Capítulo 1

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O meu primeiro sucesso internacional se deu com a publicação do meu primeiro livro numa rede social, muito mais rápido do que eu imaginava, e em um mês o site tinha recorde de visualização.  Concomitantemente dois outros livros foram publicados nos meses seguintes, devido ao sucesso estrondoso, até que a proposta de uma editora chegou em meu e-mail. Lembro de como eu ri até chorar e de reler diversas vezes para não cair em um golpe. A internet é uma local ligeiramente traiçoeiro, apesar da potencialidade de conectar pessoas ao redor e auxiliar o cotidiano em centenas de funções incríveis, mas todo cuidado é pouco.  


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Felizmente, não era golpe! Soube disso quando a representante da editora viajou até minha cidade e me convidou para uma reunião numa livraria renomada do principal shopping no centro. Eu já tinha boas lembranças daquele lugar, mas a partir desse dia, eu o considerei como "O lugar onde meus sonhos foram ganhando força". 

Eu estava bastante tensa quando sentei na poltrona acolchoada ao lado de uma das alas da estante de livros. Um local estratégico bem em frente a escadaria de entrada da livraria, quem quer que viesse, tinha que passar por ali para adentrar. Chequei o telefone por algumas vezes, verificando que tinha chegado meia hora adianta do horário combinado. Tempo o suficiente para repassar todas as informações que tive pelo e-mail trocado com a editora e orar para não ser um golpe dos grandes. Tudo que eu sabia era que a editora chefe se chamava Ísis, representando a Editora Pitaya e que tinha voado praticamente 6 horas até a minha cidade para me conhecer devido ao interesse nos meus livros publicados na internet. 

Mesmo que eu já houvesse vasculhado a internet (com o pingo de conhecimento que eu tinha no google) em busca de informações sobre a renomada editora Pitaya, não bastava para mim ver o site esplendoroso e o selo no final dos e-mails que eu recebi. Eu ainda queria uma prova que aquilo era real. As horas foram passando e eu estava mergulhada em pensamentos quando notei uma figura feminina destoando na escada, subindo com tanta elegância e quando chegou no topo levantou a alça da mala, enquanto virava a cabeça para os lados procurando alguém. Permaneci estática na poltrona, pensando "Será que é ela?". A mulher da pele cor de caramelo e cabelo preto curto, parou um funcionário para pedir informações, e logo foi levada para a ala com cafeteria enquanto arrastava uma mala prata. Minutos depois eu recebi uma mensagem: "Estou aguardando você na cafeteria da livraria. Até logo!". Então tive a certeza de que Isís era a mulher que eu tinha visto subir. Fiquei alguns momentos observando se não era um esquema de sequestro, e então tomei coragem e segui para encontrar a editora chefe que me recebeu com um sorriso enorme dizendo "É um prazer conhece-la." 

A reunião rendeu várias risadas e descontraiu bastante o clima tenso ao qual eu estava imersa ao me deslocar até ali. Tirei minhas infinitas dúvidas com a Ísis, ouvi sua história de vida, seu processo profissional, as expectativas da editora e a proposta. Nesse dia, eu perguntei a ela o porque de ter escolhido a minha história para publicar, bebi o cappuccino que tínhamos pedido enquanto aguardava uma resposta. A tela do meu telefone ligou por um instante com novas notificações, mas pude ver quando ela sorriu para mim e disse: "Eu já estive no seu lugar e eu sei o que é acreditar nos sonhos." E eu sorri de volta sabendo que era mesmo o caminho que eu deveria seguir. 

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Consigo recordar perfeitamente em como toda a minha família vibrou com a noticia de que um livro de minha autoria seria publicado com um prazo de um ano. Sendo iniciante no ramo das editoras, o valor que me fora proposto inicialmente era bom, seria de boa ajuda nas contas de casa. Mas quando outras editoras entraram em contato comigo, fazendo suas propostas e seguintes contrapropostas, vi o valor proposto aumentar expressivamente. Isso era uma briga de quem ficaria com os direitos do meu livro?! Era!

Foi ótimo ver o prestígio e o valor aumentando, mas segui meu coração e aceitei trabalhar com a empresa que mais me passou confiança, autonomia e recebi de bônus a participação na porcentagem do lucro na venda dos livros.  Além de ter todos os meus direitos autorais garantidos por lei, mesmo em contrato com a editora Borboleta Azul. Tive a grande oportunidade pude participar da estratégia de marketing, edição e opinar em tudo que me era possível, e o resulto de sucesso do lançamento foi inimaginável. Superou as expectativas dos empresários, investidores e da própria editora que se lançou na busca por traduções e lançamentos em outros países. 

