca enorme e logo depois da primeira ordem do seu novo chefe, pediria demissão. Uma situação que não aconteceu nem uma, ou duas vezes, mas milhares, e que talvez continuaria a se repetir outra boa dúzia de vezes. Entretanto, olhando por outro lado, um lado mais otimista, seria bom se ele parasse em algum emprego, talvez eu pudesse comprar tênis novos para os meninos, ou então algumas roupas, eles estavam precisando muito de ambos. Ele não daria muito, já que usaria boa parte do salário que eu imaginava ser pequeno, para comprar cerveja e jogar sua vida fora, mas seria uma boa ajuda. Ajuda que eu posso me arrepender de aceitar mais tarde, no entanto, não era para mim e sim para os filhos dele; os mais novos, que ele ainda se importava um pouquinho.
- Okay! - Disse simplista, sem mais palavras ou ações, apenas me virei para continuar com meu dever de matemática, esperando não ser interrompido novamente.
- Não vai agradecer? - Sua voz era em um tom tão sarcástico, que eu aposto que a pessoa mais calma e ponderada do mundo, se sentiria extremamente ofendida e irritada.
E aquela vontade que eu tinha de soca-lo, aquela que me atormentava uma boa quantidade de vezes ao dia, voltou com tudo na minhas cabeça. Eu mordi minhas bochechas, e apertei o lápis tão fundo no caderno, que este chegou a quebrar. Eu só precisei pensar nos meus irmãos para anular quase que completamente essa vontade, se eu o irritasse, talvez mudasse de idéia, e eu não podia fazer isso com eles, ambos mereciam o dinheiro que Tom estava disposto a dar.
- Obrigado. - Respondi em um sussurro e da forma mais educada que poderia em tal situação.
Ouvi uma risada divertida e passos, que foram se tornando cada vez mais inaudíveis conforme ele se afastava de mim.
Agradeci aos céus e qualquer deus que pudesse estar me ouvindo ali, a força que precisei para não dizer algo a mais, algo que pudesse causar alguma briga, talvez desnecessária. E aproveitei o clima de agradecimento, para pedir ajuda com aquele dever dos infernos, porque uma coisa tão difícil assim só poderia ter sido feita por Lúcifer, ou então uma espécie de demônio bem perigoso.
Então, reunindo todo o conhecimento que eu tinha sobre matemática e cálculos, voltei a escrever e tentar resolver aquela espécie de enigma. Levei mais ou menos 2 duas horas e meia para acabar tudo, e finalmente me levantei para ir para o meu quarto, tentar dormir um pouco, pelo menos, já que a insônia não me permitiria as boas horas de descanso que precisava.
E foi no caminho para a cama que ouvi, algumas risadinhas. Obviamente estranhei já que em alguns minutos atrás eu havia deixado Alex e Kevin dormindo em suas camas, como os dois anjinhos que eles não eram. Resolvi então abrir a porta, bem devagar para que não percebessem a minha presença, e me deparei com a cena mais fofa que eu já tinha visto até o momento, ambos sentados na cama de Kevin debaixo das cobertas, com uma lanterna ligada, brincando de fazer animais. Pensei em ir até lá, falar para ambos irem dormir, mas não era tão tarde e eu sabia que logo mais o sono atingiria ambos, então apenas fechei a porta com cuidado e continuei o meu curto caminho até o quarto.
A cama rangeu com o meu peso, algo que acontece sempre, uma vez que não troco de colchão a uns oito ou nove anos, mais ou menos. Não demorou muito para os meus pensamentos irem até a Dalila. O que será que ela estava fazendo? Será que já estava dormindo? Resolvendo sanar todas as dúvidas que pareciam surgir rapidamente e de maneira numerosa, levei minha mão até a mesa de cabeceira e mandei uma mensagem para ela, ou quase, já que na metade da escrita minha mente me sabotou e fiquei com medo de estar fazendo a coisa errada. Quer dizer, será que ela iria se aborrecer comigo? Ou então o que eu escrevi poderia não ser a coisa certa a se dizer no momento, de qualquer forma, eu estava tendo um mini surto de inseguranças que não sabia de onde veio.
O que diabos estava acontecendo comigo? Eu nunca fiquei com medo ou até mesmo nervoso ao enviar mensagem para uma garota. E quando eu digo nunca, é nunca mesmo, nem sequer uma vez. Pensando nisso, apreensivo, resolvi devolver o celular para a mesa. Não, não era uma boa ideia, de jeito nenhum. Fiquei ali, como um cachorrinho carente, olhando para o teto, quando recebi uma notificação. Me apressei para pegar novamente o celular, talvez assim que poderia me distrair.
- Que merda... - Foi inevitável para mim não deixar sair aquele palavrão bobo quando olhei para a tela e vi ali uma mensagem da própria Dalila.
Era uma mensagem boba, muito-muito boba, que qualquer pessoa não daria muita atenção, mas eu abri um sorriso grande com isso. "Fez a lição de casa, senhor Mackenzie?", uma simples pergunta como essa e olha o meu estado. Isso era perigoso, muito perigoso.
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ortográficos e de digitação.
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A Garota dos Meus Sonhos
Romance🔹 Em andamento. (19/O2/2O22) Odiava a forma como o seu corpo ficava desproporcional, mas acima de tudo odiava não ter lugar para pegar. Se aquilo era padrão de beleza, ele simplesmente jogaria tudo no lixo de onde não devia ter saí...