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oi gente alguém ainda lê esta? DESCULPA MIL VEZES por demorar tanto a att, tava cheia de coisa na cabeça etc. mas VOLTEI com o casal 20 e seus embalos de adolescência!

boa leitura 🍃

[2013]

O relógio mal batia as sete da manhã quando Jungkook estava debaixo de um ponto de ônibus. Tudo era cinza, o frio da madrugada ainda não havia se esvaído e a inversão térmica fazia seu trabalho - o cheiro de fumaça se fez presente num respirar fundo que, de certa forma, gritava perigo. Mas era acolhedor.

Era acolhedor porque ninguém parava para olhar. Se parassem, o que pensariam? No momento, ali, não importa; não há para onde correr, de qualquer jeito. O cinza continuou presente enquanto ele entrava no ônibus, já cansado do dia que mal havia começado, brincando com a pulseira singela de couro que Namjoon havia comprado para si - e guardava como o maior tesouro do mundo.

Os professores ainda eram acizentados quando o explicavam sobre a Guerra Fria, os "bom dia" eram secos, trocados sem muito pensamento, e até mesmo sua mesa parecia fria. O lanche do colégio parecia sem gosto quando Namjoon sentou à sua frente.

Num drama ambientado nos gloriosos anos 60, onde era tudo cinza e mórbido, as cores pareciam vir como num passe de mágica, no entanto, se permitiu suspirar ao não se livrar dos tons de cinza e sorrir fraco. Os lábios secos arderam pela falta de hábito, o fazendo estancar pequenas saídas de sangue com a ponta dos dedos. Tudo doía um pouco, para falar a verdade, mas a monotonia unida ao caos não parecia tão ruim quando olhava nos olhos do adolescente à sua frente - talvez a maior fonte de luz que já encontrara na vida.

Inclinou a cabeça, ajeitando os jeokkarak e ainda rindo de uma história sobre a última batalha de Namjoon. Ele contava como quase apanhou por xingar a mãe de um cara famoso por lá.

"Vou te mandar a real, ninguém gosta de mim lá." Fez uma pausa dramática, encarando o além. "Já ouvi até uns marmanjos dizendo que iam descobrir onde eu moro. Uns cara' com idade pra ser meu pai!" A fala arrancou uma risada gostosa de Namjoon, mas deixou Jungkook pálido.

Ele realmente era o caos. Seus olhos gritavam uma revolução ainda desconhecida, ansiavam por desordem, e, de um jeito estranho, traziam conforto. Uma raiva estranhamente boa, direcionada ao ruim e que o fazia alguém extremamente inquieto. Inquieto, de um jeito bom, ainda estranhamente. Sua energia contagiava qualquer pessoa ao redor.

Jungkook era a calmaria, não o bom sentido. Era uma rua silenciosa na madrugada, com demônios na espreita caso você se aproximasse demais. Era a cozinha à noite, que vira e mexe apresenta um estalo da geladeira digno de calafrios. Não era confortável, para falar a verdade. Mas, Namjoon era o caos, luzes e fogos de artifício - e isso assustava qualquer demônio.

Funcionavam, de um jeito estranho - toda luz precisa de escuro - e se equilibravam, juntos, na corda bamba da adolescência. Tudo era sentido demais e fazia sentido de menos.

Mas tudo parecia certo quando Namjoon propôs, naquele último dia de aula, que voltassem à pista de skate que precedeu um dos piores dias da vida de Jungkook. Pra falar a verdade, o mais novo nem pensou nisso ao olhar nos olhos brilhantes do outro.

Fazia sentido estar, poucas horas depois, escolhendo o melhor tipo de biscoito e olhando Namjoon escolher as bebidas alcoólicas mais baratas da loja de conveniência. Tinha acabado de arranjar uma identidade falsa, seria um desperdício não comprar ao menos uma garrafa de vodka com qualidade duvidosa.

E assim foi feito. Se espremeram num ônibus, com a mochila de Namjoon fazendo barulhos de vidro desagradáveis, em silêncio. Fazia calor demais pra falar.

Chegando ao ponto mais perto da pista, fazia sentido enfrentar o sol e andar um pouco. Não havia outro jeito de ter paz senão fugindo dos olhos da cidade - e fugir normalmente envolvia caminhadas monstruosas, que não incomodavam nenhuma das partes.

Se sentaram no cimento quente e o único barulho que se fazia presente era o da latinha de Namjoon abrindo. Jungkook aceitou, meio desajeitado, um gole da cerveja barata e quase quente.

Não poupou caretas ao sentir o líquido esquisito descer pela garganta e atingir o estômago. Tossiu algumas vezes, ainda tentando espantar o gosto amargo e aguado e arrancando risadas escandalosas de Namjoon.

"Isso! É! Uma! Merda!" Falou entre tosses e risadas, vendo um Kim quase roxo de rir a seu lado.

"Deixa de ser fresco, cara!" Foi assertivo em pegar a lata bruscamente das mãos delicadas e colocar três goles longos pra dentro. No entanto, não conteve a careta típica causada por bebidas baratas. "É... tá' uma merda mesmo."

Jungkook ria entre gritos triunfantes e cheios de humor enquanto Namjoon descia da pista para jogar a cerveja fora. Provou, ainda naquele dia, também o ardor do soju, a dor no estômago da vodka e ousou cheirar um energético. Não chegou a beber significativamente, mas a falta de hábito fez seus olhos pesarem. O sol já caía preguiçosamente quando ele se aninhou nos braços do mais velho. Fazia menos calor, e o toque não era incômodo.

"Sabe..." Começou, quase confuso. Passou os dedos curiosos pelas veias do antebraço do outro. "Acho que você é a única pessoa que me entende de verdade no mundo."

A frase simples fez o coração de Namjoon ir ao pé. Há semanas, queria trazer o assunto à tona, mas, como o adolescente que é, não teve maturidade para isso. Não teve, naquele momento, maturidade para olhar nos olhos do garoto ao dizer aquilo da pior forma possível, sem que o álcool ajudasse.

"Eu vou sentir tanto sua falta."

E, como uma flecha, a lembrança veio. Era julho, Namjoon iria embora em pouco tempo. Jungkook saiu dos braços dele, colocando as mãos debaixo das coxas como quem espera uma queda de avião. Tentou sorrir, conquistando mais uma careta, encolheu os ombros em defesa e engoliu dois ou três nós na garganta antes de responder.

"É... Eu também."

"Mas ainda tempos tempo.

"É... Temos."

A conversa de períodos simples e sem o brilho usual do Jeon Jungkook que conhecia o cortou mais ainda. Não sabia lidar com emoções, e o outro menos ainda. Tinha feito merda, pisado na bola, cagado no pau. Tentou animá-lo, que até correspondeu, mas com um olhar apagado.

Para onde haviam ido suas estrelas?

!YOUNGBLOOD¡ - jungkook's diaryOnde histórias criam vida. Descubra agora