Com isso veio as viagens internacionais, as feiras, as tardes de autografo e os fãs. E sem duvidas, a pressão em busca da publicação de novos livros começou a apertar. Reescrevi todos os livros disponibilizados nas minhas plataformas digitais, comecei a fazer as ilustrações e trabalhar com os desenhistas. O sucesso chegou ao Estados Unidos, quando ficou pela terceira semana como Best-Seller e aclamado livro brasileiro de ficção fantasia e romance. 

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A minha vida foi revirada em 360° graus com esse sucesso que me trouxe assessoria completa por 24 horas por dia, secretária, contato pleno com a editora e noites escrevendo no notebook, que  prosseguiram até que comecei a aparecer nos eventos trajando as roupas dos personagens. O publico foi a loucura de maneira positiva. E os livros iam se tornando cada vez maiores do que eu já pudesse ter imaginado.  Graças a renda fixa que adquiri com o livro, com o contrato com a editora e ainda detendo os direitos autorais, minha família pagou todas as dívidas. Era o caminhar de uma estrada bela e feliz (e cansativa, as vezes)

Parte dos bônus crescentes com as vendas estratosféricas ia para uma poupança voltada para: fundos de investimento em agricultura familiar orgânica do sertão brasileiro, pequenas produtoras negras de vestimentas, bolsas de estudos para jovens da minha cidade com  baixa renda, população ribeirinha em vulnerabilidade social, ações de produção de arte e cultura, centros holísticos e espiritualizados, ações pró +lgbtq, ações incentivando mães solteiras negras aos estudos, bancar saraus de poesia e música. Outra parcela para a caridade visando a busca pela educação alimentar de crianças carentes e outra eu investia em mim mesma. Tive oportunidade de fazer cursos de idiomas para não precisar de tradutor, apesar de ter uma assessora [vulgo, secretária, tradutora e amiga nas horas vagas] e um grupo de seguranças particulares disfarçados. E além disso pude conhecer muitos lugares, pessoas influentes e assim divulgar o meu trabalho.

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O estopim para o inicio da produção de filmes começou na bienal de SP quando um jovem perguntou diretamente a mim durante a entrevista, se ir nos eventos com os trajes dos meus personagens significava uma adaptação para as telas de cinema. Eu ri, disse que seria uma ótima ideia e que pensaria a respeito. Sete dias depois recebi a ligação da Walt Disney e em seguida da Universal Studios para possível produção do filme adaptado do meu livro. Eu lembro bem que ri tanto quanto na época da publicação do livro. A editora fez charme por três dias, para driblar as propostas até que fossem suficientemente boas como: continuar com os direitos autorais, adaptações compatíveis com o livro e participação na porcentagem da bilheteria do filmes. Quando a assessoria desligou o telefone e me encaminhou um e-mail dizendo para arrumar as malas pois iriamos para a Flórida tratar dos termos, eu só sabia dar risada de felicidade.


Como se [e queriam] me incentivar a vender meu livro para uma adaptação, a Walt Disney disponibilizou um dia inteiro para explorar e me encantar com o parque da Florida. Claramente para me fazer fechar contrato, que eu não estava muito certa ainda. Lembro em como me diverti imensamente com a pulseira de acesso livre em todos os brinquedos, na companhia de Amber (minha secretária pessoal) e em como fui muito bem recebida em todas as lojas e das lembranças que ganhei. (SIM, ganhei presentes das lojas). Talvez seja pela presença do coordenador da WD durante todo o percurso, nos orientando de vez em sempre ou por algumas pessoas me pararem durante o passeio para tirar fotos. Conseguimos uma folga dele ao irmos almoçar, e nos escondemos nos parques de Harry Potter, passeamos com as princesas e ele só nos encontrou quando a chuva de fogos começou a noite. "Aqui é onde os sonhos se tornam realidade". Essa foi a frase que eu senti no ar ao redor dos meus ouvidos psíquicos, quando tirei uma foto do castelo brilhando sob a luz dos artifícios e enviei para a minha mãe. 

Felizmente, não demoramos muito no jantar, subimos direto para o quarto e adormeci ao som do teclado de Amber lendo o contrato. Amanhã seria um longo dia. 

Ame quanto puderOnde histórias criam vida. Descubra agora