[01] Nothing to lose

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Mais um soco.

Outro.

Sangue jovem espirrando da minha boca, nunca senti mais livre e vivo. Mesmo chegando aos 30 eu me sinto jovem, enquanto os homens da minha idade estão casados com empregos entediantes e casados com mulheres cuidando dos filhos em casa, eu estou numa briga entre gangues que de longe se via os barulhos audíveis dos socos trocados, o gosto de sangue fresco entre os dentes e caras cheios de machucados. Mas quem disse que não gostamos? Adoramos isso.

Mais um chute.

Mas agora eu estou com o braço quebrado, ótimo.

Precisávamos de adrenalina, somente isso nos mantém vivo. A vida é assim igual aos socos, porém nunca estamos preparados para recebê-los, e esses doem muito mais. Doem na alma. Eu estava no chão quando as sirenes da polícia local soou em meus ouvidos, não me importava ser preso, mais uma vez. Eu não tinha nada a perder, nenhum de nós.

Na verdade eu estava sorrindo contra o asfalto duro e sujo no qual estava sendo segurado e sendo algemado. Nada a perder.


|🚬|


Já fazia pouco tempo em que nos prenderam e por causa do meu braço e corpo machucado me levaram para tratar os ferimentos no hospital da cidade. Meu traseiro está doendo de tanto esperar nesse banco duro, mas sabia que tinha gente piores do eu para serem atendidas e eu realmente deveria ser mais paciente.

Entanto, no momento em que estava reclamando como sempre uma voz suave ressoou em meus ouvidos chamando em um volume alto o meu nome.

ー Senhor Jeon Jungkook? ー o dono da voz estava parado olhando uma prancheta que continha folhas, ele de longe era um rapaz mais lindo que eu já vi sua madeixas cor chocolate e lisinha caída numa franja que quase tampava sua testa. Eu me levantei do banco desconfortável e mancando fui em direção ao homem que era um tanto baixo. ー Briga de rua não é? ー ele perguntou sarcasticamente antes de levar seus olhos aos meus.

 Ah! Que orbes brilhantes é essa? Era da cor generalizada do castanho, mas havia diferença ali, era como se eu estivesse em um poço fundo de pura doçura, ou melhor dizendo de puro chocolate. Eu amo chocolate.

ー Sim. E o que posso fazer é meu estilo de vida, doçura. ー murmurei sendo somente ele capaz de ouvir. O belo rapaz parecia até um pouco nervoso. Quero saber seu nome. ー Me diga seu nome, sim?

O outro pigarrou e desviou o olhar. Ótimo! Ele fica nervoso em minha presença.

ー Seria melhor o senhor entrar, senhor Jeon. ー falou calmamente mas a única que ouvi é meu nome saindo pela boca carnuda e brilhante. Ele se virou para mim e não é possível. E aquela bunda? Quem tem características digasse de passagem marcante assim é rapazes especiais*. Será que... não, não irei tomar conclusões precipitadas.

Andei mais alguns passos e entrei no cômodo cheio de agulhas e remédios. Me sentei na maca que havia ali, me pus a observar o anjo achocolatado em minha frente.

ー Você sente dor em mais algum lugar com exceção do braço quebrado? ー perguntou se virando para onde eu estava trazendo uma caixa cheia de coisas de curativos e tal?

ー Sim, no meu coração... Você não me disse seu nome. ー Comentei provocativo.

O enfermeiro bufou e me olhou.

ー Park Jimin, satisfeito? ー retrucou começando a limpar meu rosto que provavelmente deve estar cheio de aberturas dos socos que levei. E ardia.

ー Ficaria mais se te levasse para cama. ー disse e o Park começou a apertar meu ferimento de propósito. ー Ai! Porra! ー praguejei.

ー Fique quieto e não doerá.

Esse cara não sabe que é brincadeira? Bom, pelo menos ele não me deu um soco quando falei coisas gays. Qualquer outro homem já teria feito. Quanto mais falo com ele, mais desconfiado fico.

ー Fique aí vou pegar algo na ala ao lado. ー disse deixando o algodão molhado de medicamento na maca.

Aproveitei que ele saiu e peguei com meu braço bom um maço de cigarro em meu bolso. Estava um pouco amassado mas ainda daria para acender, peguei o isqueiro, coloquei o cigarro em minha boca e quando fui acender uma mão pequena e macia me impediu.

ー Sem fumar no hospital, senhor Jeon! 


*Rapazes especiais, coloquei para se referir a homens trans, beleza? Fica muito mais fácil de explicar já que a fic é ambientada na Coreia do Sul nos anos 90. Imagine o preconceito que tinha?  Enfim... não vou entrar em muitos detalhes. 

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