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⚠️logo depois do aviso de gatilho (tw), haverá uma cena de abuso parental. por favor, pule se isso te fizer desconfortável.

boa leitura! 🍃🍃

[2013]

Namjoon e Jungkook continuaram na mesma rotina. Quando um estava triste, o outro o levava pra passear, e já até haviam se encontrado fora da escola. Nesse dia, especificamente, foram à uma pista de skate meio isolada, usada como mural de grafite pela maioria dos jovens da região. Lá, havia desde pintos perturbadores de tão realistas até verdadeiras obras de arte.

Jungkook estava nervoso, balançando os pés do alto da pista. Não estava habituado com esse tipo de atividade, e ainda se sentia desconfortável com a quantidade de jovens desconhecidos bebendo e fumando. Seu amigo estava cumprimentando seus conhecidos - quase todos os presentes - e vira e mexe apontava para o mais novo, que acenava timidamente.

Suspirou pesado. Sabia no que estava se metendo se aproximando de Namjoon, e sabia que, se já não estivesse, logo estaria totalmente caído por ele. Ele que o chamou uma vez para tentar entender sua introversão, ouviu suas músicas sem dar uma única risada, e nunca o deixava ficar triste com muito tempo. Ele, cuja própria presença era capaz de dar energia a qualquer um.

Desde que descobriu - e aceitou - a possibilidade de gostar de um homem, tem pesquisado no tumblr Como Beijar Bem, religiosamente. Claro que não confessaria isso nem a seu diário, mas já havia testado o método do gelo, o da laranja e o do sorvete. Ele jamais poderia ser pego desprevenido! Suas mãos e almofadas diriam o mesmo.

Mas, agora, havia sido pego desprevenido por um Namjoon que sussurrou "Boo!" por suas costas, fazendo Jungkook quase cair da pista. A quase queda fez o mais velho derrubar as duas latas que carregava para segurar o braço do outro, mais pálido que qualquer membro de banda usando Corpse Paint.

"Puta merda, Jungkook! Tu quer me matar do coração?" Ele estava tão ofegante e pálido quanto o outro, e contemplava triste as latinhas que derrubou. "Tava conversando com aquela gente pra conseguir bebida de graça. Consegui até uma coca pra você." Formou um biquinho quase fofo "Porque imaginei q tu não bebia e tal."

É claro que Jungkook não trabalhava sua imagem pra esse lado careta. Se fosse qualquer outra pessoa, sairia de lá brigando e chorando - mais consigo do que com qualquer outra pessoa. Mas, por algum motivo, não se incomodou. Apenas disse "É, não bebo mesmo, não. Minha mãe me mata se descobrir.", rindo da própria situação.

"Tá certo, tu é muito jovem ainda" Namjoon disse, como um ancião. "Mas quando a idade começa a pesar... Você precisa de um pouco de álcool para não perder o réu primário, tá ligado? Às vezes até outras substâncias". A fala dramática arrancou risadas dos dois, já que o Kim só tinha dezessete anos. Não sabia muito mais da vida do que seu amigo.

Ficaram o resto da noite assim, rindo um do outro. Um deles havia ficado mais aéreo pelo álcool, e o outro entorpecido apenas por estar na presença do primeiro. Era sempre assim, etéreo. Parecia uma viagem a outro mundo, o mundo deles. Uma bolha onde tudo parecia mais leve e colorido; onde eles eram capazes de fazer tudo.

Mas bolhas estouram facilmente, e, antes que percebessem, já passava de uma da manhã. O medo que Jungkook sentiu ao olhar o relógio foi dez vezes maior do que o de cair daquela pista. Namjoon não demorou a ler o ar, mesmo alcoolizado, e se ofereceu para ajudá-lo. Chamou um táxi e tentava acalmar o garoto que chorava e tirava a maquiagem com força demais. Bom, aquilo escalou rápido.

"Você vai arrancar seu olho assim." Falou firme, mas longe de estar brigando com o outro. Pegou o lencinho da mão dele, que tinha os olhos duplamente vermelhos - pelo choro e pela tentativa de remover a maquiagem - "Assim parece que tu fumou maconha, também."

Dedicou toda a sua atenção ao rosto delicado em sua frente, primeiro o secando com um guardanapo que achou dentro de sua mochila, depois usando os lencinhos de bunda de neném de Jungkook. Tocou seu queixo delicadamente para que ele levantasse a cabeça, e reparou o quão lindo o menino era. Mesmo a aparência abatida, o rosto inchado do choro e o lápis de olho borrado não abalavam nada ali.

Encarou por alguns, provavelmente, minutos, mas que pareceram milésimos. Passou pelos olhos grandes, o nariz bonito e se deteve um pouco nos lábios. Lábios vermelhos, que sangravam um pouco. Jungkook tinha o hábito de mordê-los. Como nunca havia visto aquilo tudo antes? Agora ele queria morder aqueles lábios em seu lugar.

Percebeu que se perdeu e limpou a garganta, sorrindo amarelo. Naquele momento, já estava mais sóbrio do que nunca. Bastante coisa havia acontecido nos últimos dez minutos, de fato. Começou a limpar os olhos do mais novo, sendo interrompido logo depois.

"O táxi... Tá ali, ó. Confirma a placa pra mim por favor." Nunca havia ouvido sua voz tão fraca e distante. Namjoon sentiu, mais do que nunca, vontade de protegê-lo. Que tipo de coisa o faria tão desesperado? "Obrigado por me chamar... e tal. Obrigado por chamar o uber também. Juro que te pago depois." Ele não estava normal. Não podia deixá-lo sozinho.

"Pera aí, eu vou contigo!" Kim gritou, desesperado. O outro negou até demais, com os olhos arregalados, o mandando voltar. "Por favor... Juro que não saio do carro." Um motorista já impaciente e as mãos juntas de Namjoon o fizeram ceder, dando espaço no banco.

[tw! não prossiga se o assunto abordado te fizer desconfortável]

Já livre da maquiagem, Jungkook respirava fundo pela quinta vez seguida frente à própria porta. Ainda sentia o aperto que Namjoon deu em sua mão formigar, o que o trazia um pouco de conforto, que não duraria muito.

Respirou uma sexta vez, tirando os sapatos e abrindo a porta do jeito mais silencioso que conseguiu. Olhou ao redor aliviado, encontrando tudo escuro, seguindo direto para o seu quarto sem ao menos olhar ao redor. Já com os olhos semicerrados, ia se jogar na cama. Ia, se não tivesse sido por um empurrão forte demais, o derrubando com tudo no chão. A luz se acendeu, revelando a figura medonha de sua mãe. No momento, era quase eufemismo chamá-la assim.

"Posso saber onde você estava até essa hora?" Jungkook, que ja tremia, começou a chorar com a voz da mulher. Não gritava, mas sabia como impor sua voz bem até demais. O humilhava, o olhando de cima e fazendo questão de pousar um dos pés sobre sua perna. Uma verdadeira cena de vilãs da Disney.

Descontente com a falta de resposta, o puxou pela gola da camisa gritando algo desconexo, e o desferindo um tapa. Dali, tudo se tornou borrado. Já não respirava direito, todo seu corpo doía mais, mais e mais. Viu a mulher revirar sua mochila, encontrando seus acessórios e maquiagens, os jogando em seu rosto. Algumas coisas ali eram pontiagudas. Mais dor. Já se via incapaz de esboçar reações, proferir ou entender palavras. Mas entendeu muito bem a última coisa que sua mãe disse.

"Você está morto pra mim. Viadinho nojento."

!YOUNGBLOOD¡ - jungkook's diaryOnde histórias criam vida. Descubra agora