Cap. 3

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Quando acordo novamente estou sozinha no quarto. Não sei que horas são bem por quanto tempo dormi mas a dor já não é tão forte. Há uma bandeja de comida em cima da estante: arroz, feijão, frango à milanesa é um copo de suco de laranja. Confiro a temperatura e ela está gelada. Provavelmente dormi por tempo demais mas não estou com fome.
Vou ao banheiro para conferir o hematoma em meu pescoço. Ainda está feio mas com certeza melhor do que a última vez em que o vi.
Ouço vozes no corredor e me assusto. Viro-me rápido e esbarro na saboneteira de porcelana que ficava em cima da pia. O barulho é estrondoso e ela se parte em duas partes. Me abaixo para recolher os cacos e quando me levanto a porta é aberta. Um garoto com cabelos loiros, olhos claros e feições alarmadas abre a porta e olha de mim, para os cacos em minhas mãos.
- Desculpa, eu derrubei sem querer - me explico para Felipe. Ele realmente parece preocupado.
- Não tem problema. - diz ele tomando os restos da saboneteira da minha mão e jogando os cacos no lixo. Ele desliza para trás de mim e encara meu pescoço.
- Como está a dor?
- Melhor. - eu respondo. Um pouco rígida pela proximidade. Pode me chamar de careta mas não me entenda mal, nem mesmo Ivan ficava tão próximo de mim desse jeito, e por incrível que pareça, ele parece não notar que me deixa constrangida. Ou se nota não comenta.
Ele abaixa meu cabelo e sai do banheiro. Eu o sigo e sento na cama. Ele olha para o prato de comida e pergunta:
- Não está com fome?
- Não.
- Ok. Vou pedir para esquentarem sua comida e quando quiser comer é só pedir. - ele me fala mas eu estou com outras coisas na cabeça do que comida.
- Por que estou aqui? - ele finge não me ouvir e continua
- Bata três vezes naquela porta e um segurança irá te atender e...
- Por que estou aqui? - repito a pergunta dessa vez mais alto.
- Eu não tenho permissão para lhe revelar isso, princesa. - ele fala a última palavra como se comido alguma coisa cujo o gosto não lhe agradou.
- Então quem pode me dizer? - pergunto me segurando para não gritar.
- Eu... - ele tenta dizer mas eu já disparei em direção à porta cujo ele havia deixado entreaberta sem querer.
Infelizmente ele consegue me alcançar antes que eu consiga sair. Me debato e me contorço na tentativa de me soltar, mas ele me segura firme em seus braços. Eu grito e esperneio como um criança e quase me solto. Mas suas mãos escorregam para a minha cintura e ele me ergue do chão como se eu tivesse o peso de um gato.
- Me solta! Você está me machucando! - eu falo apesar dele não estar me machucando.
- Para com isso! Você não vai conseguir nada esperneando que nem uma garota mimada!
- Me solta! Eu quero sair! - eu começo a chorar por causa da agonia que me dá a impotência.
Ele não consegue se mexer muito porque eu estou me debatendo muito mas não é como se estivesse fazendo muito efeito...
- O que está acontecendo aqui? - pergunta a mulher que me sequestrou. Eu não tinha percebido que ela havia entrado no quarto.
- Eu quero sair! Me soltem por favor! Eu pago o quanto vocês quiserem mas eu quero ir pra casa!
- Ah, você vai pagar sim, mas dinheiro irá ser só um dos pagamentos por tudo que você é sua família me fizeram!
- Eu nunca fiz nada pra você. - eu digo me acalmando um pouco.
- Você não me conhece mas eu te conheço.
Amoleço um pouco um corpo. Felipe que esteve me segurando até agora se aproveita da minha distração e me joga na cama. Bato a cabeça na parede mas tento ignorar a dor causticante que invade o meu corpo quando a pancada atinge o ponto machucado na minha nuca. Rapidamente me levanto mas não tento fugir, quero entender o que aquela mulher está falando.
- Como assim me conhece? Ah, claro, eu sou da família real mas...
- Não quis dizer que te conheço apenas por fotos de revistas ou artigos publicados sobre você. Eu TE conheço.
- Mas como... - começo a perguntar mas ela me interrompe.
- Isso não importa agora. Você não vai sair, não enquanto eu não cumprir meu objetivo. - dizendo isso ela vira para o garoto e diz:
- Pode ir descansar, vou mandar um segurança ficar de olho nela. - ela me olha de cima a baixo como se eu fosse a coisa mais asquerosa e nojenta que ela já viu na vida. Que objetivo? O que ela quer? Penso nisso por um instante, mas o barulho da porta se abrindo me liberta dos meus pensamentos e, sem pensar duas vezes, avanço em direção à mulher e a puxo pelos cabelos. Ela cambaleia e se vira. Me aproveito da sua confusão para socar-lhe o estômago. Ela solta algo entre um grunhido e um chingamento mas não perco muito tempo tentando entender. Contorno o Felipe e disparo em direção ao portão de saída. Está escuro lá fora portanto não sei muito bem aonde estou indo mas sigo em frente, quanto mais longe estiver dali, melhor. Demora mais ou menos dois segundos até os seguranças entenderem o que está acontecendo e começam a correr atrás de mim. Há uma praça mais adiante mas só percebo a presença dela quando não dá mais para contornar. Subo em cima de um banco com um pulo e desço com outro. Contorno os brinquedos e saio em outra rua. Dou graças a Deus que a praça estava vazia.
Corro até meus pulmões começarem a queimar. Olho para trás e percebo que estou à uma distância razoável dos seguranças. Olho em volta e percebo uma loja aberta em meio à penumbra e entro para tentar despistá-los. Quando já estou dentro da loja, escondida atrás de uma prateleira, os vejo correr na direção em que eu estava, tentando me encontrar em meio à escuridão. Depois tudo fica silencioso. Permaneço mais um tempo dentro da loja, para me certificar de que não vem mais ninguém. Vou em direção à saída e olho para os dois lados da rua. Nada. Saio e começo a andar em direção à uma rua transversal que há em frente à loja. Sorrio para mim mesma, mal acreditando que consegui. Agora, a única pergunta é: o que irei fazer agora?

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Leia o com comentário do capítulo, é importante.

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