Cap. 2

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No sonho, estou em um campo verde perto de casa. É estranho, primeiro porque tenho certeza de que estava nevando quando saí. Segundo porque nunca havia visto aquele campo antes. Outra coisa estranha é que estou deitada com a cabeça no colo da minha mãe, e tenho certeza que ela morreu quando eu era pequena. Conversamos enquanto vemos Emily brincar em meio às árvores. Fecho os olhos por um instante e então minha mãe começa a me mandar acordar. Fico um pouco confusa porque ela sabe que não estou dormindo. De repente, a voz da minha mãe muda de timbre e percebo que aquela voz não pertence à ela.
Abro os olhos e não estou mais no campo, e sim, em um quarto com paredes claras, mas não brancas. Há apenas uma estante, uma televisão pequena, uma cama, um sofá, é uma geladeira. Estou na cama e uma mulher de olhos claros - acho que são verdes, ou azuis, não dá pra ter certeza - é quem está me mandando acordar, tenho que piscar algumas vezes para focar a visão , que está meio turva por conta da pancada.
A pancada. Nesse momento uma dor lancinante invade a minha cabeça na parte da nuca, quando começo a me mexer, ela invade todo o meu corpo causando um imenso desconforto, automaticamente levo a mão à cabeça e solto um grunhido. A mulher abre um sorriso, como se gostasse de me ver sentir dor. Começo a me lembrar do que aconteceu e sinto medo. Várias perguntas invadem a minha cabeça: o que será que eles querem comigo? Por que me raptaram?
- Onde estou? - a pergunta saí direta e seca.
- Isso eu não posso te dizer, ou não faria sentido te apagar para você não saber onde está - diz a mulher.
- O que você quer comigo?
- Irá descobrir - elas se vira e então percebo que não respondeu à nenhuma das minhas perguntas.
- Certifique- se que ela não farão nada... De errado - comanda ela a um garoto que não havia percebido que estava para ao lado da porta, do lado de dentro do quarto. Ele parece jovem, aparenta ter mais ou menos a minha idade. É loiro e pálido, alto e robusto. É bonito. Assim que a mulher termina de passar algumas instruções que não escutei, ela vai embora, me deixando sozinha com o garoto. Me movo a fim de me levantar, mas ele corre até mim e coloca uma mão em meu ombro e a outra na minha barriga, me impedindo de levantar. Deito-me de novo e o encaro:
- Vou pedir para trazerem outra roupa para você . Enquanto isso, fique deitada.
Assim que ele atravessa a porta eu me levanto e vou até uma porta na parede direita que imagino ser um banheiro. Estou certa. Ele é branco e bem limpo, parece que foi usado poucas vezes, quem dirá nenhuma, parece que foi construído com um único propósito: minha chegada. Estremeço ao pensar isso, será que essas pessoas já planejavam me sequestrar à dias? Meses? Afasto o pensamento e analiso o banheiro. Há uma pia de porcelana embutida em uma pedra de mármore, que serve de teto para um armário de madeira, logo abaixo da pia, acima dela há um espelho. No fundo do banheiro se encontra um voz de blindex comprido e estreito, entre ele e a pia há um vaso branco. Levanto meus cabelos para ver como está minha nuca. Levo um susto quando descubro que no local, há um enorme inchaço, que vai do fim dos meus cabelos até o fim do meu pescoço. É de uma cor roxa esverdeada e tem o tamanho de um abacate. Analisou-o por alguns instantes, antes de ser surpreendida pelo garoto, que entra no banheiro sem a menor cerimônia. Ele carrega uma muda de roupa, é uma expressão de reprovação:
- Disse para você ficar deitada. Levou uma pancada muito forte, poderia ter desmaiado. - ele me entrega a muda de roupa - se troque. E é o que eu faço. Minutos depois saio do banheiro vestindo uma calça legume cinza e uma blusa de manga comprida pretas. Ganhei também um casaco de moletom cor de rosa clarinho. Ele está sentado no sofás e levanta assim que eu saio. Me sinto desconfortável porque a calça é um pouco apertada demais, mas ele parece não notar.
Ele caminha até a geladeira e tira uma bandeja de gelo de lá. Despeja o conteúdo dentro de um saco plástico que está em cima da estante e pega um pano dentro da gaveta.
- Sente-se - diz ele apontando para a cama. Eu me sento e ele se senta ao meu lado e então viro de costas. Ele levanta o meu cabelo sem encostar na minha nuca e repousa o pano no lugar do ematoma e depois coloca o saco de gelo sobre o pano. Meu corpo enrijece com a dor e tento cerrar os dentes para não gritar. A dor vem em pequenas pontadas que parecem que vão me quebrar se eu me mechar do jeito errado. Estou tensa. Perceptivelmente tensa. Mas ele não fala nada, nem eu.
À medida que o gelo vai adormecendo minha nuca, vou relaxando e a dor não fica mais tão forte. Depois de mais ou menos vinte minutos, ele retira o saco da minha cabeça e o carrega até o banheiro. Tenho vontade de perguntar se ele é enfermeiro ou coisa do tipo mas não pergunto, ele volta.
- Acho melhor você dormir um pouco, para isso aí sarar mais rápido. À propósito, meu nome é Felipe.

Sem VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora